JOAQUIM SIMÕES
Tem o cabelo pintado
de um sol em negro azeviche,
com chamas vermelho-louco
de um inferno muito fixe.
Cravou um piercing na língua,
um clip na sobrancelha,
mais uma argola no lábio
e outras cinco em cada orelha.
Vai chocalhando a pulseira
de contas do Oriente
em forma de cascavel
quando quer ferrar o dente.
Mesmo ao cimo do decote,
pisca que pisca um sinal,
que em horas de menos sorte
nunca a deixou ficar mal.
No ombro, leva um falcão,
na mão, um gato francês.
À perna, prendeu o cão
que lhe morreu há um mês.
Atira para a sargeta
o resto daquela história
que enrolou numa mortalha
p’ra perfumar a memória.
Mandou calar o Universo
e até o deus que lhe acode
fica em silêncio p’ra que ela
se oiça a mascar iPod.
A sua bota bicuda
pisa de alto a avenida.
Toda a calçada saúda
o passeio que faz da vida.
De arrasar o Festival
Beira-Tejo, poderosa,
segura, vai Leonor
para a Fonte Luminosa.