Acabo de regressar de Portugal com uma
certa melancolia pela beleza e riqueza dum país que sofre no corpo e na
alma como um canino amarrado a uma casota de raposas e predadores. O medo
e a raiva assolam um povo a viver cada vez mais na rua, sem poder entrar
em casa.
O povo ainda anda de pé mas é
conduzido pela mão da Troika e de instalados nas diferentes administrações
e representações que o conduzem docemente ao curral dos senhores.
Muitas pessoas “vivem da mão para a boca” e muitas outras na
angústia/revolta perante um Estado que cada vez interfere mais
negativamente na sua vida. Apesar da presença de personalidades sociais
responsáveis a dignidade humana cada vez é mais ultrajada.
Fomenta-se uma mentalidade mafiosa
que, a nível de discussão pública, deita achas para a fogueira duma
emotividade que ofusca a razão com o fumo de sentimentos difusos que vão
da raiva ao desespero e da inveja ao racismo. Um Estado sem rumo próprio
segue uma política subterrânea jacobina que ganhou especial expressão em
Portugal com as invasões francesas e com o republicanismo.
A luz do sol e a alegria de viver
encontram-se cada vez mais ensombrados. A falta de esperança leva a dormir
e torna-se motivo do não viver.
A grande cultura lusa sofre e é
depauperada por uma Comunicação Social que fomenta o miserabilismo popular
e a leviandade de muitos comentadores cínicos e convencidos que se
aproveitam dum certo voyeurismo e de opiniões entumecidas como se opinião
e realidade fossem a mesma coisa.
Muitos locutores do dia-a-dia
agarrados às banalidades noticiosas bombardeiam o povo com ideias, imagens
e sentimentos repetitivos lisonjeadores de amigos e desrespeitadores de
inimigos. Fomenta-se um
pessimismo amedrontador que inibe a própria iniciativa e o espírito de
investimento.
Como sanguessugas, até os meios de
comunicação social nacionais se fixam no negativismo de notícias dirigidas
ao sentimento. Quando alguém se enforca logo se juntam os leões e as
hienas à volta de imagens e ideias que fomentam a imitação. A TV pública
fala de suicídios do foro privado e faz render o peixe, como se se
tratasse de suicídios de motivação política realizados dentro da sala do
Parlamento. Cultiva-se o extremismo emocional e um voyeurismo que se
alonga nos telejornais até às profundezas dos canais de rádio. As coisas
são repetidas até à exaustão.
Observam-se controlos da ASAE a
restaurantes e empresas como se fossem mandatados por estrangeirados sem
consciência pela realidade local com um comportamento anti-regionalista ao
serviço de interesses centralistas anónimos e antinacionais.
Um sistema político servidor de
interesses individuais e partidários a nível nacional e de autarquias
continua a servir o compadrio da avalanche dos arrivistas criando postos
de trabalho na administração quando não há trabalho suficiente para os já
empregados. Uma mafia de rosto lavado dos lugares cimeiros de Câmaras e
administrações procura desestabilizar os seus subordinados criando um
clima de medo, desconfiança e intriga entre os empregados.
Arrasta-se o povo para um pessimismo
medroso e amedrontador. Num ambiente de tudo contra todos, tudo tem razão,
predadores e subjugados; só uma coisa falta: a consciência de
responsabilidade nacional.
A contestação social mais que
objectiva, é, muitas vezes, manipulada por grupos que vivem de mordomias à
custa do povo, sejam eles representantes dos trabalhadores ou dos
senhores. Um exemplo disto foi a última greve ferroviária que pretende
manter bilhetes gratuitos para os familiares dos empregados. Naturalmente
que todos os grupos têm direito a defenderem os próprios interesses; o
dilema de Portugal é encontrar-se nas mãos duma esquerda intransigente e
de senhores e capitalistas sem alma social nem nacional.
O último sintoma do estado doentio
grave e depravado de quem tem o dizer em Portugal, foi o facto José
Sócrates, que deveria estar sob observação judicial, aparecer como
candidato a comentador político nos canais da TV pública. Um atrevimento
que bradaria aos céus numa sociedade normal! A tal falta de discernimento
chegou um povo! A honra dos predadores é legitimada com a desonra da
nação. Os interesses partidários afirmam-se mafiosamente sem que haja
oposição qualificada. Com esta iniciativa, José Sócrates pretendia
aproveitar-se da lorpice da Comunicação Social para se preparar para as
presidenciais.
No meu belo e inocente país os
predadores são os senhores!
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@gmail.com
www.antonio-justo.eu
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