O universo do jornalismo cultural no nosso país é
eminentemente feito para nichos, ou elites culturais, e têm sofrido
grandes retrocessos nos últimos anos. Num país onde os índices de consumo
cultural são muito baixos, o seu futuro afigura-se muito negativo.
Será que a crise e o natural corte de bens de
consumo secundários, como os culturais, explicam tudo, ou o problema será,
como alguns dos especialistas e governantes apontam, a existência de
lacunas na educação e da falta de uma estratégia cultural e da pouca
importância dada à Cultura pela generalidade da classe política?
O jornalismo cultural
é quem mais ordena
O panorama do jornalismo cultural mudou muito nos
últimos anos, depois do aparecimento de uma série de programas e de
publicações no pós-25 de Abril, quer em termos de qualidade, quer também
em quantidade e influência, parecendo na fragmentada escolha do nosso
quotidiano, muito distantes os dias áureos do Cartaz, suplemento do jornal
Expresso, dos suplementos do jornal Independente (Tentações e Indígena,
por exemplo), da mítica revista K, de Miguel Esteves Cardoso, do Semanário
Se7e (e do seu suplemento cultural Roteiro), da revista Magazine Artes, do
programa “Acontece”, de Carlos Pinto Coelho, do “Câmara Clara”, de Paula
Moura Pinheiro, ambos na RTP 2, do “Cartaz das Artes”, na TVI, assim como
os muitos programas sobre cinema, literatura e música nas principais
emissoras de rádio (“O Som da Frente”, de António Sérgio, na Rádio
Comercial, “Cinco Minutos de Jazz”, de José Duarte, na Antena 1, entre
outros).
A televisão generalista, devido à explosão da TV
Cabo e à possibilidade de cada vez mais se poder aceder de outros modos
aos produtos culturais que se pretendem, dedica cada vez menos tempo à
cultura e, por consequência, ao jornalismo cultural, sendo o papel de
mediadores e “conselheiros” de cultura deixados para programas “light”,
não privilegiando a discussão, entrevista e debate (embora muitos deles
tenham qualidade), como o “5 para a Meia Noite” e a “Janela Indiscreta”,
de Mário Augusto, na RTP 1, o “Agora” e o “Bairro Alto”, ambos da RTP 2, o
“Cartaz”, na SIC Notícias, o “Autores”, na TVI, e para as sessões
relâmpago onde os comentadores como Marcelo Rebelo de Sousa aconselham
livros e produtos culturais aos espetadores, como uma Oprah Winfrey “mais
rápida que a própria sombra”.
Em termos de revistas sobre literatura, cinema ou
música, o desaparecimento de nomes como a Première e a Total Film
(revistas de cinema de referência no estrangeiro, a cujo fim não será
alheio o desinteresse dos espetadores portugueses pelas salas de cinema e
a pirataria online); a ainda existência de um Blitz “abastardado” e
comercialmente descaraterizado, ou de revistas reconhecidamente de
qualidade mas com vendas muito pequenas, como a revista Ler, do Círculo de
Leitores e a Meus Livros, não disfarçam a progressiva subalternização
deste tipo de jornalismo para o meio online (noutra vertente, temos
revistas como a Visão e a Sábado,
newsmagazines que dedicam muito espaço à cultura, assim como a Time
Out (Lisboa e Porto), mas que estão mais centradas nos autores e no cartaz
cultural e não tanto numa reflexão e crítica sobre a produção cultural).
A cultura não vende
Para Nuno Catarino, jornalista do Público na área
do jazz, e conceituado crítico de música online (colaborador do site
“Bodyspace”, da revista online “Jazz.pt”, e autor do blog “A Forma do
Jazz”, o primeiro deste género musical em Portugal), a evolução do
jornalismo cultural em Portugal tem estado a par com as mudanças
verificadas no mundo inteiro, devido ao surgimento e evolução da internet.
“A adaptação da imprensa ao formato online” alterou
“os tipos de conteúdos” e os suplementos habituais de fim-de-semana
deixaram de “ter a relevância que tinham anteriormente”, com essa mesma
informação agora “disponível online, através de blogs, webzines e sites
especializados”. No entanto, considera que apesar da “conjuntura económica
e de um contínuo desinvestimento na cultura”, ainda subsistem “bons
exemplos nacionais, quer offline quer online”, em termos de jornalismo
cultural.
