BELVEDERE BRUNO
A espera
Olhares masculinos sempre lhe traziam a pergunta: -   Será ele?  Por que não? Tem olhos negros como os meus e sobrancelhas grossas.  Por que me olharia  tanto, se não fosse? - Assim pensava na ingenuidade  de sua infância  .  Os dias passavam e mais envolvida ficava, vislumbrando o encontro de sua vida.

Com o passar dos anos, tornou-se uma mulher sensual , atraindo  todos os tipos de olhares. Lascivos, vulgares,  invejosos.  Contudo, ainda  tentava ver neles o  que sempre buscara,    repelindo   qualquer lampejo  de   impossibilidade .     Encontraria o olhar, pensava, pois  ali residia  a  razão de sua vida.

Os cabelos embranqueceram e  a busca não cessara. Nos olhares ternos que lhe dirigiam em sua senectude, ainda  imaginava que poderia encontrá-lo.   - Sim , poderia,  por que não?- dizia para si mesma.

Passeando pelo parque numa tarde de domingo, subitamente tropeçou  e caiu ao chão. Um senhor, bastante  idoso, veio em sua direção para ajudá-la. Erguendo-se, olhou-o fixamente e,  segurando seus braços, perguntou trêmula : -  É você, papai?

O  homem, sem proferir palavra, virou as costas e, balançando a cabeça , continuou  sua caminhada.
Belvedere Bruno  é brasileira, nasceu em Niterói/RJ, onde reside. Iniciou como colunista no Jornal Lig, através de seu trabalho como cronista. Logo foi para o Jornal Santa Rosa, onde permanece, tendo  espaço  para  apresentar suas crônicas e também divulgar a vida cultural da cidade.  Tem três antologias publicadas, além de extenso material veiculado na internet,  e prepara seu  livro individual para o próximo ano.
E-mail: belbruno@oi.com.br