Accionismo
devido a falta
de informação
objectiva
Na sexta-feira passada 25.09,
tal como informa VISÃO, partiram de Portugal 6 automóveis com destino
à Hungria/Croácia/Eslovénia (a caminho decidir-se-ão), no intuito de
voltar a Portugal com os carros “cheios de refugiados”. “Seis carros -
sete, a contar com o da equipa da SIC -, cada um com duas pessoas, um
piloto e um co-piloto…” reza a VISÃO. Os activistas pensam com esta
acção dar uma bofetada na burocracia dos Estados europeus e “gastar
provavelmente o que gastaríamos numa semana de férias” e talvez
ajudá-los até ver. Que ideias fazem da situação Nuno, Pedro, Vera,
Abdul e outros colaboradores da iniciativa? Tudo isto em nome e à
responsabilidade de quem? Para imigrantes é suficiente a improvisação
e o mostrar boa vontade?
Uma tal acção será legítima se as
pessoas que transportam os refugiados se comprometerem a dar guarida,
formação e emprego aos refugiados enquanto estes não puderem viver à
custa própria e se suponha que tal acção seja coberta pelas
autoridades, doutro modo correriam o perigo de serem inculpados de
passadores (Na Alemanha estão 1.500 pessoas em observação por
cumplicidade de negócio de tráfico com refugiados; naturalmente que
estes não poderão ser comparados com sentimentos de bondade
espontânea). Com acções do género servem-se, por vezes, mais os
jornais do que os afectados pela injustiça.
Armar-se em samaritanos à custa do
Estado ou de outros, que depois terão de assumir responsabilidade
pelos refugiados, cheira a leviandade criticável, ingenuidade pura ou
cumplicidade; tudo isto pode ser encarado como o accionismo da UE que
agora começa a acordar, porque começa a sofrer as consequências das
formatos que ajudou a criar ao desestabilizar a Síria e outras nações
apoiando o terrorismo daqueles que usam de movimentos populares por
vezes bem-intencionados.
Os autoproclamados bombeiros da
necessidade, agem como se refugiados, na condição de pobres estivessem
dispostos a aceitar viver em qualquer condição e como se Portugal
tivesse aberto as fronteiras aos imigrantes. Aqui na Alemanha tem
havido revoltas entre refugiados alojados em centros de acolhimento,
embora as autoridades alemãs se esforcem imensamente por os ajudar;
estas são secundadas pelo povo com iniciativas de apoio e ajuda com
bens materiais e no ensino da língua, condição essencial para os
imigrantes se autoafirmarem no mercado! Um exemplo: refugiados
acolhidos numa caserna e a viver provisoriamente como vivem os
soldados em geral consideram tal situação desumana.
Com isto não quero levar pessoas a
olharem para o lado! A responsabilidade deve perceber o que está
deveras a acontecer e a complexidade da situação de uma crise
reveladora de situações desumanas em que se encontram inocentes,
vítimas, muitos necessitados (à procura de maior felicidade) mas
também, entre eles, pessoas com energia criminosa; em tal situação só
o Estado ou organizações humanitárias terão a competência para
ajudarem efectivamente sem correrem o perigo de uma ajuda questionável
só para inglês ver!
Não chega dar peixe, é necessário
ensinar a pescar, já sabia o nosso povo! A Síria está a ser sangrada e
a ver-se envelhecer vendo os seus jovens a fugir e estados como a
Turquia interessados em continuar a guerrilha não são questionados.
Com a crise dos refugiados continua a desaviar-se a bola para canto.
Ao cinismo europeu e americano
(intervenção no Afeganistão, destruição dos Estados no Iraque, na
Líbia, na Síria e instabilização de toda África do norte, aos
interesses concorrentes entre Turquia e Irão) segue-se uma reacção
afectiva em relação ao êxodo provocado que se pode tornar tão
questionável como o cinismo. O mau desenvolvimento na Europa em
consequência das duas grandes guerras não pode ser argumento
justificador de políticas à deriva ou à vela dos ventos de ideologias
e dos interesses xiitas ou sunitas.
A Europa e cada europeu precisam de
maior reflexão sobre o que se faz e o que se deixa de fazer: política
de investimento nos referidos países para que os cidadãos não se vejam
obrigados a emigrar na procura legítima de uma vida melhor! Precisa-se
do empenho de todos, instituições e cidadãos, numa acção conjunta, não
para fortalecer o próprio ego em atividades publicitárias de relações
públicas à custa de “refugiados inocentes” mas para colocar a
humanidade e a justiça no centro do agir individual e político!
António da Cunha
Duarte Justo
www.antonio-justo.eu