Victor Afonso,
licenciado em Educação Musical, músico (com o alter ego de Kubik) e
compositor de várias bandas sonoras para cinema mudo, teatro, bailado,
performance e poesia, jornalista sobre temáticas culturais (nomeadamente
cinema, música e literatura), para publicações como o Blitz, e
revistas/fanzines como a Mondo Bizarro, sendo ainda programador e
orientador cultural com vasta experiência, considera que o estado do
jornalismo cultural português na televisão e na rádio “é deveras
deplorável. A formatação impera e o nivelamento por baixo”, também. Se em
relação à televisão e ao serviço público em geral Victor Afonso não
encontra atenuantes, já em relação à rádio considera que “há alguns bons
jornalistas com boa formação cultural, mas nem sempre têm o espaço
radiofónico necessário para desenvolverem o seu trabalho”. Em termos do
online, vê o panorama “muito fragmentário, mas há bons exemplos de sites e
portais com qualidade com conteúdo cultural”.
Clara Caldeira,
colaboradora do programa “Câmara Clara”, da RTP 2, de 2010 até ao seu fim
em 2012, e atual doutoranda em Estudos de Cultura, na Universidade
Católica, e ainda investigadora júnior do Centro de Estudos de Comunicação
e Cultura da mesma universidade, pensa que o “primeiro problema é a
escassez do jornalismo cultural em Portugal e a redução a que tem sido
sujeito nos últimos anos. Há pouco espaço nos jornais, na rádio há um ou
outro programa, e na televisão idem”. Quanto à imprensa generalista,
considera que “o pouco espaço existente é ocupado por divulgação e
crítica, sendo esta última um fator fundamental, mas que dada a escassez
de espaço, requer uma avaliação mais exigente”. Conclui, com algum
pessimismo, que “é um cenário pobre, em que falta diversidade, acossado
pelo lado comercial dos média, e pela ideia de que «a cultura não vende»”,
embora ressalve que pensa que os jornalistas culturais em Portugal, sendo
muito poucos, “têm consistência a nível de formação e que o trabalho
realizado é de uma qualidade muito aceitável”.
Para Cláudia Arsénio, jornalista da TSF,
especialista na área da Cultura (“Cinemania”, com o crítico João Lopes, as
noites dos Óscares, retrospetivas dos Festivais de Berlim, Cannes,
Veneza), atualmente o “estado do jornalismo cultural é frágil. Numa altura
em que as redacções estão cada vez mais vazias e se aposta cada vez menos
em áreas “alternativas”, quando há cada vez menos memória nessas redacções
e tudo é feito a partir das agências de notícias, a verdade é que a
Cultura perdeu lugar”. Na rádio onde trabalha desde 2005, “a Cultura é
vista como um extra, algo que tanto pode estar presente para abrilhantar
um noticiário, como é perfeitamente dispensável em caso de necessidade”.
As elites fazem
avançar a sociedade
Em termos do universo cultural jornalístico das
ondas hertzianas, a Antena 1 ainda mantém um apreciável nível de programas
culturais (“Cinemax”, “Crónicas da Idade Mídia”, “Outras Histórias da
Música”, “Se as Canções Falassem”, etc), ao contrário da TSF
(destacando-se os espaços diários para “O Livro do Dia” e a “Fila J”), e
ainda a Antena 2, um caso único de qualidade e profissionalismo em
Portugal (destacando Clara Caldeira o programa “A Força das Coisas”, ao
sábado, de “entrevistas e conversas, com lugar a crítica, opinião e
expressão individual”).
A Antena 2 é precisamente uma estação que se
destina a um público reduzido, ou elitista, uma das questões mais
interessantes do jornalismo cultural hoje em dia: o ser especializado cada
vez mais para nichos culturais fiéis, ou o tentar subsistir num mundo onde
os média estão fragmentados e difusos, apelando ao maior nível possível de
pessoas e tornando-se logo mais comercial e com menos qualidade, apenas
mais um “produto” neste mar revolto da chamada Cultura de Massas?
Este dilema percebe-se melhor nos jornais diários
portugueses, onde a cultura têm um papel quase negligenciado em relação a
uns anos atrás, e onde o que está na moda e está nas bocas do mundo se
torna em “cultura” e em destaque.
