As centrais
nucleares para produção de energia baseiam-se numa tecnologia humana
agressiva que não respeita a terra: aqui e acolá, revelam-se como bombas
atómicas caladas e proporcionam-se a atentados terroristas. A catástrofe
de Chernobyl em 1986, a maior de todos os tempos, ainda continua a fazer
vítimas. O acidente no reactor nuclear de Harrisburg (1979 USA) ainda
irradia na memória. Fukushima no Japão, onde as centrais atómicas eram
tidas como as mais seguras do mundo, causa agudas dores de cabeça à
política e aos produtores de energia. Um busílis: um problema
tecnológico não resolvido a par dum mundo que para o seu desenvolvimento
precisa cada vez mais energia.
Actualmente
existem no mundo mais de 400 centrais atómicas.
O perigo
sempre imanente da dependência do petróleo árabe fez esquecer os medos.
Fugas de radioactividade e o risco dos resíduos radioactivos das
centrais atómicas foram abafados. Até hoje não se encontra solução
tecnológica para o lixo atómico. Os modelos de segurança têm-se
reduzido ao mínimo que a lei exige e não ao máximo da segurança que uma
tecnologia poderia desenvolver. No Japão o Tsunami atingiu 23 metros
o que facilitou a inundação por cima dos muros de 18 metros que
protegiam as centrais atómicas. Sabe-se que já em 1896 (HNA 29.03.2011)
um Tsunami no Japão tinha atingido 38 metros de altura. Negligência!
As eleições
no Estado de Baden-Vurtemberga mostraram que o povo alemão é
definitivamente contra a política atómica até agora seguida. Um só ramo
da política passou a determinar o sucesso do partido Os Verdes. O país
transforma-se mas não se torna melhor! Os alemães querem uma tolerância
zero para os riscos. Ao medo dos cidadãos, perante o perigo das
irradiações, segue-se o medo dos políticos perante o povo. Tudo
reacções em cadeia!
Sob a pressão
da população, a Chanceler alemã, Doutora Ângela Merkel, criou uma
Comissão Ética para rever, em três meses, a sua política atómica.
Sete centrais atómicas devem ser desactivadas e as outras 10 devem
tornar-se supérfluas, com o tempo. Manifesta-se consenso, entre os
partidos, da necessidade de se desistir das centrais nucleares. Os
Verdes já atiraram com a data da desistência para 2017. O antigo governo
de Schröder apontava para 2020. A Chanceler, sob o susto do cismo,
reage: “Se nós conseguirmos atingir o objectivo mais rapidamente ainda
melhor!”
Os cidadãos
continuam cépticos e receiam, no meio de tanto activismo, táctica
política. A questão que se põe é da rapidez com que se quer realizar a
mudança e com preços pagáveis para os consumidores.
A energia
atómica só é mais barata pelo facto dos riscos não serem incluídos nem
assegurados nos preços. No caso de desastre, quem os suporta é a
população. Em 1992 o Instituto Prognos calculou em 5.000 bilhões de
Euros (62.000 euros por habitante) os danos materiais duma hipotética
catástrofe nuclear (GAU) na Alemanha.
Em comparação
o Projecto Desertec (Centrais de energia solar no deserto), destinado a
fornecer energia limpa, foi avaliado em 400 mil milhões de euros, isto é
572 euros por europeu e cobriria 15% das necessidades de consumo
energético na Europa. O grande obstáculo inerente a este projecto é que
continuaríamos sob o controlo e dependência árabe e este não oferece
confiança nenhuma.
De facto as
centrais nucleares são como autos sem travões. O lucro não pode
continuar a ser o critério promotor principal. Para tonarmos o nosso
planeta mais amável e humano, teremos de mudar de mentalidade e, neste
sector, recorrer às energias regenerativas. Um director da EON diz
que seria possível substituir o Urânio, o petróleo, o Carvão e o gás por
vento, água, sol e massa biológica até 2030.
Exige-se uma
nova política de energia. A percentagem da energia produzida por
centrais nucleares alemãs, no consumo alemão, é de 20%. O recurso às
centrais de Carvão corresponde a grandes emissões de CO2 com o
consequente aquecimento da atmosfera. A desistência da produção de
energia através de centrais nucleares significaria num primeiro momento
um grande impulso de centrais de gás e das energias renováveis,
especialmente as eólicas e fotovoltaicas.
A Central
nuclear Biblis na Alemanha gera 13.000 GWh (horas Giga watt) de energia
por ano. As 21.000 instalações eólicas que existem na Alemanha produzem
um total anual de 38.000GWh. Isto significa que para gerar a energia
correspondente à da Central Nuclear Biblis são precisas 7.200
instalações eólicas.
Hoje na
Alemanha 17% da energia é ganha de fontes renováveis, presumindo
atingir-se em 2020 os 35 até 38%. O maior problema da energia solar e
eólica está na sua irregularidade. Segundo a revista Der Spiegel
12/21.3.11 a energia eólica, nalguns dias de outono, é suficiente para
tornar supérflua a energia nuclear mas na maior parte dos dias do ano é
insignificante. Também os painéis de energia solar fotovoltaica produzem
em alguns dias de verão mais energia do que toda a Alemanha precisa, mas
geralmente produzem pouco atendo ao céu enevoado! O vento no mar é quase
constante o que encoraja produtores a construírem instalações eólicas no
mar. Fornecedores alemães de energia tencionam até 2020 conseguir aí um
rendimento constante de 10.000 Megawatts o que corresponde a um oitavo
do gasto máximo alemão.
Os 4 maiores
fornecedores de energia da Alemanha têm um lucro de 20 mil milhões de
Euros.
A debilidade
e sonolência dos povos podem ser constatadas na reacção popular à
catástrofe de Fukushima. Tem-se a impressão de as centrais nucleares se
terem tornado perigosas a partir da tragédia de Março. Na sua tarefa de
exploração da terra e do mar, a política, a economia e a sociedade agem
sem saberem uns dos outros. Sob o escudo do dinheiro e do progresso,
tudo tem valido para andar para a frente!
O físico Hans
Joachim Schellnuber resume a problemática da actualidade dizendo “
Nós saqueamos ao mesmo tempo o passado e o futuro para o excesso do
presente – isto é a ditadura do agora”.
O Homem
tem-se revelado um mau administrador da natureza e da sociedade. Tudo o
referido pressuporia que se crie um novo modelo de vida e uma
correspondente mentalidade. Para isso será preciso começar a sentir-se
com a natureza, com o passado e com o futuro.
As gerações
futuras têm direito a ter melhor tempo, menos calor e menos tempestades.
Não as podemos reduzir a herdeiras dos perigos da energia atómica e de
outras tecnologias, nem tão-pouco torná-las herdeiras das nossas
dívidas. Para isso seria óbvio que as gerações futuras fossem
defendidas na lei fundamental da nação por parágrafos que obriguem a
política e a economia a agir responsavelmente. A abundância de uns é a
fome de outros o presente de uns é a ausência de futuro para outros!
Os conflitos
do futuro serão conflitos em torno da energia e das migrações. |