As desilusões acerca de políticos e
políticas, a sua complexidade e falta de informação objectiva, motivam
uns cidadãos e desmotivam outros a deslocarem-se aos locais de voto.
Cada vez se torna mais difícil permanecer
fiel a um partido ou a encontrar um que satisfaça a própria visão
política. As ligações sociais e culturais tradicionais de filiados e
adeptos têm sido sistematicamente desacreditadas. A desilusão conduz
muitos a não votarem. Os partidos, cada vez se desvinculam mais das
regiões, da natureza e do povo, para darem mais relevância à ideologia e
à banalidade pragmatista. Em Portugal a macrocefalia com a sua
concentração em Lisboa mais agudiza a problemática duma nação cada vez
mais estranha a si mesma.
Os eleitores protestadores querem
manifestar com o voto o seu descontentamento para com os governantes
quando fazem uso do boletim de voto para colocarem o nome duma pessoa ou
partido não considerado na lista (tornando o voto inválido, colocando a
cruz em todos os partidos ou votando no considerado irrelevante).
Os eleitores tácticos procuram com o seu
voto fomentar coligações.
Os eleitores bonzinhos querem ver na
política visões, justiça, o que ela, em democracia partidária, não pode
dar. Esperam uma política de visão completa e não partida, esquecendo
que o Partido é partido não podendo pela sua essência ser inteiro.
Os abstencionistas tornam-se, entretanto,
num partido com aspirações a maioritário. Uns protestam, outros não
sabem o que eleger; outros sabem mas não querem, pelas mais diversas
razões. Também os há que não votam para que o partido não seja
indemnizado pelo dinheiro do Estado, na comparticipação devida por
votante.
Na imprensa aparecem opiniões a defender a
participação com o voto e outras contra ela.
Os defensores da participação nas eleições
argumentam com a obrigação civil livre de votar. Assim, o eleitor pode
influenciar a governação dos 4 anos e manifestar que está atento à
política, podendo mais facilmente criticá-la ou aplaudi-la. Quanto menos
o poder popular se manifestar mais oportunidade dá a grupos de interesse
duvidoso. A não participação no acto eleitoral favorece extremismos.
Os defensores da abstenção nas eleições
argumentam que os não votantes não têm outra alternativa nas listas de
eleições que possibilitem mostrar o seu protesto e descontentamento com
a política vigente. Muitos não eleitores, mais que por indiferença, não
alinham na eleição de partidos que se desviaram do povo que deixaram de
representar para defenderem ideologias. Mostram que perceberam o teatro
das campanhas eleitorais não reconhecendo nelas alternativas. Muitos não
vão votar para se contraporem à dominância dos partidos que se
assenhorearam da praça pública (do Estado) avassalando a formação de
organizações cívicas. Muitos querem uma democracia menos representativa
e mais directa, como na Suiça.
Embora o meu partido inoficioso seja o do
arco-íris, aconselho todo o cidadão a considerar bem o seu voto e, no
caso excepcional de não votar, organizar ou entrar numa associação
cívica que tente intervir directa ou indirectamente na política. Facto é
que quem não vota continua a deixar os outros falar e agir em seu nome,
sem possibilidade de, pelo menos, protestar perante o partido em que
votou.
Muito embora os partidos se tenham
assenhoreado de tudo o que é relevante no Estado, isto não pode
constituir motivo para a renúncia à implementação duma sociedade civil
adulta que mais tarde corrigirá os vícios da democracia partidária no
sentido duma democracia civil.
Na discussão política não se encontra um
partido da classe média nem um partido conservador, nem tão-pouco são
tematizadas as questoes que o Partido Pirata vai colocando por essa
europa fora e que são muito oportunas. De facto não é bom que a esquerda
continue a privatizar o saber e o capitalismo a propriedade. Socialismo
e turbocapitalismo são irmãos gémeos sorvendo da pessoa o seu espírito
para o colectivizar e proletarizar em função de superstruturas em que o
indivíduo não vale nem tem lugar. Se queremos ser coerentes e humanos
teremos transformar todas as instituições políticas e económicas em
verdadeiras oficinas de futuro, um futuro aberto e solidário! Para
isso torna-se óbvio participar e contribuir para superar as velhas
frentes de esquerda e de direita! O futuro já começa a estar
presente numa visão integral de participação na complementaridade.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com |