A tolerância da
intolerância é intolerante consigo mesma
A liberdade é, depois da vida, o melhor
bem que o Homem tem. Mas a liberdade para não ser receada tem como
companheira a tolerância e a responsabilidade. A tolerância é filha da
liberdade e da responsabilidade. As asas das ideias não devem ser cortadas
para que os sonhos dos povos elevem a Terra.
Toda a pessoa livre quer ser participante do poder sem se
tornar súbdita dele.
Muitas vezes confunde-se mente aberta
com indiferença ou cinismo sob a forma de tolerância. A tolerância da
intolerância aplaina o caminho para a violência dos intolerantes. Por todo
o lado se encontram disputantes sobre região e islão, mas o nível das
discussões assemelha-se muitas vezes a campanhas partidárias e no caso a
acções de prevenção contra a intolerância (1).
Tolerância e justiça
são pressupostos de paz
Minorias reclamam, justamente,
tolerância e respeito por parte da maioria da população, mas isto deve
pressupor uma bilateralidade de tolerância da maioria que suporte a
variedade e também da minoria que aceite a maioria. A situação de minoria
não lhe confere automaticamente o estatuto de criança. O direito a uma
certa autonomia constrói-se na afirmação da liberdade e do respeito
cimentado pela responsabilidade.
Tudo o que é definido ou concreto é
limitado porque percepcionado na perspectiva das subjectividades do
conhecimento. O reconhecimento desta realidade tem como consequência a
tolerância do percepcionado e afirmado também pelos outros, numa atitude
leal de reciprocidade e na consciência da lei da complementaridade.
A tolerância para ser verdadeira e
eficiente não pode assentar na areia da indiferença nem na embriaguez do
cinismo.
Quem se encontra seguro nos seus
valores tem maior probabilidade de apreciar e respeitar os valores dos
outros. Para irmos ao encontro dos outros, com dignidade, temos de
estar conscientes dos nossos valores. Ter uma visão implica assumir
responsabilidade na defesa dessa própria mundivisão.
Substituir o pensar
positivo pelo pensar amigo
Perante a violência islâmica visível no
mundo, a tolerância tornou-se num tema importante devido à afirmação da
diferença e do outro numa comunidade diferente.
A tolerância, embora seja uma
virtude secundária importante, pode tornar-se numa armadilha do
pensamento, se provoca o seu bloqueio. O
Ocidente, tolhido pelas derrotas que depois da segunda grande guerra
sofreu em relação às suas falsas intervenções em terreno muçulmano e
dependente do petróleo árabe, sofre as consequências da imigração
muçulmana. (O Ocidente nas suas intervenções fomentou o extremismo de
grupos muçulmanos usando-os para os seus fins que se revelaram injustos e
contraproducentes.) A Europa, agora com os problemas em casa, comete o
mesmo erro já praticado ao não ter em conta a vitalidade e estratégia
inerente ao sistema islâmico; a Europa abdica de si mesma e arranja um
modus vivendi confuso deixando o destino dos europeus abandonado à força
do acaso e do que um dia se revele mais forte.
Confrontada com a bagunça criada apenas
reage numa mistura de resignação, medo e coragem. Na praça pública faz do
medo e da coragem um recurso elaborado a que chama tolerância: esta
implica uma atitude corajosa ad intra mas que também pode tornar-se numa
maneira de tratar a coragem pela fuga a ela (uma coragem negativa que
camufla o medo como virtude dando-lhe a roupagem de tolerância): a Europa
assume a virtude da mortificação como maneira de circundar o problema e
adiá-lo, não tomando a sério o parceiro dialogante.
Para se não abusar da tolerância
torna-se óbvio substituir o pensar positivo pelo pensar amigo.
Pelo que me é dado observar, em
disputas dos meios de comunicação social e em palestras com certos
profissionais do diálogo, chego a ter a impressão que nos aproximamos de
uma atitude de tolerância violenta (flexibilidade ad extra e
empedernimento ad intra). Em vez de se discutirem as questões num terreno
neutro, a nível de teses e princípios moventes, de argumentação e de prós
e de contras (seguindo o método da
controvérsia),
passa-se a um discurso meramente pedagógico, com um caracter de
autorreferência ou de mera catalogação de exemplos. Cai-se no equívoco
de se querer ter um pensar positivo em vez de se ter um pensar amigo. O
pensar positivo é monorreferencial e como tal individualista, levando à
indiferença enquanto o pensar amigo é estrutural e como tal interessado em
criar comunidade (acentua a intercultura e não a multicultura guetoal).
