Judite Maria Zamith Cruz

A PERSPECTIVA ARQUETÍPICA DA MENTE
O inconsciente colectivo de Carl Gustav Jung (Index)

2.5. O caso da mulher bíblica assassina: Salomé

No caso de Salomé e de João Baptista, ela pode ter sido feita na sombra para o arrasar. Relata-se, em seguida, certas facetas da sua vida atribulada.

O drama de Salomé passou-se na Judeia na época do Rei Herodes, «o Grande» (1), sendo invariavelmente muito cruel e mesquinho. Teve dois filhos, Herodes Filipe e Herodes Ântipas.

Na circunstância imponderável, Salomé era uma bonita judia, filha de Herodes Filipe e de Herodíade, sobrinha de Herodes Filipe. Herodíade também foi malévola, ainda que Salomé se tenha revelado uma jovem defeituosa, feroz e intratável. Salomé participou em um horrível crime.

O que se passou exactamente foi que Salomé pediu a cabeça de João Baptista a Herodes, levando-a numa enorme bandeja à corte, na Galileia. O horror é assumido ao ver-se uma taça em que a cabeça é mostrada logo após a decapitação.

Este acto foi elucidado por Bernardino Luini (2) na obra denominada O Algoz Mostra a Cabeça de João Baptista a Herodes.

Em pormenor, colocou Salomé sem olhar a cabeça na taça, por presumido choque ou relutância, apesar da sua expressão ambígua.

Mas qual foi a razão para tamanho ódio ao «Precursor» do Messias? A sua mãe é que a induziu a pedir ao tio (Herodes Ântipas) a cabeça de João Baptista. O tio gostava de a ver dançar e fazia-lhe todas as vontades. Ela era encantadora e graciosa, mas não merecia uma prenda humana dissecada – João Baptista.

Constava-se por todo o lado que o pobre infeliz costumava exprobrar (3) os escândalos reais. Continuadamente, ele lançava ao rosto de Herodíade os seus erros, crimes ou «defeitos». Insultava-a, injuriava-a e ultrajava-a, um dia e outro dia. Quando João Baptista não a criticava com veemência, ia a ponto de a vituperar.De facto, ele até tinha censurado a sua união com Ântipas, seu tio consanguíneo. Anteriormente, Herodíade fora mulher de Herodes Filipe, irmão de Ântipas.

Salomé pode ser considerada uma sombra arquetípica, como outras figuras fantásticas salientadas adiante. No entanto, essa conotação foi reservada ao maligno.

Na perspectiva desta narração, o homem nem sempre manifestará sentimentalismo face à mulher, ainda que chegue a idealizá-la como uma princesa fechada na torre mais alta de um castelo encantado, situado em Países Nórdicos.

Notas

(1) Lello Universal: Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro (1976, Volume I, p. 1213). De acordo com essa fonte, Herodes - «o Grande» - terá morrido no ano em que nasceu Cristo. A informação associada à tragédia da morte de João Baptista segue esse dado.

(2) The Art Book (1994, trad. port. 1997, p. 290).

(3) O termo exprobrar significa lançar ao rosto de alguém os seus erros, crimes ou defeitos. O conceito aplica-se para acentuar tanto uma censura feita com veemência, como o acto de vituperar, insultar, injuriar ou ultrajar.

Judite Maria Zamith Cruz é doutorada em Psicologia pela Universidade do Minho, onde lecciona cursos de licenciatura e mestrado dedicados ao estudo do desenvolvimento humano e do auto-conhecimento do profissional de educação, desde 1996, é membro de instituições nacionais e internacionais dedicadas ao estudo e investigação da sobredotação, talento e criatividade e, em 1997, integrou equipa internacional e interdisciplinar, coordenada pela Professora Doutora Ana Luísa Janeira, nos domínios de ciência, tecnologia e sociedade - «Natureza, cultura e memória: Projectos transatlânticos». Colabora, desde 2000, no Instituto de Estudos da Criança, em projectos centrados na educação matemática; depois, na área da língua portuguesa e artes plásticas, como membro do Centro de Investigação «Literacia e Bem-Estar da Criança» (LIBEC) da Universidade do Minho .

Entre Janeiro e Julho de1982 foi professora de psicologia e de pedagogia em Escola de Formação de Professores do Ensino Básico de Torres Novas. De Junho a Setembro de 1982, assumiu o lugar de Assistente Estagiária na Universidade de Lisboa – Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, de que se afastou para desempenhar funções de psicóloga clínica em cooperativa dedicada a crianças e jovens deficientes motores e mentais, em Lisboa – CRINABEL (1982-1985). De 1985 a 1988 foi professora do Ensino Secundário, em Braga, leccionando a disciplina de psicologia na Escola D. Maria II. De novo ocupou funções de psicóloga clínica em associação dedicada à educação de crianças e jovens deficientes auditivos (APECDA-Braga), entre 1988 e 1992. Em 1987, realizou trabalho como psicóloga no Hospital Distrital de Barcelos, de que se afastou em 1990 para efectuar curso de mestrado. Em 1992 ocupou o ligar de Assistente de metodologia de investigação, na Universidade do Minho, em Braga, onde é professora auxiliar.