As exceções são o Ípsilon, do Público (que fundiu
os suplementos Y, Mil Folhas e Fugas), e no caso dos semanários e
quinzenários, o suplemento Atual, do Expresso e do JL - Jornal de Letras e
Ideias (que mantém o mesmo estilo de conteúdo e grafismo há já muitos
anos, podendo-se dizer, como Victor Afonso, que a sua função de informar
um público alvo fiel, “não é colmatada por mais nenhum outro jornal mais
generalista”), exemplos que podem no entanto ser considerados cada vez
mais elitistas e “obscuros”, fazendo ainda mais notadas as ausências de
suplementos culturais mais generalistas, como o DNA, do Diário de
Notícias, ou os já referidos suplementos do jornal Independente.
Mas fará ainda sentido hoje em dia falar de níveis
de cultura, com o atual alcance dos média, as novas tecnologias e um mundo
globalizado?
Se pensarmos que a Cultura de Massas, tão criticada
pelos filósofos da escola de Frankfurt nos anos 50 e 60 (entre os quais se
destacou Theodore Adorno, que se referiu depreciativamente à economia de
mercado e ao previsível fim da dicotomia entre cultura superior e cultura
popular), tende a confundir-se hoje em dia com a Cultura Popular,
constata-se que as intersecções e os efeitos mútuos entre ambas são
inúmeros.
Victor Afonso recorda que esta distinção era “clara
e marcante no tempo do Estado Novo, no qual havia uma notória política
educativa e cultural para incentivar essa clivagem. Num mundo aberto e
globalizado, não faz sentido compartimentar a cultura dessa forma. Já a
elite sempre existiu e continuará a existir”. Mas o problema é “que as
elites têm, muitas vezes, conotação pejorativa e conotada com uma certa
sobranceria social”. O músico, Programador do Teatro Municipal da Guarda e
coordenador do seu Serviço Educativo, conclui dizendo que “a história
prova que são as elites que, muitas vezes, fazem avançar e desenvolver uma
sociedade”.
Nuno Catarino, crítico musical numa área muitas
vezes apontada como elitista, a do jazz, pensa que a “partir do momento em
que a internet permite o acesso direto a qualquer informação, por parte de
qualquer pessoa, algumas fronteiras e rótulos deixaram de fazer sentido”.
Para o jornalista, que embora escreva sobre artistas de craveira mundial e
de várias nacionalidades, continua a privilegiar as entrevistas, os
concertos e o contato pessoal e social com os artistas sobre os quais
escreve, “os públicos continuam a existir, embora agora mais fragmentados,
imprevisíveis e miscigenados”.
Cláudia Arsénio lembra que “o alcance dos média é
vasto e a oferta é muito maior do que há alguns anos”, pensando que não
faz muito sentido falar em Alta e Baixa Cultura: “o facto é que há
públicos diferentes que gostam e consomem tipos de cultura diferentes”,
não lhe parecendo certo dar-lhes conotações qualitativas. “Pode soar
politicamente correcto, mas considero apenas que são diferentes, e isso é
positivo”, remata.
É importante chegar
ao maior número de pessoas
Clara Caldeira, para quem a experiência no programa
“Câmara Clara” foi um “trabalho muito estimulante”, que a “colocou em
contacto com pessoas (artistas e autores) muito marcantes”, tem
consciência de que esse “público era obviamente minoritário, mas
consistente e fiel”, crendo que se trataria “de um público já
relativamente culto e interessado”.
Quanto à distinção entre Alta e Baixa Cultura, a
licenciada em Ciências da Comunicação refere que não faz sentido, “porque
a arte e os estudos de cultura tendem há muito para anular essas
fronteiras, pelo menos em termos rígidos. A prevalência do cinema e da
música, como artes mais “populares” onde a autoria e as franjas continuam
a expressar-se, é uma das evidências do problema que são essas fronteiras
em termos absolutos”, assim como as instalações, as performances, a
fotografia, etc. No entanto, Clara Caldeira pensa que “continua a existir
um público de elite, ou seja, pessoas com acesso mais precoce e
qualificado à informação, à educação, ao consumo cultural”.
