I
Hoje, sonhei que a deusa de branco essa figura
sinistra, que me persegue carregada de versos singulares
ironicamente os pendurou na árvore madura
no centro da aldeia onde as mulheres dormitam.
As palavras gritaram alto iluminadas
e eu, desesperada abri o peito de par em par e a
esmeralda vermelha que
sempre me pertencera deixei-a fugir.
II
Aflito lavou o rosto manchado
dos sonhos
e a água turvou
terrivelmente fétida dentro da bacia redonda.
IDADE
I
O holofote direccionado o restauro dourado a cor
banal
e bem rente à pele
bem camuflado um baço resquício do original
II
O bulício da rua as cortinas cerradas a
intimidade
pousada sobre a cama
ao lado, o espelho refletida a figura intrusa
olhar fixo no seio descaído na prega sinuosa
a perversão da imagem
o filme acabado de estrear
autobiográfico.
III
Voaram os pássaros
murcharam as rosas e nós, assumidamente, envelhecemos meu amor.
De cada hora traçámos na pele, uma marca indelével
que a memória aviva
mas é nos teus cabelos, nevados e raros que a
minha mão descobre a eternidade.
Helena Figueiredo
|