Segundo os dados, agora oficialmente,
vindos a público, os islamistas ganharam as eleições parlamentares no
Egipto, atingindo 70,4 dos mandatos.
As listas do braço político da
influente Irmandade Muçulmana „Partido da Liberdade e Justiça“ (PLJ)
conseguiram 45,7% dos assentos no parlamento. Em segundo lugar ficou o
“Partido da Luz “(Hizb al-Nur) aliados dos Salafistas do Al-Nur que
conseguiu 24,6% dos lugares. O partido Wassat (islamitas moderados)
conseguiu 8,4% e o partido liberal “Aliança Egípcia” 6,6%.
Os Salafistas do Al-Nour pretendem a
destruição de monumentos históricos, (p. ex. as Pirâmides dos Faraós)
porque não dão testemunho do islão. Esta exigência não é nova. Já no
Afeganistão islamistas tinham arruinado grandes estátuas de Buda que
eram património mundial.
Aqueles que saudaram o derrube do
regime do presidente Mubarak equivocaram-se. Não contaram que,
geralmente, a situação no mundo árabe só tem possibilitado a escolha
entre a cólera ou a peste.
Grande parte do povo egípcio sofre
porque não tem pão, nem formação, nem voz. O clero islâmico é fiel ao
sistema, encontrando-se sempre do lado do poder. A gloriosa excepção é a
Turquia de Ataturk enquanto garantida pelo poder militar. De resto os
governantes encontram-se na dependência da bonomia das mesquitas que às
sextas-feiras tomam muitas vezes posição. A aceitação de radicais na
população também se deve ao facto de alguns grupos de islamistas se
empenharem pelos mais pobres e também os ajudarem com dinheiros vindos
da Arábia Saudita.
A imprensa ocidental aquando das
rebeliões na África do Norte, no entusiasmo do acontecimento, estoirou
todos os foguetes antes da festa. Agora que a realidade vem à tona, os
mesmos jornalistas contentam-se com informação tipo nota encavacada
nalguma esquina do jornal. Quem, durante a primavera árabe, com sangue
frio, apontava para a realidade, e para o equívoco da comunicação
social, era considerado desmancha-prazeres.
A imprensa europeia, ordinariamente,
quando informa sobre questões árabes, discrimina-a pela positiva. Isto
tem muito a ver com a dependência europeia do óleo árabe e com a
fraternidade estrutural comum ao islão e ao comunismo.
O árabe só concebe a liberdade dentro
do sistema islâmico enquanto o ocidente a concebe aberta, também fora
dele. Enquanto para o ocidente também “o próximo” faz parte do sistema,
para o árabe só o crente islâmico faz parte dele. Por isso a liberdade e
a mudança que vem de fora constitui uma ameaça ao sistema.
A revolta não foi gerada no seio do
povo, foi fruto de ideologias masculinas contra ideologias masculinas. O
ideário árabe é extremamente masculino. Uma mudança para melhor só será
possível quando a feminidade fizer parte dele.
O busílis dos problemas árabes está
no facto de religião, paz e liberdade serem qualidades femininas.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
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