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Foto de Valter
Vinagre |
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Sobre o Surrealismo |
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José Rodrigues, poeta |
Em duas ocasiões surgiu-me a oportunidade de
privar com José Rodrigues (coincidentes com as exposições de parte da
sua obra no Centro Cultural de Cascais) e coube-me a sorte de ter sido
tocado pela varinha mágica do Mestre. Autor dos desenhos de capa de dois
romances meus, interveio nesse assunto o então Administrador-Delegado do
Centro, Salvato Teles de Menezes, com assento cativo no rol de amigos do
peito do famoso escultor-pintor. JR não só criou os desenhos para as
capas dos romances Maldito entre
as Mulheres e O Deserto
Habitado (2ª edição) como me ofereceu os originais que conservo no
meu escritório caseiro cuidadosamente emoldurados e são constante
lembrança da generosidade de alguém que muito fez pelos outros, mas
também daquele que, a seu modo, foi um verdadeiro poeta. O veio lírico
manifestava-se no traço do desenho com a particularidade de os rostos
femininos – todos tão semelhantes – denunciarem uma homenagem contínua
do artista à sua musa. Tê-lo por autor de dois “poemas” pictóricos em
livros meus foi, sem dúvida, um privilégio, que me cumpre sublinhar,
agora que um pouco por toda a parte se sucedem as evocações e homenagens
em sua memória. No que me respeita, como disse, ele está sempre por
perto.
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Surrealismo incertae sedis
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Num pequeno volume, com o título acima, de Maria
Estela Guedes, constante da colecção que ela própria dirige na
Apenas Livros (cadeRnos
suRRealistas sempRe) encontrei um depoimento que corrobora a impressão
que me ficara da existência de funda afinidade do desenho de José
Rodrigues com a arte lírica, sabendo-se como o cruzamento das duas
formas de expressão é vulgar (e tratando-se de surrealistas é mesmo um
postulado) o que não significa que todos consigam num mesmo território
estético que o que pintam seja poesia. Estou a pensar num pintor e poeta
como Emerenciano que se move em dois universos com leis próprias, ainda
que a palavra sirva de ponto de encontro das duas modalidades a que se
votou. (No grosso da sua pintura a vénia à palavra escrita é de uma
irrepreensível visibilidade). Sou de opinião que não obstante a
qualidade da poesia e da pintura de Emerenciano, de alto nível, há nele
obediência a pressupostos formais e semânticos distintos. Mas vejamos o
que nos é dito do pintor-poeta Nicolau Saião por Maria Estela Guedes no
seu caderno: “O artista exprime-se ora como pintor ora como escritor,
por vezes faz acompanhar o texto por ilustrações mas o aspeto que
interessa salientar e sobre qual vou deter-me é o do pintor-poeta, o
artista que escreve diretamente sobre o quadro.” E mais adiante: “Existe
nele o duplo entendimento de que a pintura é poesia desenhada e que o
poema é um objecto visual.” Uma
oportuna análise de MEG que merece ser lida sobre a polivalência do
escritor-pintor Francisco Garção, para os íntimos, e Nicolau Saião, para
o público em geral, “que tem sentido na pele, ao longo dos anos, a
resposta do sistema à turbulência da sua sátira.” Até
aqui me trouxe o traço poético de José Rodrigues.
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Ainda os surrealistas |
Já que estou às voltas com o caderno de Maria
Estela Guedes sobre os surrealistas portugueses importa referir que a
escritora inclui várias pessoas fisicamente desaparecidas que enquanto
viveram influenciaram fortemente o panorama
cultural português. Neste quadro, os sobreviventes são António
Cândido Franco (director da Revista
A Ideia), José Emílio-Nelson,
Luís Filipe Coelho e o já mencionado Nicolau Saião. Manuel de Castro,
Herberto Helder, Luiz Pacheco, João César Monteiro e Mário Cesariny de
Vasconcelos, são os “históricos” cujas contribuições para o “movimento”
começam a ser estudadas em perspectiva, não obstante a ausência de
outras referências de topo neste conjunto de ensaios. Mas enfim elas
aparecerão numa colecção que
vai seguramente expandir-se a par de
A Ideia, bastião surrealista
que António Cândido Franco (pessoa
que nos últimos anos mais manancial surrealista tem compilado e
divulgado) está a dirigir com grande entusiasmo. Do caderno há a
referir como dado principal a descoberta do poeta Manuel de Castro,
falecido em 1971 com 36 anos, segundo MEG “um dos mais importantes
poetas do movimento surrealista português” e
autor dos
livros Paralelo W e
Estrela Rutilante que segundo
a sua opinião há que “correr a procurá-los”.
In
nº192 de As Artes entre as Letras, Porto
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Júlio Conrado. Ficcionista, ensaísta, poeta . Olhão, 26.11.1936 . Publicou o primeiro livro de ficção em 1963 e o primeiro ensaio na imprensa de âmbito nacional em 1965 (Diário de Lisboa). Exerceu a crítica literária em vários jornais diários de referência e em jornais e revistas especializados como Colóquio Letras, Jornal de Letras e Vida Mundial. Participação em colóquios e congressos internacionais. Participação como jurado nos principais prémios literários portugueses. Membro da Associação Portuguesa de Escritores, Associação Internacional dos Críticos Literários, Associação Portuguesa dos Críticos Literários e Pen Clube Português. A sua obra ensaística, ficcional e poética está reunida numa vintena de livros. Alguns livros e ensaios foram traduzidos em francês, alemão, húngaro e inglês.
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