Nos textos de
Terça-feira santa, Jo 13,21-38, assistimos à cena em que Jesus apresenta
o seu amigo traidor. “Um de vós me há-de atraiçoar.” Precisamente aquela
pessoa em que Ele tanto confiava, Judas Iscariotes, o tesoureiro do
grupo. Ele era quem mais tinha as ideias de Jesus na cabeça mas que
andava com a revolução no coração. Judas um homem inteligente e bom
deixa entrar em si as trevas. Abandona a Luz e não volta mais.
Tal como em
situações do nosso dia-a-dia, logo se levanta um outro amigo, Pedro,
manifestando o seu escândalo pelo que se está a passar! Jesus que o ama
e conhece a essência da realidade humana e da natureza responde-lhe com
doçura: Pedro, hoje mesmo, “antes que o galo cante, tu me negarás.” De
facto, Pedro, como cada um de nós, negou a Luz três vezes, mas depois
reconhecendo-se luz também voltou a ela.
Dois
encontros com o Mestre de Israel, dois encontros com a Vida. Duas
maneiras de estarmos na vida! Judas e Pedro negam Jesus. Em Judas
Iscariotes e em Pedro manifestam-se partes da nossa identidade
individual. Trazemos em cada um de nós João o amoroso, Madalena a
confiante, Pedro o testemunhador e Judas o traidor, como os textos da
Semana Santa nos mostram. Tudo fazendo parte duma realidade que se quer
boa.
Judas não
quer aceitar que Jesus aposte apenas na transformação individual como
fundamento e meio de chegar à paz social. Não quer perder tempo
investindo em processos de mudança que só, a longo prazo, prometem a paz
e a justiça. Quer a justiça já e, segundo ele, esta adquire-se mediante
insurreições populares. Judas, ao contrário de Jesus, acreditava na
revolução violenta, na revolução lá fora, no levantamento do povo contra
os romanos. Desconhece que o impulso que o guia é o mesmo que tem levado
os povos, de revolução em revolução, a adiar a Humanidade e a protelar o
desenvolvimento da História.
Desiludido de
Jesus, Judas abandona o grupo dos discípulos, durante a noite. Na noite
da vida, este homem bom, que só quer o bem do povo, ao afastar-se da luz
passa a ser dominado pela lei das trevas. Nela, o amor e a compreensão
dão lugar à hora do ódio e da vingança. Com Judas procuramos a via da
solução que leva ao beco sem saída, como podemos ver no Iraque, no
Afeganistão, na Líbia e na nossa maneira de governar e construir
relações. Judas é a alternativa da vida que nos leva ao beco da guerra;
encontram-se sempre muitas razões intelectuais para a fazer.
O encontro
com o outro (Jesus), com o ser profundo das coisas, muda a vida a uma
pessoa. O encontro verdadeiro muda-nos no sentido da luz ou da treva.
Uma vida no
desencontro é uma vida em segunda mão. O desencontro acarreta más
consequências, como nos mostra o texto de quarta-feira da paixão (Mt.
26,14-16).
Jesus pregou,
consolou, curou mas o seu acto de salvação foi por ele sofrido, era um
processo am mesmo tempo interior e exterior. Foi atraiçoado, vendido,
crucificado. Não procurava fora o que não estava dentro dele. Neste
processo realiza-se salvação. Não há soluções fora, a solução é a
realização, e esta é processo vivencial e não uma solução que se vai
buscar ao sótão das ideias!...
Na sua
paixão, que é, em parte, a nossa paixão, torna-se visível a nossa parte
escura, a nossa crueldade barbárica, de ontem e de hoje. A paixão de
Jesus continua hoje no Afeganistão, na Líbia, no Japão, no meu país, na
tua casa e na minha. Ontem como hoje sobressai em mim uma das
personalidades: Pedro ou Judas.
Aquele que
foi condenado e executado às portas de Jerusalém – é o nosso rei (rei
dos Judeus). Ele morreu segundo a lei. A lei possibilita a produção de
armas com que outros são mortos, segundo a lei pessoas são perseguidas
ou impedidas de viver.
Somos mais
que espectadores da vida. Também Jesus não tinha ninguém que o
defendesse. Todos o abandonam; na sua fuga seguem o medo das próprias
sombras.
Maria unge
Jesus com bálsamo em Betânia (Jo 12,1-11) e enxuga-lhe os pés com os
seus cabelos. Com este gesto quer honrá-lo realizando o acto de unção
como era costume na sagração dos reis e dos ungidos de Deus.
Maria, uma
mulher, assume a função de coroar. Em representação da humanidade e da
natureza, realiza este rito, como uma sacerdotisa, que reconhece, de
antemão, a morte e ressurreição da vida em Jesus.
António da
Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu |
ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.
Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .
PUBLICAÇÕES
- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.
- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel
- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)
- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)
- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.
- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.
Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.
http://blog.comunidades.net/justo |