Ponto de partida
Vivemos numa Europa que não sabe o que
a Europa quer! A sociedade europeia parece ter chegado aos seus
limites. De facto, a sua abertura é tanta que já não se sabe onde é dentro
e onde é fora.
Toda a sociedade que não se preocupa
com a sua definição, com a sua identidade, perde a razão do seu existir.
Uma sociedade não se pode definir apenas pelas suas demarcações
territoriais, ela precisa também de um tecto cultural espiritual, no caso,
precisa de se reencontrar no cristianismo.
A moral baseada nos dez mandamentos foi
substituída pelo moralismo do pensamento politicamente correcto, da falsa
tolerância, do “não deves…” e de um insidioso desenraizamento que se
agarra à rotina de uma desgraçada filosofia niilista que reduz o ideário
do cidadão à mera satisfação das suas necessidades primárias.
A consequência natural da ausência de
um tecto metafísico torna-se visível nas crises de identidade individual,
de identidade nacional e de identidade civilizacional. Isto leva
socialmente à formação de uma economia dominada por um capitalismo
predatório e de uma cultura submetida a um socialismo predatório. No vácuo
cultural formam-se bolhas islâmicas e mundivisões mecanicistas que
conduzem à arrogância, à insatisfação e à frustração de pessoas humanistas
adultas, mais conscientes e sensíveis.
A Insatisfação
social e a Situação partidária
Grande parte do povo europeu tem a
sensação de que não é senhor na própria casa e tem a impressão de ter uma
classe dominante composta de lobos vestidos de cordeiros. Assim,
o povo, cada vez mais se afasta da classe política estabelecida e
reinante. Em todas as nações alastra o descontentamento social e a
desilusão observando-se, na sequência disso um amplo movimento social para
o centro- direita e um radicalismo nos extremos.
Os ventos neoliberais que assediam a
social-democracia europeia desestabilizam o centro social-democrático de
esquerda e de direita, o que leva os partidos andarem agora à procura de
noivas nos partidos radicais.
Os grandes partidos do consenso perdem
as penas, correndo perigo de se tornarem ultrapassados; por outro lado os
partidos das bordas têm-se encontrado demasiado centrados em si mesmos, e,
como rastejo acompanhante, assiste-se a protuberâncias sociais no
activismo político da extrema-esquerda e da extrema-direita. (A sociedade
portuguesa é pacífica e moderada; politicamente é de inclinação
republicana esquerda não possuindo extrema-direita).
Reacção apressada à
situação
Atendendo à insatisfação generalizada
do povo europeu os partidos que antes giravam em torno do centro esquerda
reagem querendo perfilar-se com posições ainda mais radicais à esquerda
como forma de responderem à acentuação do crescente nacionalismo provocado
pelo vácuo cultural criado principalmente por ideologias prepotentes que
fizeram das leis as rédeas do povo; essa elite reage agora assustada
quando este parece querer beneficiador os partidos do centro direita e
favorecer as bordas da sociedade, o que implica maior fragmentação
política e social.
Tanto a esquerda radical (comunista)
como a esquerda socialista, em vez de agirem reagem, chegando
apressadamente à conclusão de que o povo precisa de assédio e de mais
estímulo emocional. Para isso as famílias partidárias da esquerda europeia
pretendem seguir uma agenda ainda mais virada para um “populismo de
esquerda, empático e iluminado". A agenda de radicalização foi
anunciada na Alemanha pelo partido Die Linke (A Esquerda), seguindo-se-lhe
o moderado SPD alemão (desgastado pela governação) e por último o
Congresso do PS em Portugal. O PS já se encontra demasiado à esquerda (se
tivermos em conta o SPD). A experiência do governo de Aléxis Tsípras na
Grécia e de António Costa em Portugal parecem encorajar a esquerda a
tornar-se mais radical.
Armam-se em escudo protector de uma
classe que também exploram e para melhor se perfilarem usam uma posição
ambígua em relação aos governos e de alas dentro do próprio partido. Numa
época em que as questões sociais não se resolvem só a nível nacional nem
partidário, a esquerda parece abdicar da responsabilidade ao acentuar uma
estratégia baseada no ressentimento e na inveja e na luta entre os de cima
e os de baixo; por outro lado um capitalismo liberal desenfreado dá-lhes
razão.
Perante o Zeitgeist (espírito da época)
europeu, que de momento expressa a necessidade de corrigir um movimento
político progressista a perder cada vez mais as referências da cultura
europeia, a esquerda europeia, em vez de reflectir sobre erros e exageros
na imposição da sua ideologia, quer reagir mais agressivamente nos debates
da sociedade, para assim poder ganhar para si a razão da emoção.
Portugal derrapa à esquerda enquanto
a Europa se corrige reorganizando-se um pouco mais à direita. O povo
português teria muito a dizer à EU mas a sua elite, enquanto não se
descobrir como povo, será levada a viver da ideologia importada,
impingindo ao povo gato por lebre, quando no país há tanta lebre!
Como Portugal não tem nenhum partido de
extrema-direita, a nova estratégia da esquerda significará para Portugal
uma escorregadela ainda mais à esquerda; em relação aos países do centro
nórdico europeu, a sociedade portuguesa continua a nível ideológico
político um passo à esquerda da Europa.
Quem manda pode e quem pode manda;
só manda vir quem não pode ou quem não está consciente de que também pode
poder organizando-se!
http://antonio-justo.eu/?p=3613
|