A Alemanha é, depois da China, o país
de maior exportação mundial. É o centro do comércio internacional,
plataforma giratória para o tráfego rodoviário aéreo e marinho. No ano
2011 fez exportações no valor de 1,06 trilhões de Euros
(1.060.000.000.000 euros) e importações no valor de 902 bilhões
(902.000.000.000 euros).
Os produtos alemães impõem-se no
mercado mundial devido à sua qualidade e inovação. O aumento da produção
globalmente competitiva, a moderação salarial de sindicatos e
empregados, constituem a mistura que possibilita o milagre alemão. De
referir no entanto, que os produtos alimentares e de necessidades
básicas, são mais baratos na Alemanha do que nos países vizinhos.
O segredo da qualidade dos produtos
feitos na Alemanha vem do sistema dual (1) de ensino profissional
baseado na colaboração entre escola e oficinas patronais de cada região.
As empresas têm um grande componente familiar e continuam na tradição
das (guildas) associações profissionais medievais (2) . Na Alemanha,
ainda hoje são as câmaras do comércio e da indústria que examinam os
aprendizes e passam os diplomas profissionais.
Segundo uma investigação da OECD
sobre o ensino profissional em 17 países, a Alemanha recebe a
qualificação de muito bom. Países de grande relevância para o futuro,
como é o caso do Brasil e países emergentes deveriam orientar-se pela
Alemanha.
O ensino está todo ele orientado para
a aquisição qualificada duma profissão média, até mestre e para uma
especialização no ensino superior técnico e universitário.
A minha experiência, quer a nível
superior quer a nível de escolas do secundário levou-me a gostar dum
sistema que antes questionava com o receio de ser demasiado selectivo.
Durante o ensino obrigatório, os
alunos são obrigados a interromper a escola por algumas semanas
(geralmente no oitavo ou nono ano) para fazerem um estágio em firmas
liberais, industriais ou do comércio. As firmas colaboram com a escola e
estão enquadradas legalmente para o fazer. Há sempre professores
encarregados da relação aluno-oficina-escola. O aluno tem de passar por
todas as secções da firma e no fim fará um relatório avaliativo do que
fez e viu fazer. O relatório será depois analisado e qualificado em aula
na escola. Deste intercâmbio aproveita o aluno em termos de orientação
escolar e profissional e aproveita a empresa integrada no meio
ambiente.
Um dos segredos do “made in Germany”
está na interligação de ensino teórico e prático já nos verdes anos da
vida. Unem de forma excelente a teoria à práxis, além de contribuírem
para a integração das famílias, das escolas e das firmas na
aldeia/vila/cidade. Muitos dos alunos que fizeram o estágio nas firmas
deixam vestígios nelas que lhes podem facilitar a sua integração
profissional, uma vez acabada a formação.
O aluno alemão que escolhe o
currículo profissional médio, para tirar um curso de pedreiro,
electricista, padeiro, serralheiro, etc., depois do 9°/10° de ensino
obrigatório tem de frequentar a escola profissional durante três anos
num sistema de ensino dual. Isto é, passa, semanalmente, três dias na
oficina/escritório e dois dias na escola profissional do seu ramo.
Depois de três anos adquire a qualificação profissional com o grau de
oficial (Geselle), podendo depois doutros três anos de profissão
adquirir o grau de mestre, grau este que o habilita a poder fundar firma
do ramo. Os exames são feitos perante a Câmara do Comércio e da
Indústria. Estas é que estão habilitadas a passar os diplomas de oficial
e de mestre. Há também a possibilidade de, uma vez terminada a escola
profissional, frequentar escolas técnicas superiores.
Todos os jovens em formação e jovens
trabalhadores entre os 16 e os 25 anos têm direito, além das férias
normais, a 5 dias de formação político social por ano.
Um país que queira seguir as pegadas
de sucesso alemão deveria entrar em diálogo com as câmaras de comércio e
indústria das representações alemãs no respectivo país. As firmas alemãs
radicadas no estrangeiro ofereceriam uma oportunidade ideal para o
fomento dum tal ensino dado possuírem a experiência que trazem da
Alemanha.
Os chineses estão a manifestar grande
interesse pelo sistema de ensino profissional dual, enviando delegações
a escolas profissionais alemãs.
A capital da economia brasileira é S.
Paulo. A Câmara do Comércio e da Indústria de S. Paulo já está muito
activa neste sentido. O Brasil estaria bem aconselhado se privilegiasse
a Alemanha como modelo de formação profissional por todo o lado. A
filosofia das empresas alemãs ainda não se encontra contaminada pela
filosofia utilitarista doutras firmas só interessadas no produto e no
lucro. Com o tempo, ao abrir-se aos accionistas mundiais poderão dar-se
transformações. O alemão é trabalhador, sério e com vontade de ajudar
ajudando-se também.
O Equador tem um plano para
introdução do sistema dual. O Equador poderá com este sistema dar
resposta às tradições benéficas em favor dos autóctones que os jesuítas
iniciaram nos começos da colonização para os defender da especulação dos
comerciantes espanhóis. Estes para poderem explorar melhor os nativos
conseguiram da coroa espanhola a expulsão dos jesuítas.
Portugal depois do 25 de Abril,
deslumbrado pela ideologia, acabou com um sistema de formação
profissional de boa qualidade, então existente, para favorecer a
formação abstracta como se fosse possível transformar a nação numa
escola de candidatos a doutores. De referir que Portugal já tem algum
projecto de profissionalização em hotelaria em colaboração com alemães.
Pelo que observo, a reforma
universitária a nível europeu fica muito atrás do modelo alemão. A
Alemanha viu-se obrigada a reduzir o estudo do secundário de 13 para 12
anos para não ser prejudicada na concorrência internacional, porque,
doutro modo os seus alunos entravam na universidade um ano mais tarde
que nas outras nações.
Sindicatos Alemães mais responsáveis
que os seus parceiros noutros países
Se observarmos as lutas sindicais na
Alemanha e em países do sul constata-se uma atitude destes
diametralmente oposta perante o Estado e perante o patronato. Enquanto
no sul, em geral, os sindicatos se comportam como rivais na Alemanha
comportam-se como parceiros. Os do sul são orientados pela ideologia
enquanto os sindicatos alemães se orientam pela realidade social e
económica concreta. Os sindicatos alemães reconhecem que o segredo do
desenvolvimento do sucesso da Alemanha assenta na inovação,
produtividade e flexibilidade. São pragmáticos e por isso mesmo
interessados em não estragar a economia nacional e não abusando do
Estado em nome da ideologia. Entram em concorrência com o patronato mas
sem perder os interesses da nação e do bem-comum. Em vez da inveja
domina a ideia de pertença e esta assenta na família e nação.
São, naturalmente, questionados por
um precariado que não encontra trabalho ou se ocupa em actividades a
tempo parcial e que vê cada vez mais nos sindicatos uma força de
interesses grupais.
Em 1990, 35% dos trabalhadores eram
membros dum sindicato; hoje são-no apenas 20%. Encontram-se um pouco
desorientados pelo facto de os serviços terciários terem aumentado e
pelo facto do turbo-capitalismo internacional impor também na Alemanha
mais desigualdade entre as partes.
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