ANTÓNIO JUSTO...

Parto natural como herança cultural mundial

Na minha cidade de Kassel, 40% dos nascimentos dão-se através de operação cesariana. No Estado do Hessen, Alemanha, a média de cesarianas em 2009 foi de 33,6%.  

Muitos optam pela operação em vez do parto natural, embora não haja indicação medicinal que justifique a intervenção médica. Factores determinantes para a prática não são apenas o medo das dores de parto mas entre outros motivos a vontade de determinar o nascimento em data escolhida. Por outro lado, muitos médicos favorecem a cesariana porque há pais que, no caso dum parto natural em que o bebé sofra alguma lesão, colocam o caso em tribunal reclamando indemnização. A intervenção cirúrgica também se torna mais rentável para o operador.  

Enquanto que, na Alemanha, os custos dum parto vaginal se cifram numa média de 1500 Euros, o hospital gasta 2400 euros com o parto através de operação cesariana, refere a HNA. A redução de apenas 1% das cesarianas efectuadas em toda a Alemanha corresponderia a uma poupança de 6,5 milhões de euros por ano para as Caixas de Previdência. 

Há que ponderar antes de se tomar a opção por uma ou por outra modalidade de parto. No caso de decisão por uma intervenção cirúrgica a mulher tem de continuar mais tempo sob observação médica além da cicatriz que fica. 

Para a criança a operação cesariana, ao acontecer rapidamente e sem que a mãe tenha tido a possibilidade de deitar adrenalina através do stress do parto, pode tornar-se desfavorável, porque impede o activar das forças corporais do bebé a nível de circulação e de respiração. 

Na psicanálise alerta-se para os problemas psíquicos que pode acarretar o nascimento por cesariana. A criança entrou na vida sem esforço e muitas vezes sem ter activado os seus mecanismos de defesa e de afirmação perante a vida.  

Por outro lado pais, demasiado fixados na fuga à dor, serão levados a arrumar do caminho da criança todas as dores e dificuldades, por rejeitarem o sofrimento natural. Tudo isto pode ter consequências graves no desenvolvimento da criança. O mesmo se refira para o caso do emprego do biberão, onde, por vezes sem necessidade, o bebé é privado dum contacto relacional mais directo com a mãe.   

Depois de pensados os prós e os contras na situação concreta, a decisão pertence à mulher. 

O parto é primariamente um processo natural. Por isso há organizações que pretendem que o parto natural seja reconhecido como herança cultural mundial. 

Uma sociedade, cada vez mais técnica e individualizada olha apenas para os seus interesses e possibilidades sem respeito por uma natureza que mantém os seus segredos e dons.

ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.

Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .

PUBLICAÇÕES  

- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.

- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel

- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)

- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)

- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.

- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.

Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.

http://blog.comunidades.net/justo

 http://antonio-justo.blogspot.com/