Abdica-se do pensar livre e do discurso desembuçado para se passar a um
discurso passado pela própria grelha, a grelha da circunstância e do
oportunismo. O discurso motivado pelo pensar positivo torna-se próprio de
uma atitude de escravos de uma liberdade fechada, sem referência, criadora
de desinteresse e que implementa uma forma de estar individual
e social de tipo autista, virada só para o momento e com tal sem
conotações, voltada para os guetos equacionados em termos de
multiculturas. O discurso do pensar amigo parte de uma matriz aberta
orientadora que se encontra e discute com outras matrizes de forma
controversa, sem se perder no acidental, e é motivado pela consciência da
precaridade de todos os sistemas, numa vontade de aproximação e procura
comum da “verdade” e na intenção de criar comunidade.
A tolerância torna-se violenta
quando preponderantemente centrada no aspecto moral ou no sentimento
circunstancial que, precipitadamente, opta por
ou contra uma das partes, sem dar tempo a uma supervisão das próprias
emoções ou opiniões, feita à luz da razão ponderada. A tolerância
violenta cria tabus e proíbe de pensar ou evita o pensamento causal com
medo das sombras negativas que a realidade encarada poderia deixar (ou
consciencializar). Torna-se cobarde ao misturar nela o medo com um certo
narcisismo – a necessidade de fazer boa figura – uma espécie de complexo
da simpatia que se resume em cinismo e hipocrisia.
O medo que nos tolhe
leva-nos à tolerância violenta
Uma olhadela sobre os Media europeus,
em questões de muçulmanos, revela posições antagónicas que se situam entre
o medo do islão e a islamofilia até à própria negação. A sociedade
permanece indecisa entre medo e admiração e deste modo aprisionada nos
sentimentos que alguns categorizam de islamofobia e de islamofilia.
A sociedade europeia foi
traumatizada, ao longo da História, pela experiência que teve no
contacto com a violência islâmica e que hoje se expressa à semelhança dos
seus tempos primordiais. A experiência do medo e da insegurança (também a
ameaça e a imprevisibilidade do antigo corso e da pirataria é hoje avivada
com o terrorismo que irrompe do seio da Umma.) levou a sociedade ocidental
ao recalcamento dos próprios sentimentos e à internalização do medo,
fazendo do islamismo um tabu; os políticos, que conhecem o metier do poder
verificando que não levarão a melhor perante o sistema islâmico, preferem
ignorar a sua realidade. Temos disso um exemplo nas actuais relações
entre a Alemanha e a Turquia; torna-se típica a maneira subserviente como
o governo alemão reage às difamações e ataques atrevidos do governo turco,
porque, embora o governo alemão (e a EU) tenha mais poder, não o pode usar
pois o governo turco tem o poder da violência (e o método de enganar e
obter vantagens: Hudaybiyyah) e esta é quem determina a História em
momentos decisivos, porque na realidade há sempre interesses a ser
repartidos.
O islão (=submissão), também a nível de
consciência colectiva, constitui um risco ominoso para o homem Ocidental
se, inconscientemente, o transforma em tabu:
o pensamento ocidental, como se depara geralmente na imprensa publicada,
em vez de encarar o islamismo com naturalidade e como é, pensa-o como ele
deveria ser e, para tal, desliga a razão e recalca os seus sentimentos
naturais de agressividade, transformando-os em sentimentos de compreensão
para não ter de se confrontar com a realidade da prática e da filosofia
contida no Corão, na Sharia e nas ahadith da Suna nem ter de tomar uma
atitude perante o agir violento do islamismo por toda a parte.
