O espírito tanto sopra da esquerda como da direita.
Um Estado em que os ventos só sopram dum lado cria cidadãos tortos. Em
Portugal, durante o Estado Novo, os ventos sopravam da direita. Durante
a primeira república e agora na república do 25 de Abril só têm soprado
os ventos de esquerda. Por isto temos uma nação devastada e um povo
cata-vento. No deserto até as miragens saciam a sede. Para equilibrarmos
a nação precisamos de todos sejam eles da esquerda ou da direita!
Alguns deputados da esquerda portuguesa tiveram, nos
últimos dias, a ideia peregrina de tomar uma iniciativa de mudança da
Constituição, para consolidar a república, na Constituição portuguesa,
como única forma de Estado possível.
Em questões de política, o diletantismo anda à solta, em favor da
monomania política, tal como acontece, por vezes, em países de terceiro
mundo. O amadorismo é de tal ordem e encontra-se tão à-vontade que quer
estabilizar, numa sociedade secular, o tabu sacrossanto do
republicanismo, sem se preocupar com o Estado de direito. E tudo isto,
como se tratasse dum direito fundamental humano que não pode ser anulado
por leis, mesmo que provenham de maiorias fortes! A classe política é a
responsável pelos problemas de Portugal.
O fascismo de esquerda tal como o de direita são autoritários e, neles,
o cidadão é apenas meio para atingir um fim. Neste caso, fascistas de
esquerda queriam o absolutismo da república como última fundamentação
política e moral dum Estado. Também já não se acredita na razão humana
e, por isso, recorre-se a instrumentos que estabeleçam racionalmente a
irracionalidade. Este fascismo ao quadrado não acredita em Deus nem no
Homem. Pretendem levianamente o fim da História.
“Sem Rei nem Roque nem Diabo que os toque”
Fazem tudo por tudo por nos tornarem filhos da outra mãe. Querem-nos
todos a dançar no seu parque de divertimento, o parque duma república
jacobina, jardim infantil do 25 de Abril. A democracia é coisa muito
séria que transcende abrilismo e arrivismo. O 25 de Abril foi
transformado em abrilismo ao ser usado pelas esquerdas que, outrora, se
apoderaram do Estado e ditaram uma Constituição da República que os
privilegia.
A democracia não se deixa limitar à República e menos ainda à república
partidária. Já não lhes chega o “socialismo pluridemocrático” de Gomes
da Costa que, para evitar a direita, eterniza a esquerda revolucionária
numa constituição portuguesa partidária, defensora dum socialismo
pluripartidário garantia da esquerda e estabilizador do oportunismo
partidário.
Deveria era haver uma iniciativa de mudança para democratização da
Constituição no sentido de a desideologizar, de modo a não privilegiar a
esquerda em relação aos conservadores! Quando chove deve chover para
todos: o cidadão é que deve tornar-se rei, não o camarada! O argumento
contra o fascismo não legitima possibilitar outro. Faltam-nos, além duma
cultura da transparência, pessoas isentas interessadas, capazes de criar
uma cultura política com perspectivas para lá do feudo. Não chega o
dolo, a lábia, a inveja e o interesse pessoal para se estabilizar uma
cultura civil.
A comemoração da República dá possibilidade aos jacobinos do sistema de
mistificarem um capítulo nada exemplar da nossa História que
necessitaria de ser purificado.
A boémia da auto-realização não conhece a responsabilidade histórica dos
outros. Chega-lhes o relativismo cultural e o cafezinho da praxe. O
dogma da razão interesseira quer acabar com o potencial da interpretação
metafísica que descansa em cada cidadão. Por isso, querem fazer da
Constituição a sua “metafísica”, sob o Sol da catequese
marxista-leninista para quem Deus morreu e o cidadão também! Querem-nos
todos de graça no seu paraíso, o paraíso proletário com os seus deuzitos
a brilhar nos andores da ideologia unilateral.
Há que rasgar os telhados das ideologias que cobrem as nossas
instituições abri-los para uma cultura nova em que seja possível
alegrar-se com todas as cores do arco-íris. Para isso teríamos que
questionar os nossos sistemas políticos, económicos e sociais mais
predilectos e libertar-nos de opiniões preconcebidas, na procura duma
nova filosofia e duma nova ética, já não orientadas para o material mas
para o Homem todo e global. O dinheiro, que é um valor abstracto, mata a
criatividade e o materialismo mata o espírito. O homem digno não se
deixa reduzir a massa, nem vive só de pão.
O Homem é divino, e só Deus pode ser maior que ele! Não precisamos de
instituições que o aprisionem e o definam à sua medida, mas que com ele
“se vão da lei da morte libertando”. A nossa cultura é egrégia e
universal. Hoje tem muitos inimigos que se envergonham do seu berço e se
tornaram inimigos do Homem, aqueles para quem o homem e a mulher não
passam de instrumento ao serviço dum fim! |
ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.
Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .
PUBLICAÇÕES
- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.
- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel
- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)
- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)
- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.
- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.
Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.
http://blog.comunidades.net/justo
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