A Ucrânia,
tal comos a região das Balcãs, na primeira grande guerra mundial, dá
ocasião ao surgir de uma nova configuração política das potências
determinadoras do futuro no séc. XXI.
A Rússia, ao
ser contrariada pelos interesses da EU/NATO na Ucrânia, demostra
ostensivamente a sua reivindicação ao direito de ser reconhecida como
potência mundial; para tal vira-se para a China e para a América Latina em
oposição à política dos países da NATO. Utiliza uma estratégia própria na
combinação oportuna de “ vendas de armas, instalações militares e grandes
projetos econômicos, de infra-estrutura e de energia”. A nova
estratégia de parceria com a China pode mudar o eixo axial da política no
séc. XXI. O negócio entre a Rússia e a China da construção da conduta
para fornecimento de gás à China e a construção de um canal transoceânico
da Nicarágua como alternativa ao canal do Panamá, são passos que indicam
determinação no sentido de as duas potências se unirem num projecto comum.
Ao avanço da
presença do Ocidente ao longo das fronteiras da Rússia e na Ucrânia, a
Rússia contrapõe a sua presença, como potência mundial, na América Latina.
A presença
política arrasta consigo o negócio. Então, países como a Alemanha
aceitarão o desenrolar natural dos acontecimentos e orientar-se-ão pelo
brilho do negócio. Esta ofensiva económico-estratégica revela-se tão
desesperada que pode determinar a divisão da Ucrânia.
Piora o
clima entre as potências mundiais logo surgem centros ciclónicos
devastadores das mais belas paisagens e dos mais belos biótopos culturais.
Por trás das ventanias que arrasam florestas e destroem a bonomia do clima
entre amigos e familiares, encontram-se interesses políticos, económicos e
estratégicos. Quem aspira a mais organiza-se em grupos de interesse porque
sabe que no governo ou na oposição sempre se recebe mais do que no seio do
povo.
Os grupos da
Ucrânia, agora divididos e guiados pelas forças de ventos invisíveis, a
modo das árvores no vendaval, batem-se uns contra os outros à mercê dos
centros ciclónicos do poder. Os que se querem orientar pela Europa e os
que preferem seguir a Rússia. Em nome da soberania popular dá-se a
redistribuição de poderes e influências.
A Ucrânia, o
maior país da Europa, tem 44,6 milhões de habitantes sendo 77,8% de etnia
ucraniana e 17%, de russos e romenos está em perigo de ser dividida. O
povo ucraniano já foi vítima do genocídio provocado por Estaline que
vitimou milhões de ucranianos e da ocupação nazi que matou muitos milhões
de pessoas, sofre as consequências de se encontrar como fronteira de dois
imperialismos: o russo e o ocidental.
Quem pensa
em termos humanos e de povo é contra a intromissão estrangeira; quem pensa
em termos estratégicos e de poder compreende a luta das potências: uns a
favor dos russos, outros a favor do ocidente.
Um país
sobrano deveria ter a possibilidade à autodeterminação.
Uma Alemanha
interessada em acordos de comércio com o leste, uma EU interessada num
acordo de associação, e uma federação russa amedrontada, não são indícios
de bons resultados para a Ucrânia; a Rússia sente-se ameaçada
economicamente pela EU, militarmente pela Nato e socialmente pelos valores
ocidentais de liberdade e democracia. A UE defende os seus interesses
económicos e estratégicos na Ucrânia argumentado hipocritamente de
pretender a salvaguarda dos direitos humanos e de um Estado de Direito.
Infelizmente não usou da diplomacia para saber antepor-se aos combates
armados entre a população ucraniana nem teve em conta uma Rússia
traumatizada pela queda da União Soviética. A Rússia tem os mesmos
interesses na Crimeia e nas zonas orientais da Ucrânia como os ingleses no
Gibraltar e nas ilhas Malvinas…
Uma Ucrânia
endividada até à garganta com a dívida do gás e quase na bancarrota. Deve
à Rússia 2,6 mil milhões de Euros pelo que Putin tenciona, a partir de
Junho, só fornecer gás à Ucrânia a pronto pagamento. Até à ocupação da
Crimeia vendia o gás à Ucrânia 30% mais barato, devido à Ucrânia permitir
lá a base russa.
A Ucrânia,
depois das eleições de 25 de Maio, irá ter de compreender amargamente a
frase de Bismark: “Estados não têm amigos, apenas têm interesses”.
As missões
de observação eleitoral da OSZE julgarão sobre o decorrer das eleições.
Depois delas surgirá a discussão sobre quem as reconhece e quem não. As
eleições não conseguirão o problema da Ucrânia que nela resume o conflito
entre a Rússia e o Ocidente e entre população pro-Rússia e pró-EU.
A Rússia é o
maior país do mundo mas nas suas infraestruturas, é de facto, em grande
parte, um país de terceiro mundo.
O futuro irá
aproximar ainda mais a Rússia e a China até por razões de afinidade na
defesa da integridade territorial e devido à sua extensão e aos povos
separatistas.
No séc. XIX
combatiam-se os estados, no séc. XX as ideologias e no século XXI
combater-se-ão as culturas. Com a queda da União Soviética (1998) acaba-se
o mundo bipolar para se iniciar a multipolaridade. Das guerras passar-se-á
às guerrilhas; na formação de novas constelações, a guerrilha muçulmana
tem-se mostrado a única arma estratégica eficiente contra a prepotência da
guerra económica. Livre-nos Deus desta perspectiva real para o futuro.
António da
Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
antoniocunhajusto@gmail.com
|