Sócrates é o homem que melhor retrata o
estado doentio dum país renitente que se recusa a encarar a realidade em
que se encontra para continuar a viver embalado em sonhos e contos da
carochinha. A sociedade portuguesa continua a cultivar poleiros como se o
cacarejar de galos com penas de modernidade lhe dessem o pão e lhe
pudessem compensar o atraso económico. No panorama português continua a
não haver alternativa de escolha, a não ser a opção entre o mau e o pior.
O Sistema partidário português, num
país de adeptos que não de eleitores, não precisa de se preocupar com
questões deontológicas, nem com os verdadeiros problemas da nação; vive
das victórias partidárias e o desagradável é resolvido pela rectórica e
pelos estrangeiros (Troika).
Sócrates regressa a Portugal e entra
pela porta do cavalo, recebendo um poleiro semanal de destaque no sacrário
da nação (TV). Daí pode ditar as suas sentenças e atirar pedras numa nação
partidária devota, habituada a comer e calar e a admirar uma argumentação
fomentadora de ressentimentos. A argumentação fascina-os, não a realidade
nem o objecto da argumentação. Mas por uma questão de justiça para com o
povo português terá de ser dito que o que acontece em Portugal já germina,
há muito, na Europa e a decadência começa pelos mais fracos.
A TV pública, que privilegia os
galadores políticos, está consciente de que pode beneficiar e receber, de
braços abertos, o seu filho pródigo sem que os seus irmãos fiéis
protestem. Aquele abandonou o país depois de o
ter conduzido a uma situação desolada; ciente de que o povo tem memória
curta, e como esperto “animal político”, aguentou-se em Paris o tempo
suficiente para poder descer de paraquedas ao povoado e poder falar da
desolação dum país que ele mesmo afundou, ajudado pelos outros partidos.
Apesar da bancarrota e da Troika continuam a ter a razão toda; continuam a
falar como se fossem libertadores. É um lugar-comum partidário, ignorar
a crise económica e cultural, falar mal dos governos e branquear a própria
miséria no tempo da oposição. Num país irreal, José Sócrates, com a
sua atitude galante, é a melhor Isca que o PS tem também para frustrações
e sonhos femininos. Espectadores, que não distinguem entre o brilho do
falar e a argumentação seguem, de olhar fixo, mais uma história de embalar
crianças.
Um país de tanga, com uma TV
jacobina à procura de “audiências”, prefere a demagogia gratuita à
informação séria paga!
A melhor atitude a assumir neste
desapropósito, seria o boicote ao programa de Sócrates, e até apagar a
televisão; “para quem é bacalhau basta”! O boicote não se deveria dar
por razões partidárias mas apenas por uma questão de honra e de respeito
por si mesmo e pela nação. Seria ingenuidade pedir responsabilidade à
direcção da TV; ela é fruto de interesses mesquinhos e não duma cultura
política. De facto, tão culpado é o PS como o PSD por tal desacato.
Os interesses
individuais são confundidos com os do Estado
"Um político que desiste de puxar pelas
energias do seu futuro não está à altura das suas responsabilidades". No
contexto em que Sócrates proferiu esta frase fala como se a defesa dos
seus interesses se identificasse com a defesa dos interesses do Estado. E
referindo-se ao seu espaço semanal na TV pública como comentador político,
a partir do 7 de Abril, disse laconicamente: "Ninguém tem de ter medo".
Como se a sua entronização não fosse um acto partidário inocente numa TV
pública sempre partidariamente politizada nem mais uma encenação para
um povo que só conhece a realidade política situada entre as frontes dos
interesses partidários. Pelo que se constata, Portugal continuará a
viver embalado pelo cantar da cigarra a encantar a formiga!
É o cúmulo dos cúmulos o que a classe
política portuguesa, aninhada nos bastidores da TV pública, se permite.
Não é de admirar porque o manancial do grande saber público é a TV.
Sócrates, e muitos outros, podem permitir-se fazer o que bem lhes
apetecer porque desonraram o povo português a ponto de fazerem do Estado
um bordel! O espírito democrático ainda não chegou aos partidos, doutro
modo haveria membros que boicotariam tal disparate que só fala mal de
Portugal e dos membros dos partidos que se permitem o que em nenhuma nação
europeia de respeito se não permitiria.
Quando é que o povo regressa de férias
para pôr Portugal na linha? Sócrates como comentador na TV pública, é a
melhor prova de que Portugal não tem os pressupostos necessários para
poder mudar e que a classe política continua a apostar na corrupção e na
demagogia. O Bobo tem pele grossa e não nota o que acontece.
A cegueira é tanta que até se argumenta
que em nome da honestidade e da representação proporcional na TV se deve
tratar a todos por igual. Seria porém desonesto pretender-se, em nome da
honestidade, falar da desonestidade. O sistema rotativo confirma que a um
presidente PSD se sigue um socialista e o povo, sem entender nada do que
se passa em Portugal já se cansou de Coelho como antes de Sócrates. Neste
cenário, quem melhor que Sócrates para atrair um público feminino com
grande poder na votação!
Porque nos encontramos num enredo de
desonestidades consecutivas, o povo terá de aguentar uma desonestidade
rotativa resumida no progresso da continuidade do banal.
Naturalmente que cada qual tem
direito a honrar e louvar os seus "santos" mas querer, em nome da
desonestidade de uns, afirmar o direito à desonestidade dos outros é
perversão e deslealdade para com o todo. Esta
tem sido uma constante da república.
Eles bem sabem que os cães ladram mas a
sua caravana passa. O sistema de mafia branca que vive nas entranhas da
nossa república tira sempre proveito tanto do sucesso como da bancarrota.
O excessivo discurso partidário inquinou a nação. A luta política tira-nos
as forças que poderiam ser empregues na defesa de programas objectivos
servidores do povo e da nação.
Já outrora o povo gritava: soltem
Barrabás. E o sábio sermão da montanha diz: “não oponhais resistência ao
mau”. Mas o mesmo discurso diz também: "Bem-aventurados os que têm fome e
sêde de justiça, porque serão saciados."
António da cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@gmail.com
www.antonio-justo.eu
|