Entre os muitos
E-mails de felicitações pela “Carta aberta de um Português a Ângela
Merkel” houve um que via na “carta” uma “postura de joelhos” perante a
Alemanha.
Portugal é talvez,
na Europa, o país que mantem mais vivo no seu inconsciente o espírito
europeu, de que foi pioneiro na época dos descobrimentos.
Portugal
encontra-se, de facto, ajoelhado, a nível internacional, cumprindo uma
penitência semelhante à que vem do pecado original mas de que se não pode
limpar simplesmente.
A discussão
publicada em voga nos Media da “opinião correcta” europeia e em Portugal,
não me parece adequada à seriedade da crise que enfrentamos. Ela perturba
o espírito aberto e universal português, ao afirmar-se contra atitudes de
tendência “racista” mas, ao mesmo tempo, dão prevalência ao preconceito.
O problema de
Portugal é estrutural e faz parte da crise europeia. Aquilo que leva
muitas pessoas a esperar por um D. Sebastião é naturalmente a má situação
em que se encontram e o irracionalismo da política europeia e portuguesa.
Naturalmente que se
tivermos em conta as dívidas dos Estados europeus, Japão e USA, a coisa
mais viável será, um dia, a catástrofe económica de todos; em nós (sul), o
sintoma da doença comum é mais visível e os predadores do mercado
vingam-se mais ainda, na sua caça, nos que não têm pernas tão boas para
fugir.
Se
Portugal reflectisse sobre o
que lhe é genuíno (Guimarães, Sagres, crença original), aquilo que o fez
grande, teria ainda muito a dizer à Europa e ao mundo. Daqui deveria
partir o que urge fazer na Europa e que a poderia unir: os valores
originais da cristandade (Síntese do espírito judaico, grego, romano e
bárbaro), valores humanistas universais e um coração onde todo o mundo e
todos os povos pulsam. Doutro modo continuarão a espalhar-se os espíritos
de antanho que tinha guarida nos castelos: o poder e o controlo!
Temos que reconhecer que a EU ainda não apresenta uma verdadeira
alternativa aos Estados nacionais.
Os USE não se devem perder de vista!
O Problema de
Merkel é ser, também ela, um elemento ao serviço do adiamento da
catástrofe comum, dum sistema europeu corrupto beneficiador da anonimidade
e das multinacionais. Como pode um português concorrer com a alta
tecnologia alemã e como ordenado dum chinês de 50 Cêntimos? Isto foi
querido pelos grandes!
“Em 1953, a
Alemanha …ficou sem dinheiro para fazer mover a atividade económica do
país - tal qual como a Grécia atualmente”. Os países credores
internacionais (entre eles a Grécia) tiveram consideração pelos problemas
de reconstrução da Alemanha e facilitaram-lhe a recuperação económica
mediante renúncia a parte dos créditos. A Alemanha deveria ter isto em
conta possibilitando aos países do sul capital suficiente para poderem
mover a sua economia. Naturalmente, não se pode tornar na fiadora de todos
os países carenciados e menos ainda em seu bode expiatório! Importante
é que a Alemanha seja fiadora para proveito de Portugal e não para que os
predadores internacionais assegurem melhor o seu dinheiro, lucrando apenas
eles com isso. Importante é também que a balança económica entre
países a nível de importação e exportação seja equilibrada, favorecendo-se
uma maior importação dos países deficitários. A Troika exige reflexão e
mudança mas apenas no seu sentido. A EU é irreflectida e em muitos
aspectos antieuropeia. A Alemanha investe muito mais nos imigrantes turcos
do que nos imigrantes doutras nacionalidades. Investe onde vê
contrapartidas económicas (grande mercado turco) mas neste caso privilegia
precisamente aqueles que são contra o espírito europeu! A mera
consideração económica sacrifica valores civilizacionais que depois faltam
para se conseguir um consenso baseado no génio europeu. Acusam-se os
países do sul de consumirem mais dinheiro do que o que produzem. Por outro
lado o banco central europeu cria notas do nada para apoiar apenas os
bancos e os que com eles jogam.
A emigração da
indústria empobrece ainda mais os países do sul. Encontramo-nos numa fase
em que as pessoas são preparadas para afirmarem a “opinião correcta”
publicada e para se renderem incondicionalmente a poderes anónimos: o
fascismo com a sua promiscuidade entre Estados e capital afirma-se cada
vez mais no inconsciente europeu. A nível internacional tem-se
espalhado na opinião pública um socialismo rasteiro, um turbocapitalismo
totalitário aliado à ideologia árabe sem alguém que apresente observações
razoáveis ao que acontece. O problema do futuro da Europa e de Portugal é
uma questão moral e de princípios. Aqueles que nos aparecem como inimigos
não o são, na realidade. Nós é que somos demasiado fracos e permitimos que
eles avancem.
