ANTÓNIO JUSTO...
Bento XVI em Paris
O Presidente francês defende uma Laicidade Positiva

Uma surpresa: o Papa que ia em peregrinação a Lurdes  para comemorar o jubileu dos 150 anos das aparições de Nossa Senhora a Bernardette Soubirous, vê-se honrado pela imprevista recepção oficial do presidente francês Nicolas Sarkozy.  A oposição francesa insurge-se contra o Presidente pelo facto de ele receber o Papa como um Presidente de Estado. Vêem em perigo o Estado laico.

O presidente francês pretende com isto dar um sinal para que o laicismo estatal se torne numa “laicidade positiva” defendendo um diálogo aberto entre religião e política e uma nova reflexão sobre as “raízes cristãs europeias”. O bem da sociedade não se pode reduzir apenas às vertentes económica, mercantil e política. Para se desenvolver equilibradamente e em harmonia terá de abrir o seus horizontes também à vertente metafísica.

No discurso, o Papa secundou as ideias do Presidente, louvando a bela ideia da “laicidade positiva” dizendo que “religião e política têm de estar abertas uma à outra … e que a política tem de se tornar mais consciente da função insubstituível da religião na formação da consciência”.

De facto, um certo laicismo fanático encostado às instituições estatais (uma certa esquerda e maçonaria), em vez de se afirmar com se afirma contra a religião cristã deverá fomentar um diálogo pela positiva e não apenas pela negativa. Religião e laicismo são elementos importantes do Estado. O que não deve é nem um nem outro apoderar-se do Estado.

A igreja católica tem vindo a perder terreno na França com grande falta de padres (esta, também, devida à sua obstinação anacrónica no celibato). O Islão ganha cada vez mais terreno e significado. Numa nação em que os muçulmanos se afirmam cada vez mais conscientes de si mesmos, e onde ocupam já o segundo lugar entre os grupos religiosos franceses, não seria salutar, para a nação, a existência dum cristianismo envergonhado, sempre atacado pelos inimigos da religião, quando os outros são poupados, por razões consideradas óbvias. Se por um lado se respeita a sensibilidade religiosa muçulmana, por outro, os símbolos cristãos põem-se muitas vezes a ridículo. Grupos racionalistas e socialistas rivais do cristianismo, revelam-se, por vezes, muito agressivos contra o Catolicismo, poupando o Islão, por oportunismo ou interesse; deste modo impedem um diálogo adulto entre religiões e política, prestando por outro lado um mau serviço ao Estado e à Nação.

Sarkozy, numa visão preclara, está consciente do descalabro em processo na sociedade europeia e o vírus que roí por dentro as nações europeias. Por isso designa a religião como o elo de ligação duma sociedade. Os sistemas políticos passam e as religiões ficam. Há que manter um espírito e um diálogo independente mas construtivo. Um grupo deve ser o cadinho purificador do outro. A EU precisa de redescobrir as raízes cristãs que estão na base dos seus valores e da sua própria laicidade e por isso manter-se como seu ideário garante continuando a empunhar na mão o archote da esperança.

Hoje, o Papa falará em Lurdes. Muitos católicos acreditam que Nossa Senhora apareceu a Bernardette, onde “a Senhora branca” a 25 de Fevereiro pediu à jovem para “beber da fonte e se lavar”. “Bernardette revolveu a terra e em breve brotou um pouco de água lamacenta e ela bebeu dela”. Muitos vêem na descoberta da fonte como provada da autenticidade das aparições. A água de Lourdes tornou-se famosa sendo anualmente enviados 40.000 litros dela por todo o mundo, ao preço das custas de transporte.

Dos milagres acontecidos em Lourdes a Igreja reconheceu, oficialmente, até hoje, 67 curas inexplicáveis.

Talvez o próximo milagre de Lourdes seja o de possibilitar na cabeça de socialistas e crentes a compatibilidade entre religião e socialismo, a harmonia entre secularismo e religião.

ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.

Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .

PUBLICAÇÕES  

- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.

- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel

- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)

- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)

- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.

- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.

Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.

http://blog.comunidades.net/justo

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