E poderá a sobrevivência de um jornalismo
especializado como é o cultural, depender de atender às necessidades de um
determinado público-alvo, como os nichos de mercado, ou o objetivo das
publicações e programas deverá ser o de chegar ao maior número possível de
pessoas?
Quanto a esta questão, Clara Caldeira entende que
“há lugar para os dois jornalismos: generalista e cultural. Ambos fazem
sentido”, mas considera também fundamental a necessidade de “alargar
públicos, um problema que diz respeito em primeiro lugar à educação, e
também aos média, bem como aos agentes culturais, que ainda se dirigem
apenas ao público de elite, muitas vezes com alguma altivez, sem qualquer
preocupação com esse alargamento”.
Nuno Catarino, que alia a sua experiência de
jornalista “veterano” na área cultural a uma pós-graduação em Comunicação,
Cultura e Tecnologias de Informação, pensa que o jornalismo cultural
“deverá, à partida, ter em conta todos os possíveis destinatários, onde se
englobam quer os seguidores acérrimos, quer o público em geral”.
A sua opinião é a de que “o objetivo do jornalista
deverá ser informar sobre a obra de uma forma isenta, consciente dos
consumidores/leitores, mas sem se deixar condicionar por possível feedback
negativo ou eventual pressão”.
Victor Afonso, refletindo sobre uma questão tão
atual, refere que “a história do jornalismo cultural demonstra que este
sempre revelou formas de corresponder às necessidades de um determinado
público com gostos mais específicos, mas nem por isso menos importantes”,
considerando que esses “nichos são importantes de manter e satisfazer, no
sentido de manter uma informação diversificada e democrática”.
Cláudia Arsénio, licenciada em Jornalismo pela
Escola Superior de Comunicação Social, pensa que “tendo em conta as
dificuldades do jornalismo cultural, principalmente nos últimos anos, faz
sentido chegar ao maior número de pessoas, até porque isso não significa
necessariamente um produto de má qualidade ou popular, no mau sentido do
termo”.
O bom (e o mau)
jornalismo cultural português
Em relação às áreas onde o jornalismo cultural
português estará a par do que melhor se faz no estrangeiro, e onde terá
mais lacunas, comparativamente com os jornais de referência da Espanha,
França, ou dos países de língua inglesa, a opinião de Nuno Catarino é a de
que em Portugal “há bons exemplos, sobretudo na área da crítica (música,
literária e cinema)”, passando a principal diferença “pelos artigos de
grande fôlego, que em Portugal são quase inexistentes ou impossíveis de
realizar”, devido principalmente aos “custos financeiros que acarretam”.
Clara Caldeira considera que as maiores lacunas se
encontram na televisão, devido à redução de programas nos últimos anos, e
considera que os pontos positivos são a imprensa generalista de
referência, como o suplemento Ípsilon, embora considere que este “peca por
um certo elitismo e um centramento excessivo na área da música, e quase
nenhuma atenção a outras coisas, como a fotografia, por exemplo”. Quanto à
comparação com outros países, não a considera exequível, devido ao facto
de Portugal apenas ter 40 anos de democracia, o “que têm impacto na
educação, na política cultural e na configuração dos média”.
Cláudia Arsénio tem a opinião de que “na área da
Literatura e da Música temos excelente jornalismo, mas a área do Cinema já
esteve melhor representada”.
Victor Afonso aponta a crítica literária
(principalmente na última década), como uma das áreas onde a qualidade
cresceu mais, sendo um jornalismo “muito atento aos fenómenos literários
internacionais e nacionais e que exercitam uma crítica altamente exigente
e de teor ensaístico”.
Por outro lado, uma das áreas em que também aponta
mais lacunas é a do cinema, referindo que “a crítica de cinema têm
decrescido de qualidade e diversidade: os jornais mantêm os mesmos
críticos durante anos (por vezes décadas) com os mesmos tiques críticos de
sempre, não abrindo portas para o entendimento de novas formas de
expressão cinematográfica contemporânea”.
Outra área de que também é muito crítico é a
musical, considerando que faltam “bons jornalistas para o jornalismo
musical e boa imprensa escrita sobre áreas musicais menos populares e
menos especializadas”.