Autoridades muçulmanas, vêem-se assim sem necessidade de reflectir nem
desenvolver a sua filosofia e religião em termos de uma plataforma de
complementaridade num plano intercultural universal; assim, a sua reacção
perante os occidentais só pode ser de piedade cínica, e vêem-se
encorajadas a afirmar o seu ideário que entendem como superior e dogmático
porque não encontram resistência interna nem externa; de facto o
comportamento extremamente tolerante dos “infiéis cristãos ou ateus” e da
política que os rodeia confirma-os na sua fantasia e estimula-os a
continuar a agir sob o pressuposto da sua guerra-santa (jihad), pelos
vistos, vantajosa: “se queres amigos bate-lhes”. Para que a política
se torne responsável e creditável é necessário que tome o poder cultural e
religioso tão a sério como toma o comércio e o negócio regulado por
convenções bilaterais. (Não me refiro aqui à grande riqueza e capacidade
de energias pessoais que muçulmanos trazem à sociedade ocidental a nível
económico porque enquanto muitos dos seus colegas de escola dos países
acolhedores não sabem a razão porque estuda nem o que querem na vida,
muitos colegas muçulmanos esforçam-se e querem subir na vida e por isso
esforçam-se mais, chegando mais tarde na sociedade mais longe do que os
colegas autóctones).
Intelectuais
inibidos na capacidade crítica na discussão como o Islão
A realidade política mostra-nos, por um
lado, a expulsão das minorias não muçulmanas dos seus países e, por outro
lado, uma migração de povos muçulmanos (xiitas e sunitas) para o Ocidente:
nos países de maioria muçulmana só é possibilitado, em termos de futuro, o
latifúndio muçulmano e fora deles os minifúndios islâmicos.
Em vez de nos perguntarmos porque é que
o islão avança e muda o mundo através da violência, procuram-se no Corão
versículos de paz, numa tentativa eficiente de se ignorar a realidade
violenta a acontecer em quase todo o mundo, onde o islão está presente;
a política e a opinião pública ocidental, além de não querer entender a
filosofia/política e a mensagem vinculativa inerente ao
Corão-Sharia-Suna, tem o descaramento de chegar a afirmar com as
autoridades muçulmanas que as barbaridades que acontecem não têm nada a
ver com o islão. Os políticos europeus deixam-se orientar
pelo princípio, “o que não deve ser não se pensa” e as autoridades
islâmicas julgam segundo o princípio, “o que é bom é islâmico, o que não é
bom não pertence ao islão”. Por outro lado, o secularismo que governa o
Ocidente, demasiadamente encostado ao Estado equivoca-se ao sonhar com o
fim das religiões esperando que estas se desqualifiquem umas às outras! O
poder secular ainda não acordou ao não constatar que o islão é o seu
verdadeiro rival. Ignoram que a religião é povo e como tal é a força mais
política que o acompanhará até ao fim dos tempos!
O conhecido intelectual
Thilo Sarrazin, perito em política e economia,
tentou fazer uma abordagem bastante objetiva sobre os estrangeiros
especialmente turcos , no livro "Alemanha extingue-se a si mesma". Foi
logo boicotado e crucificado pela imprensa do mainstream e pela classe
política estabelecida, não interessada em investigar os dados e premissas
que um livro de não-ficção apresenta. Reagiu escandalizada
certamente pelo facto de um dos seus ter falado texto claro e trazer
consigo o perigo de se entrar numa discussão intelectual que poderia
conduzir a uma análise séria da questão. É compreensível o medo da
política face às emoções populares que por isso prefere um discurso mais
orientado para a tolerância da mentira do que para a tolerância da verdade.
A verdade não deve ser pública, mas salvaguardada na privacidade de
leituras esclarecedoras.
Na Alemanha, o número 12 do catálogo de
ética do Código da Imprensa determina que no caso de delitos cometidos
deve ser escondida " a pertença do criminoso ou do suspeito de minorias
religiosas ou éticas”; deste modo dá-se uma discriminação negativa da
maioria ao só poderem ser referenciados os com nome e etnia os criminosos
da maioria. Ao impedir-se que a realidade seja conhecida fomenta-se
inconscientemente o problema.
De uma maneira geral, os intelectuais
europeus actuais, devido à grande percentagem de estrangeiros islâmicos na
população e devido à domesticação exercida pelo pensar politicamente
correcto, têm também receio de serem identificados com correntes da
população denominadas de “populistas” e de contribuírem para um espírito
anti-islâmico cada vez mais presente numa parte da população que não
consegue digerir os factos do dia-a-dia.
