Lembram-se?

 

NICOLAU SAIÃO


    Durante o chamado Estado Novo, havia um “saco azul”, uma verba destinada a pagar a “jornalistas” venais e “fazedores de opinião” fora de portas para dizerem bem do regime. Tal como havia uma outra, caseira, para contemplar as boas obras dos tristemente célebres “bufos”, honoráveis cavalheiros e cavalheiras da mais diversa extracção que tinham como missão espiolhar o que o cidadão fazia e dizia. Tudo a bem da nação

    A prática sempre foi, aliás, proverbial. Instituída pela primeira, vez com foros de operacionalidade oficial, durante os tempos de Bismarck, que foi o criador do chamado “Fundo dos répteis”, foi depois adoptada pela generalidade dos Estados e dos regimes, o que se tornou muito marcado durante o tempo hitleriano. A leste, sob as ordens de Trotsky e Stalin, o caso não foi tão marcado em relação aos “bufos”, porquanto foram estabelecidas as chamadas “milícias populares”, que tinham secções de informação específicas, o que dispensava a delação particular, chamemos-lhe assim. Só mantiveram o sector que exercia, no estrangeiro, as denominadas “plantações”, através das quais compravam a boa-vontade de discretos ou não tão discretos “propagandistas” publicistas, espiões e formações partidárias, robustamente abastecidas de dinheiro fresco para levarem a cabo ora a infiltração, ora a acção política apropriada para eficazmente servirem os intuitos de quem lhes pagava.

    Actualmente, tais  manejos ganharam novo e diversificado impulso, quer seja mediante actos “legais”, como o renomado sistema de “vistos Gold”, em que as cliques de argentários ligados e sustentados pelo regime autoritário a que pertencem, se instala e vai roendo por dentro a sociedade-alvo, aproveitando a labilidade de governos ou de instituições. Ou ilegais, como o “discreto” financiamento de espaços específicos – na Internet, por exemplo – em que o que é esperado dos seus mantenedores é que estejam sempre sintonizados com a nação financiadora.

    No caso vertente, o mais marcado país que assim procede é a China, baseando-se em que é um regime bem sucedido, próspero e pacífico, um comunismo de sucesso que será exemplo para toda a humanidade. E os seus estipendiados buscam fazer esquecer a realidade de que o país ao qual estão ao serviço possui partido único, veios sociais controlados ferreamente, imprensa absolutamente censurada, ausência de liberdade de expressão e regime prisional e jurídico governamentalizados.

   Nos últimos tempos, uma vez que vieram a lume comprometimentos por ambição ou laxismo de altas individualidades ocidentais, seja nos campos económico-financeiro, desportivo ou mesmo politico e até governamental, foram accionadas mais eficazmente as agências próprias que têm a missão de proteger a sociedade democrática desses manejos.

    Também em Portugal, embora de forma incipiente, se vai começando a agir (é um imperativo evidente!) no sentido de que os inimigos da liberdade e do bem-comum não possam continuar nas suas jogadas traiçoeiras e criminosas de verdadeiros lobos com pele de cordeiro como diz o apólogo bem conhecido. 


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