Do
caso insólito de uma Nação
inteira em Orgasmo fora do Lugar
José Sócrates - o Berlusconi português
- parece um figo maduro a gingar na figueira 25 de Abril. Esta tem muitos
outros figos prontos a cair e outros ainda a amadurecer, neste jardim
outonal de brandos costumes “à beira mar plantado”. Será que Portugal se
quer restabelecer? Por enquanto, ainda se encontram muitos outros figos
melados bem agarrados à figueira já murcha por tanto chupar e pela já
sumida terra do jardim. Mas Portugal se se quer salvar, por algum lado
há-de começar. Do húmus dos figos caídos talvez a terra se torne fértil.
O Ministério Público na sequência de
investigação de casos de crimes de corrupção, fraude fiscal e
branqueamento de capitais mandou deter, José Sócrates (ex-primeiro
ministro) para interrogatório judicial, e também um sujeito ligado ao
grupo Lena, outro à empresa de Carlos Santos Silva e um outro
representante da empresa multinacional farmacêutica Octapharma, de que
José Sócrates é empregado desde 2013, segundo informou o jornal Sol.
Muitos “inocentes”, ficaram
escandalizados pelo facto de Sócrates ter sido preso no aeroporto de
Lisboa às 22H, à chegada de Paris, e lá já se encontrarem as câmaras de
TV, caso que os leva a especular sobre “fugas de informações”.
Fuga de informações?! Quando é que
as não houve em Portugal? Isto parece conversa
encomendada para desviar do assunto principal (a corrupção
institucionalizada) para coisas marginais. A opinião pública portuguesa é
geralmente encharcada com coisas que falam ao coração para desviar da
mente e assim desobrigarem a atenção duma corrupção tanto da esquerda como
da direita mas que se quer manter anónima nas caves da nação. Também a
justiça e os órgãos do Estado precisam do folclore das detenções para se
irem safando; a corrupção também banha as suas praias; não vivêssemos nós
num Portugal tão pequenino de amigos e vizinhos.
Também se fala de “Justiça versus
Política”! Isso também não, nunca houve; o que sempre houve foi uma
política telenovela para o povo português e muitíssimos mações e amigos
bem posicionados também na justiça que bem sabem contribuir para a
desinformação. Justiça atenta à política seria completamente
impossível, no nosso Portugal moderno, atendendo à actividade da maçonaria
(de timbre inglês e francês) e outras forças, fomentadoras da
promiscuidade política, financeira, dos Media e da Justiça, que manobram a
partir de um Portugal subterrâneo, onde se encontram em erupção, desde as
Invasões Francesas.
O problema da interferência e
conivência entre os poderes é já antigo, é um legado republicano que vem
não só da politização da justiça mas da “judicialização” da política que
se deve a um Estado minado por organizações fortes, num país pequeno onde
todos os grandes se conhecem e se julgam ser a casa do povo de um país
ordinariamente partidarizado porque despolitizado. Defender uns para
atacar outros implicaria reduzir a questão à alternativa: Lúcifer ou
Belzebu; o que significaria continuar a fomentar um pensar bipolar que
leva a pactuar com a corrupção!
A Democracia portuguesa está já
saturada de corrupção; é de recordar, entre outros, os casos dos diamantes
em torno de Soares, dos projectos para um novo aeroporto, das parcerias
público-privadas (PPP), da Casa Pia, dos Submarinos, dos vistos gold, de
José Sócrates, etc.; tudo deu em águas de bacalhau; tudo isto revela
apenas a ponta do icebergue, num Portugal de esquerdas que se tornaram
milionárias quando queriam acabar com as direitas milionárias.
Chegou a hora em que seria óbvio salvar
a honra da República e devolver a dignidade ao povo, deixando de continuar
a pensar apenas no tradicional sistema bipolar. Seria chegada a hora de
saudar e apoiar as forças do Ministério Público e de Juízes que mostrem
caracter e boa intenção, para que se comece a arrumar com o suborno e a
corrupção encostada ao Estado Português; em vez disso enxovalha-se o juiz
que precisaria da força de uma opinião pública renovada, para se atreverem
a iniciar outros processos. Muitos acólitos dos diferentes senhorios ficam
medrosos e logo se apressam a desculpar a corrupção vigente, com o
argumento que personalidades do outro partido também são corruptas,
segundo a máxima: os meus são ladrõezitos e os dos outros são ladrões.
Nesta lógica, do salve-se a ladroeira, legitima-se toda a corrupção e o
país em vez de se regenerar continua a masturbar-se, como sempre.
A coragem do juiz poderia ser um sinal
de que a honradez e a justiça de muita gente desorganizada mas honrada
querem ter palavra em Portugal. Naturalmente, também a Justiça deveria,
para se tornar credível, proferir um mea culpa e deixar de se servir de
direitos reservados para deputados, secretários de estado e ministros; não
o faz porque acima da Justiça imperam certamente outros interesses e
outras ordens.
Se o povo não está atento, e não pode
está-lo, esta será a hora dos operadores subterrâneos do Estado que
desconversarão sobre esta “tragédia pessoal” de grande quilate, de modo a
ficar tudo na mesma, com tudo a favor da contínua tragédia de um povo
indefeso. Partidarizar o discurso é justificar a corrupção que em
Portugal é institucional, como já foi constatado publicamente.
Sem a mudança radical da justiça
portuguesa, Portugal não toma emenda. Portugal não tomará emenda enquanto
continuar a analisar a sua vida sob as perspectivas partidárias.
A prisão de José Sócrates parece um
acto desesperado no sentido de recuperar alguns créditos na confiança
popular. Naturalmente, para engavetar este tubarão teriam de engavetar
muitíssimos outros e estes não deixam porque são todos amigos entre si e a
rede que os assiste foi feita à prova de corrupção. Em Portugal, e em
países frágeis, em vez de se engavetar os criminosos engavetam-se os
processos.
A questão é de tal modo enredada e a
luta das famílias tradicionais e das famílias partidárias é tal, num
Portugal pequenino mas dos grandinhos, que não deixa espaço para uma
solução satisfatória. Enquanto em Portugal, para se subir, for preciso
entrar em instituições parasitas do Estado, não será possível formar-se
uma alternativa honrosa.
Sócrates, ex-primeiro ministro
português, agora o número 44 da Prisão de Évora, é uma grande oportunidade
para toda a nação pensar sobre as razões que levaram Portugal e as
instituições portuguesas a chegar ao ponto extremo onde chegaram.
António da Cunha Duarte Justo
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