Antigamente acreditava-se e hoje crê-se saber
Cada
sociedade, época ou pessoa tem a sua moldura de pensamento a valorizar
o que abraça e inclui. Por vezes, o Zeit Geist opera como um tufão que
tudo arrasta. Valores e convicções são submetidos à régua da moda que
só conhece o certo e o errado (o que está dentro ou fora do seu
caixilho), sem espaço para discordar nem para reciclar ideias. “Uma
comunidade incapaz de lidar com o desacordo está mal preparada para o
futuro”, constatava Timothy Radcliffe.
O
Politicamente correcto é uma maneira de ser e de pensar adaptada a uma
mundivisão do oportuno, a uma determinada ideologia ou sociedade que
amarra o pensamento, a moral e a atitude aos próprios limites, sejam
eles científicos, partidários, religiosos ou políticos. Quem se atreve
a ter opinião diferente ou a pensar com a própria cabeça é,
geralmente, visto como espanta pardais ou é colocado no rol de persona
non grata. Zelotas da opinião só aceitam ideias extremas progressistas
ou tradicionalistas. Desaprendeu-se a regra de ouro de Aristóteles de
que a virtude se encontra no meio e como tal é uma exigência a descer
do próprio miradouro para se abranger outras paisagens.
Pessoas
que seguem o politicamente correcto são, geralmente, simpáticas,
conformes e conformistas; há as oportunas, alinhadas e consequentes,
que aceitam tudo e estão de acordo com tudo (também não ouvem nem
escutam, o que lhes seja adversário ou crítico; outras, satisfeitas,
não precisam de tomar nada em conta, é mais fácil e cómodo excluir do
que envolver-se); também as há distraídas com o pequeno defeito de se
tornarem intolerantes para com pensares e opiniões diferentes ou não
alinhadas à sua manada. Nos dois grupos delineia-se um denominador
comum: tudo o que vem à rede é peixe.
Quer-se
a igualdade mas por medo à diferença. Querem-se as pessoas todas
citadinas e bem-educadas, não por amor à virtude mas por vergonha da
província. Mas, no fim de contas, o problema não é da cidade nem da
província mas sim um erro de pensamento: parecer que não cheire ao
humos do próprio curral provoca medo ou agressão pelo facto de ser
desconhecido ou diferente.
Vive-se
num tempo hipócrita em que a crítica a velhos dogmatismos serve de
subterfúgio para esconder a própria moralina e os dogmatismos do novo
pensar conforme, da correcção civil e do género. Já Platão observava:
“Muitos odeiam a tirania apenas para que possam estabelecer a sua”.
No
panorama das opiniões, domina o vermelho e o rosa de um pôr-do-sol de
estação outonal, já sem forças para contradizer o pensar dominante. É
como nas autoestradas, o que importa é o sentido e a liberdade na
aceleração.
A
violência vivida e encenada substitui a realidade pelo debate.
Assiste-se a uma conivência solidária e significante em que o medo e a
infelicidade se irmanam numa emoção comum. Não interessa a coisa em
si, o que dá sustento é a opinião.
Por fim
surge o mecanismo da consternação que é movido e cultivado por um
jornalismo de caracter político e comercial, interessado mais na
lágrima que na acção. As pessoas são condicionadas ao papel de
espectadores ou de eleitores que podem escolher, livres para escolher
o que se lhe põe à frente através do ecrã da democracia.
O pensar
politicamente correcto impede a liberdade de pensar diferente. O
pensar diferente, ou até alternativo, não cabe no uniforme da política
nem no credo dos meios de comunicação social.
George
Bernard Shaw dizia: “As pessoas razoáveis adaptam-se ao mundo. Pessoas
irracionais adaptam o mundo a si mesmas. Portanto, todo o progresso
depende das pessoas irracionais. “
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo
www.anonio-justo.eu