A moderação da capacidade crítica em
relação ao Islão torna-se assim natural; os interesses e os erros
cometidos na sociedade aconselham-nos a não o encarar de maneira livre
objectiva como fizeram outros intelectuais em séculos passados. Assim os
intelectuais abdicam do seu importante papel político que deveria ser
colocado na balança das decisões políticas e na formação da opinião
pública. Naturalmente, toda a pessoa formada tem, em geral, um sentido
maternal em relação à população não exigindo demasiado dela (por outro
lado como os formadores de opinião têm um estatuto privilegiado não se
encontrando geralmente envolvidos nos sectores produtivos da população
podem permitir-se ficar-se pelo abstracto). Muitos intelectuais
parecem sofrer, também eles, do trauma colectivo (medo que se transforma
em consideração pelo islão) e, por isso, sempre que se referem a
barbaridades cometidas por motivação islâmica, vêem-se na necessidade de
apresentar também explicações confusas desculpantes chamando em ajudas das
barbaridades muçulmanas as barbaridades europeias de séculos passados,
segundo o princípio: as culpas do passado justificam as do presente.
Nestes aspectos, adopta-se praticamente a defesa árabe e não se é capaz de
fazer uma análise antropológico-sociológica e filosófica da cultura
islâmica nem uma fenomenologia do hommo arabicus e do hommo europaeus ou,
mais propriamente, uma fenomenologia antropológica e sociológica do hommo
christianus e do hommo islamicus) em proveito das partes. Também se
encontram aqueles que se declaram ateus e colocam todas as culpas nas
religiões e deste modo se sentem ilibados de qualquer discussão séria não
notando que a sua crença ateia é irmã da crença religiosa e o que está em
jogo é a distinção entre poder religioso e poder do Estado (A César o que
é de César e a Deus o que é de Deus).
A ausência de saber, aliada ao não
querer saber, leva a uma cegueira político-social que confunde a realidade
factual com desejos e fantasias (esta postura
atribui ao islamismo uma vontade de paz que não encontra provas na
História nem nos seus fundamentos (Corão, Sharia e Suna), que pressupõem,
a nível mundial, apenas uma monocultura constituída do hommo islamicus). A
história do islão é, predominantemente, uma história de guerras e
guerrilhas, uma sociedade com uma economia da guerra que se serve da
sujeição (escravização), do pagamento de imposto islâmico (ou
discriminação) e da pirataria „sarracena" como meio de sustentabilidade.
Histórica e socialmente o “muçulmano”
não conhece o fenómeno de desenvolvimento que se dá também através da
osmose (dar e receber), apenas conhece o fenómeno da afirmação pela
assimilação do outro até que a identidade deste desapareça (exemplo:
Turquia moderna hoje só com 0,2% de cristãos quando no início do sec. XX
tinha 22%). Outrora, “o infiel” enquanto não fosse assimilado pelo Islão
tinha de se vestir de forma a ser reconhecido como não muçulmano e pelo
pagamento especial do imposto por cabeça; nos estados islâmicos actuais o
imposto foi substituído pela discriminação e repressão institucional e
social de quem não for muçulmano. O problema começa no momento em que
passam a ser maioria!
Em muitos foros de discussão nostálgica
nota-se, por vezes, uma necessidade latente de ser enganado: não se
pretende entender a realidade como ela é (para a poder mudar), entende-se
como ela deveria ser. Muitos sentir-se-iam mal se tivessem de constatar
que o islão não é uma religião como as outras. O temor fino é tanto
e a coragem é tão pouca que leva a sociedade ocidental, instituições e
indivíduos à necessidade de, em seu nome, branquearem os aspectos
negativos de factos praticados por muçulmanos e a não falar da
escravidão branca no
Mediterrâneo. Fala-se de cruzadas sem explicarem o ataque
sistemático muçulmano ao império cristão do Oriente que foi absorvido e
transformado em monocultura islâmica também com a ajuda indirecta dos
povos cristãos do Ocidente.
