Se preciso fosse, ao Mundo, apresentar o meu País
Eu diria a beleza, a doçura e a graça
Das suas manhãs melodiosas, e das suas tardes gloriosas
Eu diria o seu céu límpido, eu diria o seu ar doce
A disposição harmoniosa dos montes azulados;
As suaves ondulações das suas colinas próximas
A cintilante esmeralda dos canaviais ao sol
As cascatas deslizando entre pedras grossas:
Diáfanas cabeleiras entre dedos nodosos
E os sóis mergulhando em mares de turquesa..
Diria quais tochas vermelhas erguidas ao firmamento,
A beleza fulgurante das buganvílias ardentes
E este azul, e este verde, tão dourado, tão límpido
Que queríamos nos braços apertar a paisagem.
Diria o lenço azul da mulher
Descendo a vereda com o cesto à cabeça
O ondulante balancear das suas robustas ancas
E a melopeia grave dos homens no campo,
E à noite o ranger do moinho sob a lua ,
Os fogos na montanha a meio caminho do céu;
O café que se colhe nos cumes altaneiros
O inebriante aroma das goiabas maduras...
Diria nas cidades, os torsos nus e bronzeados
Daqueles que, na rua sob um sol escaldante,
Não se deixam intimidar pelo mais pesado fardo;
E os remadores trazendo para o abrigo dos portos,
Quando cai a tarde, os barcos dançantes
Enquanto as ilhas ao largo, indolentes,
Deixam subir em fumo, ao fundo do crepúsculo
A lenta súplica dos fumeiros longínquos...
Mas afino a minha voz com um ardor mais aguerrido
Para dizer a valentia daqueles que o forjaram
Eu diria a lição que ao mundo assombrado
Deram aqueles de que se cria serem apenas escravos submissos.
Diria a altivez, diria o áspero orgulho,
Presentes que nos nossos berços achámos depostos
E o obstinado amor que trazemos em nós
Por uma liberdade três vezes sangrenta...
E a efervescência viva subindo nas nossas artérias
Quando ao fundo dos nossos bosques ouvimos à noite
O cónico tambor que os nossos remotos antepassados
Trouxeram até nós das margens da África
Mãe para a qual sem cessar voltamos os olhares...
Se preciso fosse, ao mundo, apresentar o meu País
Eu diria mais, eu diria talvez menos ainda.
Eu diria o teu bom coração, ó povo da nossa terra. |