No sentido de proteger relações
duradoiras, a Igreja Evangélica de Kurhessen-Waldeck, abençoa pares
de sexo igual (homossexuais). Nesta Igreja passa-se, oficialmente, a
dar a bênção a pessoas homossexuais. Com a bênção, a união de
parceiros recebe caracter confiável e permanente, tornando-se, ao
mesmo tempo, em sinal contra a troca frequente de relações ad hoc. O
sínodo evangélico deste Estado reformou também a lei do serviço
paroquial para párocos e párocas, abrindo assim as portas a párocos
homossexuais. 80% dos sinodais aprovaram o texto e os restantes 20%
votaram contra ou abstiveram-se.
Apenas um problema de luta entre
maiorias e minorias? Um advogam a leitura acrítica de textos
bíblicos, outros, o humanismo e o progresso.
Para uns estas medidas significam
um afastamento da instituição da tradição bíblica sacrificada ao
espírito do tempo. Para eles a Igreja nunca poderá aprovar uma
prática "contra-natura" e fechada à vida. Por outro lado a Igreja
faz casamentos de pessoas em idade fora do ciclo da reprodução.
Alguns argumentam que a Igreja só
condena a homossexualidade mas que tem compreensão e caridade pelos
homossexuais. Assim, colocam os homossexuais numa situação de
coitadinhos. Se se aceita os homossexuais mas não se aceita que eles
pratiquem a sua homossexualidade, significaria que s teriam de ser
celibatários e de renunciar ao amor íntimo (parceria amorosa). Para
um homossexual, porém, a sua maneira de amar é sentida como natural
e para cumprir o preceito teria de viver contra a natureza.
A questão torna-se mais difícil
num tempo em que há frentes muito duras escondendo-se, por trás de
movimentos homossexuais organizados globalmente, grandes forças e
agressão contra a Igreja Católica.
Há homossexuais que vivem em
contínuo conflito escondendo a própria homossexualidade perante a
sociedade e perante a Igreja. Isto leva homossexuais crentes a viver
com o problema ou a afastarem-se da Igreja. Muitos homossexuais têm
uma tendência especial para a religiosidade, dado viverem em si, de
maneira especial, uma parte da feminidade. Os homossexuais católicos
são obrigados a ter uma perturbação na sua relação com a Igreja
instituição.
Segundo C.G.Jung, cada pessoa tem
em si potencialidades masculinas e potencialidades femininas com
correspondentes tendências homossexuais escondidas e não vividas, o
que torna o combate de uns e de outros mais aferrado.
A bênção é também uma
consequência da misericórdia divina a ter em conta na pastoral.
Irmana-nos a todos a luz e a treva. O que de um lado parece luz
revela-se do outro lado treva e vice-versa.
Sob o ponto de vista pastoral
deveria, cada comunidade, cada pároco poder decidir, a partir da
situação concreta, a possibilidade da bênção. Todos precisamos do
amor de Deus e duma comunidade. O cristão e o não cristão não devem
julgar uma outra pessoa pelo facto de ela ser homo ou heterossexual.
“Por que olhas o cisco no olho de teu irmão e não enxergas a trave
que há no teu? …Não julgueis e não sereis julgados” – dizia o
Mestre.
Seria óbvio aceitar a realidade
de que, muitas vezes, o homossexual, com a sua inclinação natural,
tal como o heterossexual, se encontra e vive em harmonia consigo e
com o mundo. Porque criar desarmonia onde ela não está? Na natura
tal como na cultura há regras e excepções a elas. Porque não aceitar
concretamente a regra de que não há regra sem excepção? A tarefa da
Igreja não se pode esgotar no seu aspecto didáctico-pedagógico. A
pastoral, no encontro das pessoas, no terreno, não se pode esvaziar
na defesa da ortodoxia mas sim integrá-la numa orto-praxia. Moral
não é nenhuma mordaça, é apenas um capítulo do grande livro do
cristianismo.
Deus criou o mundo, Deus criou
homossexuais e heterossexuais e verificou que tudo era bom. Só assim
poderemos viver e celebrar a paz. Só assim nos encontraremos todos
em casa.
A característica comum a todo o
humano é a fragilidade, são as faltas a todos comuns. No momento em
que as não tivéssemos deixaríamos de ser humanos, de sermos reais.
Somos peregrinos num mundo peregrino, não vale a pena sobrecarregar
a mochila que cada um traz ou a dos outros com pesos que impedem o
caminhar em conjunto. Quem me legitima a limitar Deus e a moral à
sebe do meu pensamento se ainda não descobri sequer quem sou eu?
Porque não meditar e verificar que aquilo que combatemos fora de nós
(no outro) é o que temos dentro de nós? O combate distrai-nos de nós
mesmos (da nossa ipseidade), impede-nos de nos descobrir no outro e
de acariciar o outro em nós. Isto não é cristão.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo católico
antoniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu