Fim de tarde. Sentou-se a descansar como se fosse sábado. Um café e uma espreitadela ao escaparate das revistas. Reparou num título a vermelho: “ Novas formas de vida”. Sempre a curiosidade, o desejo de novidades. Comprou a revista e procurou o artigo. No meio da página a fotografia de um simples anel de ouro branco. O texto em volta referia as opções de vida de um grupo, classe média alta, grande poder de compra, gosto refinado. Simbiose perfeita de espelhos e narcisos, onde os objectos eram símbolos de prazer pessoal, dispensando a ostentação exterior. Apontava o exemplo do anel, aparência de jóia vulgar, mas cravejado de brilhantes na face interior, indecifrável!
Estranho! Usar um anel com diamantes ocultos - pensou.
Na rua o frenesim das compras. Conversas cruzadas no ar. Salários, desejos, presentes de Natal, palavras soltas rematadas num molho, onde a crise, em forma de laço, apertava as gargantas.
Um menino gesticulava junto à montra de brinquedos e um homem de meia-idade, repetia o olhar no último grito da tecnologia, indeciso entre o telemóvel e aquela máquina de café expresso, publicitada vezes sem conta, entre as novelas de horário nobre. Seria a preferida da mulher, e tema de conversa entre amigas, num duelo feroz, em que a aparência acabaria como grande vencedora.
A sociedade de consumo revestida a ouro falso, pedras cintilantes ou outros ornamentos de fachada, nunca a seduziu. Muito menos o seu brilho quase provocatório, nas mãos, nas vidas de muitos.
Era sua convicção, que as maiores jóias estão quase sempre escondidas, por debaixo do anel.
Helena Figueiredo |
Helena Figueiredo nasceu em 9 de Março de 1959, numa pequena aldeia do concelho de Carregal do Sal, distrito de Viseu. É licenciada em Educação de Infância, e desde os 21 anos que trabalha com crianças entre os 3 e os 6 anos. Entre 2003 e 2006 prestou assessoria ao Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal.
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