O colonialismo moderno apenas
acrescenta ao antigo a qualidade do seu cinismo. Não faz guerra,
encontra-se simplesmente em “missão”. Intervém, não em nome do petróleo
e das matérias-primas mas em nome da democracia, dos direitos humanos,
da defesa de grupos ameaçados, em prol da estabilização. “Arranja” até
aliados dentro das sociedades islâmicas que lhe pedem ajuda. Assim, o
zé-povinho continua consolado nas suas quintas a queixar-se do
colonialismo de antanho e distraído do colonialismo moderno de que vive
também. Para branquear o próprio rosto, no Afeganistão e no Norte de
África, fala de conversações com talibans moderados, com islamitas
mitigados e quejandas, como se houvesse moderação e esta fosse possível
num sistema político-religioso déspota.
Os 28 ministros da defesa dos 28
países da aliança, na sua reunião de 3.02.12 em Bruxelas, persistiram em
continuar a guerra, que apelidam de “missão”, até 2014. Os falcões da
guerra gostariam de ver a permanência da Nato no Afeganistão ainda por
mais tempo. Agora trata-se de ver quais os países que abandonam primeiro
o Afeganistão, para não ficarem todos na História como renitentes do
fracasso. Falam de já terem entregado 21 das 34 províncias às forças de
segurança afegãs mas na realidade isso só se concretizou em 8.
Durante e depois das guerras só ganha
a indústria da guerra e seus adjuntos. Facto é que a Nato perde todas as
guerras em terrenos muçulmanos. A ganância do petróleo turba-lhe a
razão.
Quando se encontram encurralados pelo
sistema muçulmano, então falam de guerras e guerrilhas tribais, de
Talibans e de terroristas. Esquecem que o sistema muçulmano é, na sua
essência, um sistema político e social de guerrilha ad intra e ad extra
perpetuado pela religião.
Em dez anos de intervenção a Nato não
conseguiu sequer criar alternativas ao cultivo da droga no país. O
Afeganistão continua a produzir 90% do ópio para o consumo a nível
mundial.
Depois de 10 anos capitula a Nato
como capitulou a Rússia. Quem se mete com os muçulmanos apanha.
Não precisam de guerra, basta-lhes a guerrilha. Os
nossos antepassados lusitanos usavam a mesma estratégia contra os
Romanos e estes só depois de 200 anos de luta conseguiram dominar os
guerrilheiros de Viriato mas só depois de ajudados pela traição.
As direcções da Nato admiram-se das
forças de segurança afegãs que formaram terem no seu meio homens bomba
que repetidamente assassinam os colegas ocidentais à margem das áreas de
batalha. Falta-lhes a fé!...
A derrota da Nato no Afeganistão é
mais uma depois da do Iraque. O problema é que depois da guerra o
Ocidente continuará a despender como continuam a pagar caro a “paz
muçulmana” no Kosovo.
Actualmente encontram-se 130.000
soldados estacionados e desesperados no Afeganistão. Quebram-se a cabeça
não compreendendo como é que tanto poder militar não consegue ter a
força para dominar o terrorismo. Equivocam-se ao pensar que este, é o
fruto de algumas cabeças desorientadas e não a flor da seara muçulmana,
como nos mostra a história contemporânea e a história da sua origem.
Em 2014 os soldados da Nato
retirar-se-ão mas para não darem a impressão de capitulação continuarão
a pagar quotas elevadas de “reparação”. A sociedade civil herda os
encargos de “reparação” além das famílias de soldados destrocadas pela
dor e pelas mortes.
Cabul é uma cidade de muros intra
muros
O Negócio dos islamistas é assassinar
e meter medo
Em Cabul, até os hotéis, onde vivem
estrangeiros, fazem lembrar prisões. Encontram-se cercados por arame
farpado para que os jornalistas, que vivem da informação guerreira,
possam, em paz, mandar mensagens optimistas para a opinião publicada nos
países da Nato.
Quem não trabalha para o estrangeiro
não precisa de muros, dizia, há dias, um jornalista afegão numa
reportagem sobre o Afeganistão no ZEIT. Apesar de tudo, a pobreza e a
ideologia vivem mais recolhidas em Cabul.
A sociedade islâmica, geralmente,
prescinde duma ordem que não seja assegurada pelo poder das mesquitas ou
que não se encontre nelas. Por isso uma ordem civil forte com polícia e
militares submetidos a um governo neutro é combatida por um sistema que
se quer revolucionário islâmico com expressão política às sextas-feiras
depois das orações nas mesquitas.
Os militares ocidentais não patrulham
a cidade para que a cor das suas fardas não provoque o sentir islâmico.
Os soldados ocupantes são tolerados pela população para lhe
possibilitarem a segurança nas visitas aos familiares que vivem a 30 Km
de Cabul, para localidades mais longe torna-se impossível a protecção.
Grande parte do Afeganistão é
inacessível devido ao perigo de ataques. É mais cómodo para os soldados
viverem no gueto e deslocarem-se de avião ou de helicóptero. Cada
soldado ocidental morto constitui um perigo porque um acumular-se de
tais notícias poderia acordar o povo e este poderia começar a
perguntar-se sobre as razoes da presença estrangeira no Afeganistão.
Isto contrariaria a estabilidade da opinião pública a manter pelo
sistema dos países da Nato. Por isso a melhor informação é não haver
informação, como acontece relativamente ao Kosovo. Para evitar mais
mortos as forças militares estrangeiras limitam-se a viver em guetos
dentro do grande gueto. Um compromisso de sistemas no grande sistema.
Naturalmente que o negócio dos
islamitas é assassinar e meter medo às pessoas. O caos e os atentados
(guerra civil) são o húmus que permite aos mais fortes o domínio da
natureza e da cultura. Por isso odeiam como a peste qualquer tentativa
de organização estatal que não assente nem assegure a defesa dos mais
fortes. A renúncia ao direito de defesa e de vingança individual em
benefício duma supra-estrutura Estado, como acontece nas sociedades
ocidentais constitui um absurdo.
Também é verdade que o Afeganistão,
antes da invasão ocidental só conhecia a ilegalidade, a pobreza e a
guerra. Agora tem uma organização policial mas o Estado não funciona. A
constante é a guerrilha cultivada à sombra das mesquitas. Desde 1996,
aquando da conquista do Afeganistão pelos talibans, vive-se em guerra
civil.
A intervenção da Nato teve a vantagem
de dar a provar os benefícios da paz a alguns. Uma geração de crianças,
que cresce agora à margem da guerrilha, aprende a gostar da paz. Isto é
positivo muito embora o medo continue uma ameaça contínua.
Os povos muçulmanos ainda têm uma
grande caminhada a fazer em direcção à sociedade civil. Esta porém só
poderá ser fomentada através dum sistema militar ditador como aconteceu
na Turquia. Todas as outras estratégias têm-se revelado como perda de
tempo. Para isso teria uma classe militar laica de constituir uma
sociedade económica forte. A longo prazo talvez conseguissem criar
biótopos sociais desejosos duma liberdade não açamada à religião. (O
exemplo da Turquia já se encontra em perigo).
O Ocidente, que só percebe da sua
ideologia, não aprende e por isso estará condenado a seguir apenas os
seus meros interesses económicos e estratégicos dando uma no cravo e
outra na ferradura.
De resto, o Ocidente continuará a
lançar trigo nos moinhos do islamismo em troca de petróleo e de matérias
primas. Este só pode ser reformado com uma força interna que opere à
altura e com os mesmos meios da estratégica muçulmana. |