HELENA FIGUEIREDO...
Evidências e outros poemas

EVIDÊNCIAS 

Hoje, que nada nos chama,

as horas

 pendem vagarosas no espelho,

 e o corpo

 espanta-se,

nos fatos desabotoados,

na curvatura das costas,

naquela ruga que apareceu num dia mau.

Crescemos numa aparência sem nexo,

e atordoados,

 procuramos as flores,

a confusão das cadeiras,

os brinquedos que viviam no corredor.

Precisa de óleo a dobradiça do armário,

e os joelhos,

 gritam a idade

esquecida de virar no calendário. 

 

DECRETO

que exista uma só linha 
entre as saudades

que nunca mais ao gritar 
recebas no rosto
a vergastada do vento

que se alongue até ao infinito
o calor dos abraços

e que o reencontro aconteça
antes que mergulhes
no silêncio das cidades
 

 

DO CANSAÇO 

Era o primeiro sábado da paixão,

avivado no calendário

com tinta fluorescente.

Os corpos,

apanhados num motim ,

esqueceram a luz ténue e avermelhada,

e as feromonas

jazem no fosso escavado entre os sonos,

enquanto nas estantes,

a sinergia de dois polos opostos,

desaba como cacos, de uma esfinge secular. 

 

COLAGEM

Das lembranças fizera uma trouxa

atirada fora num sábado de manhã.


Depois, 
mergulhou a alma em espuma, 
para que escorresse 
qualquer resquício, do cheiro das rosas.

Reconheceu-se inteiro no espelho, 

mas na pele do peito, 
erguia-se agora a marca indelével,
da fugaz eternidade em que lhe pertencera.

 
 
Helena Figueiredo nasceu em 9 de Março de 1959, numa pequena aldeia do concelho de Carregal do Sal, distrito de Viseu. É licenciada em Educação de Infância, e desde os 21 anos que trabalha com crianças entre os 3 e os 6 anos. Entre 2003 e 2006 prestou assessoria ao Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal.

http://noreinodacriatividade.blogspot.com/
helena_lopes_m@hotmail.com

Entrada no TriploV: Abril de 2008