ANTÓNIO JUSTO...

Homossexuais e Heterossexuais na Arena da TV
O Carácter apelativo do Sexo 

Na discussão pública da RTP, de quarta-feira pp, sobre casamentos de homossexuais, uma jurista que arrotava a constitucionalidade, defendia a sua posição sacrossanta de maneira tão enérgica e devota que parecia confundir a sua convicção com a Constituição. Em nome desta defendia a posição minoritária dos homossexuais e excomungava para uma ilha longínqua do continente da democracia a oposição minoritária, de juízes constitucionais que ousam, no Portugal do esclarecido 25 de Abril, opor-se ao casamento homo. Independentemente dos problemas entre lei natural e lei positiva (cultural), a lógica encontrou ali os seus limites na convicção. Embora a discussão tenha atingido, dum lado e do outro, pontos altos da argumentação, restou por resolver o enigma se o problema está no homem ou nas suas convicções! De resto, uma disputa renhida entre natura e cultura, ficando-se com a impressão de que o Homem é vítima das duas. Na falta duma consciência universitária livre pode observar-se a subserviência ao “politicamente correcto”. O carácter partidário esteve tão presente que abafou a argumentação válida das duas partes. A liberdade de opinião e da palavra revelou-se difícil.

A defesa dos valores da liberdade em termos de discriminação, além de encalhar nas posições ideológicas, pareceu embaraçar-se no caso de reconhecimento do casamento entre pais e filhos e entre irmãos, atendendo à injustiça perpetrada pela ordem legal positiva que discrimina os incestuosos e os polígamos!... Refira-se que também não foi irrelevante o problema das pessoas menos esquisitas que se sentem homossexuais e heterossexuais. O progressismo e o liberalismo republicano esbarram aqui nas suas promessas de liberdades e irmandades!...

O remédio será educar a natureza para que não continue tão intolerante e discriminatória! Um desafio para os progressistas. Também a tensão entre o foro individual e social se manterá apesar do socialismo. Em abono da verdade contra os defensores do casamento como instituição perpetuadora da comunidade deve ser dito que, com o casamento gay, o Estado poupa os gastos com os contraceptivos. Uns argumentam com o casamento como lugar (casa) da família enquanto que outros vêm nele um acasalamento diferente mas engaiolado. Na realidade o que está em primeiro plano é a casa aliada a uma necessidade real humana de aconchego. Já que se não recebe o carinho social tenha-se ao menos o direito ao biberão do Estado. Com este chega aquele. E “quem não berra não mama”.

Se uns defendiam a restauração da dignidade familiar os outros queriam lá chegar! Pretende-se acabar com as feridas profundas da discriminação mas à custa das feridas ideológicas. Se uns se compraziam nas diferenças entre homem e mulher outros pareciam sofrer com elas. Um desfasamento do princípio ao fim... Apesar da Constituição portuguesa, também a natura e a cultura parecem ter de continuar desfasadas! A evolução biológica ainda não consegue acompanhar o progresso cultural. Tanto no foro natural, como político e jurídico há porém razão para um certo consolo malicioso: De facto a natureza discrimina e a Constituição também. Se uma não é comunista acentuando as diferenças, a outra, em abono do capitalismo, continua a criminalizar os incestuosos e os polígamos. Por outro lado, se a natureza manifesta uma certa liberdade e solidariedade privilegiando, no seu desenvolvimento, aquele que tem mais capacidade de adaptação, a lei positiva só reconhece essa lei para os servidores do sistema, de resto vive da dialéctica entre indivíduo e sociedade. Este sistema, só conhece a obediência de cima para baixo, numa táctica de esperteza ao contrário da natureza que, no seu processo de evolução, segue a inteligência da adaptação solidária.

Esta discussão em torno da liberdade individual evidenciou uma liberdade que pretende continuar a viver da intolerância. Já não é humano errar, o erro está em ser-se homem com opinião. Com a desculpa do “cada cabeça sua sentença”cultiva-se a opinião dos correctos publicada como opinião pública. O resto é regulado automaticamente pelo medo dos que querem ser como os outros. Esquece-se que o primeiro acto que fez do ser humano Homem foi a desobediência e este acto foi praticado por Eva contra a ordem estabelecida. Não é contudo de desprezar o odor do curral, sem ele não nos sentiríamos redil, sociedade! Por isso encanta-nos mais o contemplar duma caverna do que os espaços abertos e sagrados da campina, do que o infinito do mar. Uns e outros preferem a prisão da lei conhecida à aventura aberta do seguimento das próprias directivas.

Toda esta discussão porque o “soba” Socialista se recorda agora do casamento gay para conseguir meter no barco socialista as facções do partido e quer provocar naufrgos nos outros partidos da esquerda, a arrebanhar para a sua galé. Discussões oportunas ou oportunistas dirigidas à emoção popular. Discussões baratas para a próxima governação.

Como se vê o sexo não deixa ninguém indiferente.
Hoje é tabu a discussão em torno da homossexualidade. Quem ousar aventar a hipótese da homossexualidade como fenómeno patológico será logo colocado no tribunal dos réus pela intolerância. O mesmo se diga dos homólogos da oposição. A liberdade hoje advogada quer viver à custa da intolerância relativista. Abdica-se da procura da verdade para se apostar no discurso retórico, o discurso dos que mantêm o poder. Em vez de se apostar na verdade aposta-se na opinião. Os maus, os intolerantes são sempre os outros.

É verdade que a lei reconhece as relações de facto e até o direito a educarem filhos aos que se não declarem viver em relações de facto. Casamento não é um acto só legal, um mero contrato entre dois seres humanos, ele é também um acto litúrgico e de valor social a que naturalmente os homossexuais não querem renunciar. Antigamente acusava-se a Igreja católica de se intrometer na cama nas relações entre o casal, hoje os laicistas apelam a que o estado se meta também ele na cama das uniões homossexuais regulando-as.
Enquanto que uns correm o perigo de se apoderarem de Deus dogmatizando-o, os outros correm o perigo de se apoderarem da ciência, dogmatizando-a para os seus fins. O que está em causa não é Deus, a ciência, a Verdade, mas a verdade que se identifica com os próprios interesses. Uns servem-se de Deus, outros da ciência e ainda outros do povo para se justificarem. Como não conseguem levantar-se sozinhos apoderam-se da manada ou metem-se nela. Desde os anos sessenta temos observado que bispos, padres, professores universitários e conservadores se meteram no rebanho deixando o testemunho público aos progressistas e aos conscientes do poder. A razão e a inteligência, nalguns sectores da nossa sociedade, persistem em continuar de férias. Por isso, os oportunos do sistema pensam o que o sistema quer que pensem e os outros têm medo de se expressar. Há um clima mediático intimidarário. Na Idade Média tinha-se medo do Inferno, hoje há o medo de pensar de se não pensar como a opinião publicada quer que se pense. Hoje há o Inferno chamado fascismo ou comunismo. Os “Mullas” da democracia determinam o pensar correcto, o pensar dos eleitos. A democracia torna-se pouco a pouco numa sociedade de eunucos, incapacitados de pensar por si próprios cada vez mais dependente de vontades exteriores. Antigamente o povo lia pelo missal da religião nas igrejas, hoje lê pelo missal da democracia nas escolas e bebe, da TV, o ópio do anoitecer.

Antonio da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.

Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .

PUBLICAÇÕES  

- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.

- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel

- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)

- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)

- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.

- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.

Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.

http://blog.comunidades.net/justo

 http://antonio-justo.blogspot.com/