A Vila da Branca encontra-se de luto. A sua riqueza de paisagem impar seria destruída, para sempre, pelo traçado da auto-estrada A32. A destruição paisagística, ecológica e patrimonial estende-se como uma nuvem negra ao longo dum trajecto completamente irracional.
Das janelas dos prédios ao longo do IC2, que atravessa a Branca, meneiam, ao vento, longas faixas de tecido preto, numa atitude de resignação amarga perante poderes e interesses que sopram de longe.
A Associação do Ambiente e Património da Branca (“Auranca”) esgota-se num activismo de conversações com políticos e autarcas locais também eles impotentes perante a prepotência do poder político de Lisboa e os seus parceiros económicos.
De facto, perante os ouvidos moucos e a cegueira dum poder centralista, encerrado em Lisboa, que, longe das populações, decide contra a razão, contra a natureza, contra o ambiente e contra o povo, a população da Vila da Branca, tal como outras populações vizinhas, parece resignada, sofrendo em silêncio, perante aberrações económicas, sociais, paisagísticas que o novo troço de auto-estrada vem irremediavelmente causar, ao passar pelo monte de S. Julião sem respeito nem consciência pela natureza e pelo humano.
Ditaduras e despotismo só são possíveis através do medo. Quem, antecipadamente, põe luto dá o sinal de desistência! O medo perante poderes anónimos veiculados pelo centralismo megalomaníaco lisboeta, alheio ao resto de Portugal e penalizador dum Norte trabalhador só poderá ser superado por uma acção conjunta de todos perante o poder central e a AE. De facto, povo, junta de freguesia, câmara municipal são contra o projecto. Não há ninguém contra ninguém. Apenas o próprio respeito, o respeito duns para com os outros e a responsabilidade pelas gerações futura obriga todos a agir. Não nos encontramos em tempos de falsos medos nem da lisonja a que Sócrates nos quer obrigar! O inimigo está em Lisboa e nos seus acólitos!
O prémio da lisonja tem o preço da própria honra e do futuro. Se todos seguirem o caminho de Diógenes, com certeza que a A23 não será construída como planeado e reverterá ao serviço do interior, em especial de Vale de Cambra, Arouca e outras populações.
Certo dia, Diógenes encontrava-se sentado na soleira duma porta a comer um pobre prato de lentilhas. Um ministro do imperador, vendo a pobreza daquele sábio, dirigiu-se a ele e disse-lhe: “Diógenes, a tua situação é lamentável! Se aprendesses a ser um pouco submisso ao imperador e a lisonjeá-lo não terias de comer só lentilhas!” Então, Diógenes deixou de comer, levantou a cara, fixou o nobre interlocutor e respondeu: “ Lamentável é para ti, irmão. Se aprendesses a comer um pouco de lentilhas não terias de ser tão submisso e de lisonjear continuamente o imperador.”
A via do respeito próprio e da dignidade transcende as próprias necessidades e uma auto-estima vaidosa.
O preço da negação própria e o futuro da Branca e vilas circunvizinhas é demasiado alto para nos fecharmos no lamento e no luto. Mãos à obra! Todos unidos conseguiremos o melhor para todos. Se não queremos continuar submersos no nevoeiro da lamentação e do luto, a palavra de ordem será: Luta em vez de luto!...
António da Cunha Duarte Justo
Habitante da Branca
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ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.
Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .
PUBLICAÇÕES
- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.
- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel
- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)
- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)
- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.
- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.
Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.
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