Natal, é a luz da vida
No frio da estação a brotar
É o aro das cores de Abril
No alvo da vista a acenar
É festa, stress, bolos, círios,
Parabéns, beijos e lágrimas
Encanto união convívio
Num só abraço ritual
Até das gretas da fraga
O amor viçoso desperta
Jesus na natura a se erguer
Num sol de carinho a dizer:
Não me vês a mim no outro?
Faço anos todos os dias!
É um vaivém de sonhos adiados
A viver de migalhas da rua
Em grutas tóxicas, sem abrigo
Noutros mesmo descarrilados
É o mundo da desarmonia
Dos natais não festejados
Na rua do dia a dia
Perdido de se encontrar
***
São sonhos engalanados em ruas iluminadas
Um incêndio de consumo em chama de ilusão
A saudade a abanar nas roupas da multidão
Uma confusão de compras, “Boas Festas”, “Desculpas” “Santinho”
A prendarem “encontrões”, “não tem de quê”, “Feliz natal”
É vida a saldo de vidas aladas
A pretexto do adorno da vida
Sob o guarda-chuva dum pobre menino,
E à custa dum deus bem-comportado
É hora dos magos do teatro da praça
Senhores sedutores de viseiras no rosto
Mandam o menino à fava, lá pró deserto
Ocupam tudo, é deles esta arena
Também no mofo do meu guarda-fato
Pendurada está a fé dum pé-descalço
Dum proletário, a vida dura a lembrar
E eu, a passar alheio no trilho do habitual
Sem ser Jesus, para o Jesus a esperar
***
A matilha desce à arena
Na dança de Mal e Bem
São os donos cá da terra
Seu natal a louvar também
Ao tilintar dos cristais,
Sob o holofote da atenção
No absurdo do Presépio
Dança o requinte do Banco
No seu mercado de estrelas
Brilha também o pinheiro
Só de consumo enfeitado
É natal prós do dinheiro
Lá no turbilhão da praça
Da poeira de seus gestos
Deixam a enganar a vista
Só fita, embrulho e laço
Na rua só, um gemido de Belém
Na folha arrastada pelo chão
Jesus de novo a sós co’ ele
No breu não luz mais ninguém
Adeusinho! Até pró ano
Meu Jesus de encomenda
Natal só brilho de laço
A unir a nossa prenda!
***
O estábulo continua sujo
Animais à má sorte vendidos
E José sempre desempregado
Natal, pensado mas não vivido!
Nas vitrinas da realidade
Não há prendas, não!
Para os que nada têm
Só natal em segunda mão
A aquecer a minha mão
Crepitam os sonhos dos outros
Que lenha do seu direito são
Na minha lareira a arder
***
No rosto de meus filhos
Minha infância rebrilha
Hoje como então é festa
À meia-noite é já dia
Vamos desvendar o natal
Para incendiar a praça
Não queremos viver mal
Sob o gelo da desgraça
Nas favelas da vida negra
A fé treme já de frio
Vamos acender as velas
Com fósforos de justiça
Viva a consoada
Vamos ao presépio,
À maternidade
Celebrar com todos
A fraternidade
***
Natal a dar de si,
É arte do viver sem nada
Natal a dar do outro,
É luz a dar-se a cada!
Natal mais que estar é ser
No semear sem colher |
ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.
Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .
PUBLICAÇÕES
- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.
- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel
- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)
- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)
- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.
- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.
Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.
http://blog.comunidades.net/justo
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