O Jornalismo Cultural
é a primeira vítima da crise
Com a crise económica e um cada vez maior número de
publicações a fechar portas, empresas a despedirem jornalistas na área da
cultura e a pouca importância dada na maioria das redações e pelo público
em geral a temas culturais, será que afinal a anunciada “morte” do
jornalismo cultural não é assim tão exagerada?
Clara Caldeira vê o futuro com muita preocupação,
embora sabendo que é um problema global. “Houve algumas décadas de
evolução e progresso, na construção de uma esfera cultural socialmente
valorizada que está a regredir, com consequências para a questão
mediática”.
A investigadora da Universidade Lusófona conclui,
dizendo “que é lamentável que a cultura esteja a ser considerada um
fait divers e um luxo de
poucos, quando é na verdade um fator fundamental de equilíbrio social,
igualitarização e progresso”.
Lacónica e contundente, talvez pelos muitos anos de
experiência na área, Cláudia Arsénio refere que “não é um futuro
brilhante”, o do jornalismo cultural em Portugal.
Nuno Catarino traça um panorama mais otimista do
futuro, “com melhores condições, idealmente”, esperando que “apesar das
dificuldades atuais, que o jornalismo cultural em Portugal consiga
sobreviver”. As receitas para esta sobrevivência aponta-as como podendo
“passar mais pela via digital e por mais uma especialização (tendências
que já se percebem na atualidade)”.
Já Victor Afonso é mais pessimista, traçando, “como
a tudo o que a cultura diz respeito em Portugal, um futuro negro e
incerto”, referindo como principais problemas a dotação orçamental para a
Cultura no último Orçamento de Estado, na linha das políticas sucessivas
de vários governos, sofrendo o jornalismo cultural da cada vez menor
importância que a cultura tem na vida dos portugueses, e onde “o espaço
público dado à cultura é cada vez menor e mais residual”.
Embora reconheça que a cultura é sempre “a primeira
vítima das crises”, Victor Afonso enfatiza que é “também um direito
constitucional e essencial à vida de todos nós. Os países mais
desenvolvidos no mundo são aqueles com mais investimento na cultura. Por
isso, todos os políticos e toda a sociedade deviam saber de cor uma frase
do filósofo Ortega e Gasset: «A cultura é uma necessidade imprescindível
de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como
as mãos são atributo de um homem»”.
Receita para um
jornalismo cultural de qualidade
Autor de três álbuns sob o pseudónimo artístico de
Kubik, Victor Afonso já colaborou com músicos nacionais tão conceituados
como Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), Old Jerusalem, Norton, entre
outros. Na sua faceta como jornalista musical, entrevistou, entre outros,
Sérgio Godinho, Mário Laginha, Anamar, Diamanda Galás, Mike Patton (Faith
No More).
Muito crítico do atual jornalismo cultural
publicado em Portugal, referindo que “o jornalismo cultural pressupõe uma
reflexão crítica que está quase sempre ausente nos meios de comunicação
nacionais”, Victor Afonso descreve a sua estratégia para abordar temáticas
culturais, demostrando sempre independência de pensamento mas também
respeito pelo leitor: “Sempre tive a preocupação de ter um discurso
opinativo próprio, sem filiação de gosto ou de preferências. Defendi
sempre a importância da diversidade da experiência cultural e nunca incuti
à força um determinado gosto estético no recetor”.
E conclui, lançando sugestões para uma possível
“receita” para um jornalismo cultural de qualidade: “A minha função era a
de proporcionar elementos para uma interpretação válida de uma dada
experiência artística, deixando ao leitor o livre arbítrio de decidir
sobre a qualidade do objeto artístico de que eu falava”.
A (pobre) Cultura em
Portugal
Num estudo de 2013 da União Europeia (inquérito do Eurobarómetro sobre a
participação em atividades culturais), comprovaram-se resultados
inquietantes, mas talvez não surpreendentes, sobre a realidade cultural
portuguesa: apenas 6% dos portugueses têm uma atividade cultural
frequente; em 2013 registaram-se menos 1 milhão e 200 mil espetadores nas
salas portuguesas; apenas 40% dos portugueses leram um livro no último
ano; apenas 15% frequentaram uma biblioteca pública em 2012. Em
contraponto, a atividade cultural mais comum é assistir/ouvir programas na
TV/rádio, com 61% em 2012.
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