Os países do sul
encontram-se num beco sem saída. Portugal deveria recusar-se a pagar as
dívidas. Os credores ao exigirem juros exagerados assumiram também o risco
que qualquer fiador corre. Porquê esta promiscuidade entre Estados e
bancos? O pior que Portugal poderia fazer seria aceitar renegociar as
dívidas, como fizeram impensadamente os Gregos. Através das últimas
negociações responsabilizaram a nação grega e assumiram a
responsabilidade, a posteriori, também pelos causadores do desastre de que
também eles são vítimas, coisa que não estava prevista nos acordos
anteriores. Com os novos asseguraram os seus direitos os dinossáurios
financeiros internacionais.
Não questiono a
escolha das elites, o que questiono é a mentalidade que as envolve e o
facto da generalidade dos que as escolhem se encontrarem demasiadamente
condicionados e longe do acontecer económico e político para poderem
formar opinião à altura do problema. A opinião pública corresponde à
opinião publicada e não à realidade factual!
Não me ajoelho
perante Merkel mas pelo que oiço na imprensa portuguesa e agressões
latentes em muitas pessoas, preocupa-me, o espírito que chega a atingir,
por vezes, a expressão racista. Estou bem consciente de que o que acontece
agora nas margens da Europa atingirá também o centro; a intensidade da
crise será só uma questão de tempo. A irresponsabilidade como Mário Soares
e outros falam, que deveriam saber um pouco mais do que o geral da
população, é preocupante; isto leva-me a apontar, em artigos de
perspectivas diferentes, para a complexidade do problema.
O problema europeu,
para mim, é uma questão de consciência/identidade europeia que tem actuado
sem uma ética de base, e por isso decadente. Destrói sistematicamente a
herança judaico-cristã e greco-romana em favor duma ideologia pragmatista,
bárbara, sem tecto metafísico que a cubra. Portugal segue a mesma
onda de derrocada e de abdicação que a Europa segue, perdendo, deste modo,
qualquer autoridade moral para chamar a atenção da Europa para os seus
grandes ideais atraiçoados. Compreendo a queixa de Portugal mas não o que
faz para se recuperar os valores que o tornaram grande, como civilização.
Ao observar o
discurso do dia-a-dia ganha-se a impressão de que “casa em que não há pão
todos berram e ninguém tem razão”. Neste momento difícil em que nos
encontramos seria importante a activação da inteligência emocional para
não cairmos no preconceito banal.
Naturalmente que a
Alemanha tem sido muito radical e unilateral nas exigências que tem feito.
A política e as instituições europeias têm falhado e poem os custos dos
erros institucionais na conta do povo e dos países desprotegidos. De
facto, em nome do bem-comum, os Estados europeus encontram-se atolados
pelo próprio paternalismo e têm aturdido o povo com a opinião publicada;
os portugueses têm aguentado corajosamente as investidas dum
turbo-capitalismo radical e desumano. Quem mais se aproveitou das
instituições e mercados comunitários terá de assumir responsabilidade e
também ceder a muitas das exigências de países que se encontram na
iminência
da falência.
O facto de Merkel
não ter razão (por só adiar a derrocada em que nos encontramos), a crítica
que se lhe faz também não é razoável. Não se constrói uma USE sem
compromissos vinculativos. Uma crítica a fazer-se terá de ser dirigida aos
proteccionismos que protegem os países e as firmas mais fortes e destroem
empresas e países sem capacidade investidora. Os paternalismos nacionais
chegam a usar os dinheiros dos impostos para subsidiar interesses de
multinacionais farmacêuticas, etc. impedindo assim uma concorrência leal.
Os países fortes
subsidiam fiscalmente as suas empresas, o que países menos fortes não o
fazem e isso cria uma situação de desequilíbrio na concorrência das
economias entre países. As empresas ainda rentáveis para os Estados
pequenos são-lhe tiradas em nome duma privatização que não é leal dado vir
encher apenas os bolsos dos predadores do alheio. Destrói-se assim a
classe média e a colectividade. A legalidade em que se baseia a EU com a
sua Troika está ao serviço da imoralidade de elites anónimas que engordam
à custa do mal que fazem a outros.
Países em perigo de
falência pensam que se a Europa alterasse os critérios de convergência de
défice de 3% para 5%, relativamente aos critérios de convergência,
resolveriam metade do problema! Isto porém concederia uma vantagem também
aos povos mais fortes e apressaria a derrocada conjunta.
Portugal para
voltar a ter o brilho do Ocidente em questões de génio e de identidade
ocidental terá de abandonar o jacobinismo de que se infectou com a
revolução francesa, terá que trabalhar de maneira a produzir o suficiente
para se alimentar sem precisar de recorrer continuamente à emigração usada
como credora (com remessas) de uma sociedade que vive acima das suas
possibilidades.
O espírito
português assim como nasceu das gentes galaico-portuguesas do norte,
também morrerá com elas. Os ventos de Bruxelas e de Lisboa têm-se revelado
contra o génio português!
|