Com Ayatollah Khameini desde 1981 e com
a queda da União Soviética e as intervenções do Ocidente (Afeganistão,
Jugoslávia, Iraque, Líbia e Síria) foram desestabilizados os regimes
autoritários e deste modo a guerra santa e o fanatismo islâmico ganharam
asas em todas as regiões onde se encontram muçulmanos.
A irresponsabilidade dos agentes
políticos e o factor medo internalizado leva o Ocidente à cobardia que nos
é própria em encontros com os representantes das corporações islâmicas.
Uma Alemanha complexada pela culpa nazi também se encontra sob a obrigação
de dar bom exemplo. O nosso comportamento de complexados pelo
colonialismo exercido, fortalece-lhes a ideia de que quem deve mudar são
os povos acolhedores. Numa cultura em que a agressividade é
socialmente aceite afirma-se a impressão de que compreensão e tolerância é
fraqueza. Mesmo assim, a atitude que nos deve levar a encarar o
islão não deve ser para o combater ou atacar, mas para incentivar os
muçulmanos a revolucionar o islão por dentro: a única chance para ele e
para a paz no mundo. Se Alá mudou de opinião no Corão num período que
não chegou sequer a duas dezenas de anos (período de Meca para período de
Medina) muito mais motivo terá para a mudar depois de 1500 anos.
O comportamento da
muçulmana está para o muçulmano como o Ocidente para o Islão
Nas relações da consciência pública
entre Ocidente e Islão dá-se um fenómeno paralelo ao que acontece entre os
homens e as mulheres muçulmanas. A escravização e a submissão sistemáticas
das mulheres muçulmanas durante séculos levaram-nas a criarem um
inconsciente de seres de segunda natureza, em relação ao homem; a
submissão expressa-se numa aceitação internalizada e inconsciente do
patriarcalismo exacerbado como algo natural (a dor psíquica habitual
torna-se inconscientemente normal, parecendo activar, na mulher, um
processo de dessensibilização da própria consciência como mecanismo de
defesa automático de acomodação ao homem para não sentir tanto a dor, pois
a realidade da situação encarada conscientemente tornaria a dor
insuportável; por isso reagem com orgulho num islão de lenço na cabeça; um
islão moderno tornar-se-ia para elas num desafio provocante – o sistema
económico fomenta a sua dependência legitimando por sua vez a tradição
machista). Faz-se da situação dada e da necessidade uma virtude e da
violência sofrida, algo que no fundo também conduz a um certo clímax de
satisfação (isto faz lembrar o filme em qua a mulher violada que, um dia,
na sua dor, chega a querer ter relações sexuais com o violador e assim ter
a satisfação de o usar no segundo acto; esta é a forma que ela tem de se
vingar dele! Lembra também um fenómeno psicológico não raro de mulheres
muito boas e “legais” se sentirem atraídas preferencialmente por
assassinos ou por criminosos que se encontram em prisões! No caso das
mulheres da burca a sua prisão dá-lhes o sentimento de autoprotecção
perante um mundo bruto e agreste).
A prática da subjugação é elaborada
pelo inconsciente como um momento sentido necessário para manter a ordem;
assim a subjugação torna-se habitual e parte da natureza, deixando de
aparecer como sofrimento consciente ou como algo estranho. O contacto
dos povos do ocidente com os povos islâmicos e a lida constante com a
violência turca e árabe e com a pirataria do norte de áfrica no
Mediterrâneo, leva o Ocidente a internalizar a sua consciência de ser mais
fraco em relação à força islâmica. A força islâmica envolve te tal
forma o indivíduo e a sociedade que as pessoas ocidentais, com um certo
senso de privacidade se refugia criando uma consciência colectiva já não
de vítima, nem de acusador, mas de menino bem-comportado em relação ao
irmão mais forte. O Ocidente com a experiência multisecular da
escravização e do ter de se aceitar como diferente leva-o a considerar
natural a discriminação e violência sofrida; perante a impotência
internalizada durante séculos, a condição de vítima é compensada com a
aceitação e o reconhecimento do agressor. (Na História contemporânea
os povos árabes têm razão em insurgirem-se contra as intervenções do
Ocidente que os confirmam no seu papel de se julgarem vítimas!)
