A República
Federal da Alemanha é formada por 16 estados (Länder) com diferente poder
económico entre eles. Há estados ricos e estados pobres. Para criar uma
justiça económica equitativa entre os estados, a Alemanha criou um
instrumento regulador que é a Compensação Financeira Nacional (LFA).
Deste modo impede demasiadas desigualdades de condições de vida entre
os habitantes dos diferentes estados e contribui para que haja menos
emigração da população dos estados pobres para os estados ricos.
Na Alemanha,
em 2012, os estados com maior poder econômico e receita tributária
contribuíram com 7.925 milhões de euros para os estados pobres da Alemanha
(DPA).
A Baviera contribuiu com 3.904 milhões, o Baden-Vurtemberga com 2.694
milhões e o Hesse com 1.327 milhões. Os estados recebedores foram Berlim
(3.323 milhões), Brandeburgo (542 milhões), Bremen (517), Hamburgo (21),
Meclemburgo-Pomerânia Ocidental (452), Baixa Saxônia (173), Renânia do
Norte-Vestefália (402), Renânia-Palatinado (224), Sarre (92), Saxônia
(963), Saxônia-Anhalt (547), Schleswig-Holstein (129) e Turíngia
(541milhões). (Estes dados são também importantes para quem tenciona
emigrar para a Alemanha).
A Alemanha
tem uma posição-chave na Europa e possui um sistema de política social dum
contrato social exemplar. Procura manter, a nível interno, uma economia
social de mercado baseada no princípio da responsabilidade pessoal
complementado pelo princípio da solidariedade da doutrina social cristã.
Não seria justo que, num mesmo país, as pessoas que vivem numa zona pobre
como Meclemburgo-Pomerânia Ocidental não tivessem direito a um nível de
vida digno como as que vivem nas zonas ricas do Baden-Vurtemberga e
Baviera. A sua economia social de mercado tem como consequência a
política de distribuição. O princípio é: “dou para que dês”! Por exemplo,
a Baviera, na altura em que era um estado mais agrário, recebeu ajuda até
aos anos 80. A Baviera investiu os fundos de apoio recebidos em indústrias
emergentes e hoje é o estado que mais contribui para o fundo de
compensação financeira nacional (LFA).
Sobretaxa de Solidariedade para Zonas pobres: Modelo da União alemã
Aquando da
reunificação da Alemanha em 1990, a parte da Alemanha socialista (DDR)
encontrava-se em muitíssimo pior estado que actualmente os estados da zona
euro do Sul. Para conseguir um nível de vida económico equilibrado entre a
parte ocidental e a parte oriental, a Alemanha federal criou uma
sobretaxa de solidariedade de 5,5% de imposto para, com a receita, ajudar
a Alemanha oriental (antiga DDR). A Sobretaxa de solidariedade é um
imposto adicional ao imposto de rendimento, imposto sobre ganhos de
capital e imposto sobre as sociedades na Alemanha.
O imposto de
solidariedade é um imposto directo. Dado ser uma necessidade a longo prazo
o Tribunal superior considerou legal esse imposto. Este imposto adicional
é geral. Por exemplo: quem paga 1000 € de imposto tem de entregar 1.055
€ às finanças e assim por diante, devido ao montante da sobretaxa de
solidariedade dos 5,5% a acrescentar ao imposto de rendimento. Na
Alemanha todos os anos se dá um transfere de subvenções para investimento
na parte oriental em muitos milhares de milhões de €. Desde 1991 até
2012 já foram transferidos 212.000.000.000 €. Estes fundos são para
equilibrar os custos com a reunificação da Alemanha, isto é, para
conseguir um equilíbrio de economias e rendimentos entre as duas zonas da
Alemanha. Todos pagam desde 1991 esta sobretaxa e ninguém bufa. É para bem
de todos; o povo alemão tem consciência de povo e as elites não são
arredias ao pacto social. Deste modo, um povo trabalhador e unido jamais
será vencido! A mesma política que é boa para os alemães porque não
ser aplicada a toda a Europa para que os fundos sejam investidos em
empresas emergentes nos países marginais.
Arbitrariedades da Troika - Política insociável e de Repressão
A União
Europeia tornou-se, em grande parte, um instrumento de exploração das
economias fracas. De facto transferiu muito dinheiro para Portugal mas
dele aproveitou-se sobretudo o grande capital (empresas) das grandes
nações. Vieram firmas alemãs fortes e doutros países aproveitando-se dos
fundos europeus e das regalias bem como de isenções de impostos ao
instalarem-se e passados dez anos, quando deveriam render para o Estado,
abandonam o país para se irem aproveitar doutros fundos a ser concedidos a
outras zona de alargamento da EU.
A maneira de
actuar da União Europeia, relativamente a Portugal, é altamente injusta e
unilateral porque parte do princípio de relação de Estados e pretende o
controlo a nível de Estados quando o que está em questão é a relação das
economias e das regiões entre elas e o problema das multinacionais que
abafam as economias fracas, à margem dalguns Estados.
A política da EU serve, de sobremaneira, os interesses das grandes
empresas e da indústria financeira das grandes nações. Assim, na Zona
Euro, os Estados fortes actuam, de forma cínica, através da Troica, com o
objectivo de encobrir e defender os interesses das suas economias e dos
seus agentes económicos (indústria financeira e firmas). Hoje Portugal
sofre e paga pela administração corrupta e pelos desfalques que empresas
internacionais provocaram ao abandonarem Portugal, depois de lhe terem
destruído as pequenas e médias empresas (têxteis, calçado, pesca) e de
lhes terem levado os seus melhores técnicos entretanto neles integrados.
Uma outra política das empresas das economias fortes é exportar produtos e
tecnologias ultrapassadas ou já proibidas no país (como se verifica ainda
no emprego de químicos e de aparelhos esbanjadores de energia).
Uma política
económica racional e produtiva teria de ser feita segundo o modelo de
solidariedade semelhante ao que a Alemanha aplicou a nível de
solidariedade nacional e para que os fundos fossem produtivos. O esforço
alemão dentro das próprias fronteiras e a estratégia de fomento de justiça
económica e social aplicado na Alemanha deveria ser transferido para as
zonas periféricas.
Qualquer
outro modo de enfrentar o problema é injusto para a nação portuguesa e
perpetua a dependência dos fracos. O problema impeditivo duma tal
estratégia vem do facto das nações fortes viverem das suas grandes e
médias empresas que acarretam o dinheiro para as suas nações. Em nome
do internacionalismo e da EU fomentam-se os interesses nacionalistas com o
instrumento dum capitalismo liberal extremo.
António da
Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@gmail.com
.
www.antonio-justo.eu
|
ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.
Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .
PUBLICAÇÕES
- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.
- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel
- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)
- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)
- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.
- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.
Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.
http://blog.comunidades.net/justo
|