Com Nelson
Mandela, a voz da África produziu um eco harmónico no mundo, na luta
contra o racismo (regime-apartheid) e no fomento de uma sociedade
arco-íris mais justa.
Nelson Mandela
encarna o grito de África pela libertação e justiça; é um luzeiro que
se apaga na idade de 95 anos, a 05.11.2013, sendo ao mesmo tempo filho
e pai da África do Sul.
O condutor da
revolução dos negros contra a ditadura dos brancos filiara-se em 1944
no movimento da resistência ANC (African National Congress). Tinha o
objectivo de criar uma África do Sul em que a cor do rosto não
contasse, propagava a desobediência civil pacífica e o ataque às
infraestruturas do regime branco.
Com o massacre
de 1961, do regime branco contra os negros, em que a polícia matou 69
demonstrantes pacíficos e perante a proibição do ANC, Mandela
radicaliza-se e funda o grupo militante “Lança da Nação”. O
“inquietador” Mandela protela aqui a sua atitude de paz e torna-se
assim o líder da ala armada do movimento de libertação ANC.
Em 1962 é
aprisionado, sendo posto em liberdade, 27 anos depois, pelo presidente
de Klerk em 1990; este declara ao mesmo tempo o fim do Apartheid e
levanta a proibição do ANC. Em 1993 Mandela e de Klerk recebem o
prémio nobel da paz. Em 1994 Mandela foi eleito presidente da
república e em 1999 renuncia ao poder e distancia-se da política. No
seu mandato, preocupara-se com a reconciliação e desenvolveu projectos
e iniciativas de repartir terras e distribuir casas baratas aos negros
pobres.
A política
parece não ter espaço para heróis da liberdade nem para pessoas
honestas e sinceras. Numa África constituída por sociedades paralelas
não se torna fácil a governação. A insatisfação surgiu ainda na
presidência de Mandela e aumenta cada vez mais.
O governo-ANC
que durante os últimos 19 anos tem liderado os destinos do país e que
prometera postos de trabalho, igualdade e o fim da pobreza depara-se
com a insatisfação generalizada de negros e brancos. Mais de 50% dos
jovens encontram-se desempregados e as infraestruturas da nação em mau
estado. É lamentável que o ANC confirme hoje todos os clichês dos
preconceitos de racistas brancos.
A corrupção e a
falta de consciência democrática escurecem o futuro da África do Sul.
O actual presidente, com quatro mulheres, embora tivesse sido
companheiro de Mandela na luta, lidera o país no meio da corrupção.
Mandela
certamente que entrará no rol da História de grandes homens como
Luther king, Ghandi, Oskar Schindler e Aristides de Sousa Mendes.
Mandela foi
influenciado pelo amigo de longa data Walter Sisulu, testemunhando:
"Nasci para ser um governante, devido à minha ascendência, mas Sisulu
ajudou-me a perceber que a minha verdadeira vocação era servir o
povo”. Tentou ser sempre livre provando esta qualidade num momento em
que o poder o queria comprar, respondendo: “só as pessoas livres podem
negociar”.
O legado
político de Mandela não encontra terreno fértil nos meandros do poder.
Resta esperar que a África não só produza políticos como Mandela mas
que volte a produzir grandes homens da cultura como Agostinho de
Hipona e Tertuliano.
António da
Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu