Através da imaginação ultrapassa-se a
situação real, encara-se a realidade para lá da via causa efeito. Para
lá das palavras e das ideias encontram-se imagens, panoramas da alma.
Por isso para mudar sentimentos e comportamentos recorre-se a imagens.
A comunicação acontece no âmbito verbal e não verbal. A zona mais
próxima ao sentimento é a das imagens; a primeira apreensão da realidade
talvez se dê através da inteligência emocional. A imaginação é a chave
para secções da personalidade. A imaginação é um instrumento que pode
desenvolver a atitude racional. Nas câmaras da cave do nosso cérebro
encontram-se armazenadas as mais diferentes imagens, à imagem de
pinturas rupestres, que uma vez estimulados deixam representar a cor
local de então como se fossem filmes reais. Ao pensar criam-se
associações ligadas ao panorama da imagem.
A parte esquerda do cérebro é responsável pelo pensar lógico, de
orientação causal e determinista, tem a competência da língua e da
actividade verbal, como ler, escrever, matemática, decorar e processos
analíticos. É o centro do pensar racional, ao mesmo tempo ordenador e
orientado para uma meta.
O hemisfério cerebral direito tem a competência da compreensão de
imagens. Não é lógico, e corresponde a uma visão de conjunto, criativa,
global, de carácter fotográfico panorâmico, de carácter intuitivo
emocional numa relação de indução. Esta parte cerebral é desprezada a
nível escolar, político e económico e mesmo no sistema de pensamento,
dando-se mais importância à inteligência racional (carácter mais
masculino, firmamento) do que à inteligência emocional (carácter mais
feminino, terra). Repete-se o defeito da dialéctica na relação entre
Realidade e ideia. Assiste-se à ciência contra a arte e contra a
religião, ao patriarcado contra o matriarcado. É o hemisfério cerebral
esquerdo contra o direito. Continua-se no diálogo rectilíneo, quando o a
realidade é complementar e acontece em triálogo.
Podemos fazer uma comparação extrema para a apreensão da realidade. A
parte esquerda do cérebro podíamos designá-la do homem em nós e a
direita de mulher em nós. Imaginemos que homem e mulher se encontram num
extremo dum jardim sem caminhos e querem atingir o outro extremo. O
homem chega naturalmente primeiro! Ele com o seu pensar lógico só via o
fim (o firmamento) pisando muitas das flores e arbustos para lá chegar
rapidamente. A mulher chegou mais tarde mas não estragou e chegou mais
rica porque pode descrever muitas das flores e arbustos que observou ao
contornar. Ela tem a visão individual e quer manter o todo intacto, o
seu estar é um estar em relação. O homem tem a visão abstracta, tem no
sentido a meta, provoca a dor mas consegue chegar mais rápido, o seu
estar é distante.
A Escola, o Estado, o Pensamento e até a Religião, continuam a cultivar
uma cultura masculina, um discurso exclusivo do “ou…ou” quando a
Realidade é integral, necessitando nós duma cultura do “não só…mas
também.” As duas forças juntas conseguem reunir o princípio da selecção
e da colaboração (osmose) numa parceria de complementaridade em relação
de igualdade. Trata-se de ver o mundo não só segundo uma dimensão de uma
perspectiva (masculina ou feminina, dedutiva ou indutiva) mas também da
dimensão a-perspectiva, porque a perspectiva é sempre redutora, tal como
a definição. A paz e a harmonia no sentido evolutivo realizam-se então
na dança da mulher e do homem, da imagem e da palavra, num processo
contínuo de emancipação dos dois, num jogo de ejaculação e gestação, de
tensão e relaxe. Na complementação dos dois se dará à luz uma nova
realidade, uma cultura da paz e não da guerra. A estratégia a seguir
será o reconhecimento da complementaridade da feminilidade e da
masculinidade de forma equitativa. |
ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.
Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .
PUBLICAÇÕES
- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.
- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel
- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)
- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)
- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.
- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.
Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.
http://blog.comunidades.net/justo
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