ANTÓNIO JUSTO...

Cães Livres com Coleira
Estará o País preparado para a Democracia?

A Democracia é uma meta, o resultado dum desenvolvimento, um processo e não um meio. Também o povo não é um meio mas o fim.

Uma política que se permite escolher do sistema democrático só o que lhe agrada, embora legitimada pelo Povo, não é democrática. Os políticos, porém têm razão em servir-se do povo porque este os quer. A fé pôde e pode muito! O socialismo chamava-lhe ópio, hoje será partido, será governo!

A Democracia pressupõe uma consciência adulta, uma relação equilibrada entre Estado e Povo, entre dirigentes e dirigidos e das classes sociais entre si.

A doença individualista lusitana é crónica! Não tem lugar para o outro. O Povo não conhece o Estado nem este conhece o Povo. Todos se servem ou procuram servir-se. Um Nação de necessitados e comprometidos onde todos andam armados em carapaus de corrida. Só vale a opinião, a revolução parece ter prescindido da lógica e dos factos

O individualismo é de tal modo míope que só chega a atingir o alcance dos próprios passos, ou, quando muito, os da “família”. Não existe a colectividade! Dado toda a nação sofrer do mesmo mal, tem-se grande compreensão pelos oportunos governantes. Também estes são filhos envergonhados duma mãe povo, a quem consideram prostituta. Cada uma se safa como pode. Quem se safa com o colchão ao lado da estrada, ou com o colchão do Estado tem um destino comum e comunga do mesmo espírito: a oportunidade!

De facto, há eleições mas não há diferença na governação. Os eleitos procuram aproveitar o tempo do seu estado de graça para se servirem e ajudarem alguns amigos, também eles à cuca duma oportunidade. Trabalho sério, bem preparado e programado não é moderno e destoa na música do progresso. O óbvio é o fácil e leve, o rentável imediato.

A administração continua a empatar a Nação e a fazer perder tempo a quem quer trabalhar ou quem deseja cumprir as leis. Anacrónica mas convencida sente-se omnisciente; para sobreviver basta-lhe saber “o chefe disse” e… pronto!

A grande pobreza do País está na deficiência cultural, de que uns poucos vivem bem; o grande contra democrático é a carência do Estado-Direito.

Despachos e decretos criam subsídios de milhões. Porém, quando o inocente cidadão concorre ao subsídio já não há verba. Depois sabe-se, ela foi aplicada na totalidade no apoio dum beneficiado do ministério. Os moinhos da burocracia, geralmente morosos, então funcionam rapidamente, mas não a bem da nação e menos ainda a bem do povo. Há despachos a mais para despachar e legalizar ilegalidades ou compadrios…

Todos se queixam. Queixam-se os políticos dum povo estúpido e indiferente; queixam-se os ministros e secretários de Estado de publicarem Decretos a sua administração arcaica não os cumprir. Viram-se então para as novas tecnologias mas estas são feitas para um povo ainda a criar. Refugiam-se no fomento dum mundo virtual que prima pelo modernismo e pela satisfação das estatísticas altas no uso de aparelhos mais sofisticados. Ninguém se preocupa que a gente não compreenda as indicações técnicas nem a letra miúda. O governo decreta progresso e toca a flauta do modernismo; a massa embora desafinada e fora de ritmo canta e dança. Progresso é movimento e movimento é progresso, o resto é conversa! Viva a democracia e os seus tocadores! Aproveitemo-nos da festa da democracia enquanto ela dura; depois Deus dará! Resta a consolação. Casa em que falta o pão todos se queixam e ninguém tem razão, dizem os acomodados no canto com o seu naco de pão!

Um País Adiado

O País encontra-se em situação de adiado. Se vais ao Hospital e tens lá alguém conhecido és atendido; doutro modo vais para a bicha sem fim.

Se tens um conhecido na Câmara Municipal é resolvido o teu problema ou és lá metido. A instituição ainda não conhece o cidadão. Conhece apenas compadres, amigos e filiados no partido.

Vai-se à Caixa Geral de Aposentações e, mesmo antes de se expor o problema, logo a senhora no guiché 8 te fala de impossibilidades como se te conhecessem e tivessem a lei e o governo na barriga.

Portugal tem leis avançadas e até livros de reclamações. Esqueceu-se porém de criar estruturas sociais e cívicas que possibilitem ao povo a capacidade de os usar. Portugal é Lisboa, para inglês ver, o resto, verbo-de-encher!

Faz-se um requerimento ao secretário de Estado pedindo fundamentação jurídica pelo não cumprimento duma lei por parte da Tutela e logo se recebe resposta cabal: “o senhor secretário indeferiu através de despacho” e pronto!... Assim se despacham a lei e as pessoas neste país virtual!

Vais ao hospital, se tens lá alguém conhecido és servido, doutro modo vais para a bicha sem fim.

Neste país de telenovelas e de futebol, também na vida particular ninguém está disposto a ouvir o outro. Se se ouve um pouco é para o interromper e logo o abafar.

Será que o mundo está na mão de oportunistas. Isto está mesmo mal; antigamente ainda se podia dizer “valha-nos Deus”; hoje só o Diabo parece ter crédito.

Entre os ricoe e pobres que temos e somos, somos pobres com pobres à frente das freguesias, das Câmaras, dos Parlamentos e dos Governos.

Pobreza cria pobreza! Para que serve a riqueza no criticar? Os cínicos já servidos e que bem entendem dirão: para ajudar a enganar!

Valerá ainda a pena mexer as ideias e as pessoas?

Do pouco que ouvi ao PM Sócrates, nas férias que acabo de passar em Portugal, fiquei com a impressão de que ele é o ópio do povo. Neste país o dom da palavra é tudo. O sonho e a ilusão ainda acalmam. Há que mentir mas com convicção. Se se mentir com voz firme e grossa o povo aceita. Ai da verdade que tenha voz fraca e não decidida! O povo não a entende!

Da Oposição também não há nada a esperar. Sofre dos males dos da governação e pode dar-se ao luxo de impedir-se a si mesma. Assim se cria lugar para oportunistas grandes e pequenos da pobre situação (Nação).

Que nos resta?

A Virgem Maria e o futebol?... Talvez a coleira e mais nada?

ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.

Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .

PUBLICAÇÕES  

- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.

- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel

- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)

- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)

- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.

- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.

Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.

http://blog.comunidades.net/justo