A meu ver, torna-se interessante
verificar o facto de também a cultura muçulmana criar, por sua vez um
trauma na sua alma; o trauma árabe funciona no sentido inverso ao do
trauma do Ocidente; o homo turcus-arabicus ao não compreender ele mesmo
nem assumir a responsabilidade dos actos da sua brutalidade, não pode
desenvolver nele a culpa e por isso inverte-a considerando-se vítima;
a agressão e a crueza são tais que uma consciência colectiva não
suportaria explicar e por isso cria inconscientemente o complexo de
vítima: deste modo não precisa de reflectir os próprios actos, dado o
Corão legitimar a violência; Cria-se assim uma dinâmica paralela: fora a
violência factual e dentro a sensibilidade repousante. A culpa está fora,
nos outros.
Por tudo isto não há interesse na
averiguação da realidade, nem da História nem dos factos porque isso
exigiria uma gestão de resultados com soluções que implicariam o
compromisso esclarecido em benefício dos povos e de uma paz sustentável.
Isso implicaria a integração de consciência e inconsciência e o
reconhecimento do dentro e fora, da razão e do coração, de Deus e da
natureza, não como antagónicos, mas como polos numa relação de
complementaridade em que a realidade é apercebida de forma a-perspectiva,
como não reduzível a um ponto de vista ou perspectiva. A feminidade é um
pressuposto da paz não podendo ser reduzida ao sector privado (ao dentro).
A feminidade terá de ser uma componente do ideal público (do fora…). Numa
sociedade equilibrada a feminilidade e a masculinidade passam a não ser
polos extremos para se encontrarem num fluxo interactivo contínuo de
energias diferentes numa Consência de Complementaridade num todo.
Conclusão
O saber é universal não se podendo
manter nos limites de uma religião, cultura ou ciência como entende o
islão; a sabedoria ultrapassa a razão e o entendimento não se pode meter
no espartilho de uma só lógica ou interesse. O coração une e a cabeça
discerne, um articula e a outra desarticula. Por isso, para se alcançar
uma visão global integral não se poderá abstrair do coração nem da razão,
o que não justifica ficar-se na ambivalência ou na oposição como forma de
se afirmar na vida. A realidade afirma-se através de uma dialética
certamente polar, mas de preocupação abrangente e inclusiva. O pensamento
não tem proprietário e também não pode ser enfunilado num só determinado
tipo de lógica ou cultura.
Consequentemente, a fraqueza de uma
ideologia seja ela científica, política ou religiosa não constitui
argumento que fundamente o combate contra ela nem qualquer violência
contra os seus seguidores. Doutro modo seguiríamos nas nossas apreciações
e atitudes uma práxis muito à semelhança do actuar dos países muçulmanos.
Do mesmo modo não deveria constituir
argumento, evitar uma discussão aberta e séria sobre o Islão, pelo facto
de a sua estratégia drástica de afirmação ser um modelo prático e oportuno
para a organização, defesa e execução de interesses de grupos de tipo
maquiavélico.
©António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo (História e
português)
Pegadas do Espírito no Tempo,
http://antonio-justo.eu/?p=4217
(1)
Observei muitos profissionais do diálogo (políticos e cristãos), em
grandes palestras com os seus parceiros muçulmanos ou em simpósios sobre o
islamismo e constatei, quase sempre, que os parceiros ocidentais abdicavam
da própria personalidade e dos valores que representavam. O mesmo se
constata em conversas com pessoas no dia-a-dia. Chegam a dar a impressão
que os nossos valores herdados não precisam de defesa ou se encontram à
disposição perante parceiros que os não aceitam (dando também a impressão
de não conhecerem verdadeiramente os valores em jogo de uma parte nem da
outra). Actua-se como se se tratasse de defender a nossa simpatia e
vaidade pessoal e para tal até nos adiantamos aos parceiros dialogantes
citando frases bonitas do Corão, mas sem ter a coragem de abordar o tema
da intolerância e da violação dos direitos humanos nele contidos. Em
diálogo pressupõe-se o encontro de sistemas abertos ainda orientáveis e
não apenas de frases feitas nem troca de simpatias.
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