CUNHA DE LEIRADELLA - SÍNDROME DA DIFERENÇA IMPROVÁVEL



O bar ficava logo depois da curva, onde terminava o asfalto. Não tinha nenhum letreiro, nem havia nenhuma indicação na estrada. Nem antes, nem depois da curva. Era um barraco coberto de sapê e aparecia de repente, luzindo na escuridão, iluminado pelas lâmpadas penduradas nos troncos das palmeiras. As mesas ficavam no terreiro e tinham grandes números pintados de amarelo nos tampos de cimento, e os assentos eram troncos cravados no chão, estreitos e muito baixos. Mangueiras e palmeiras espalhavam-se por entre as mesas e uma cerca de arame delimitava o chão batido do terreiro. Pregado numa ripa por cima da porta um alto-falante tocava boleros em surdina, e do outro lado da estrada, por entre as folhas das mangueiras e dos troncos das palmeiras, via-se a espuma das ondas sempre que o mar batia nas pedras.

Já passava da meia noite e só duas mesas estavam ocupadas. Numa, junto da porta, um casal bebia cerveja, a mulher rindo às gargalhadas e o homem balançando a cabeça, rindo também, já meio bêbado. Na outra, junto da cerca, ninguém falava, nem ria. A mulher olhava a espuma das ondas e o homem olhava o copo vazio. O garçom fumava e bocejava, encostado na parede, ao lado da porta. De repente, o homem pegou o copo e levantou-o.

- Mais um.

Colocou o copo em cima da mesa e voltou-se para a mulher.

- Mais um?

A mulher não respondeu. Sem olhar o homem, passou as mãos no cabelo louro, amarrado na nuca com um laço de fita azul. Depois, fincou os cotovelos na mesa e apoiou o queixo nas mãos, e olhou o outro casal. O garçom aproximou-se e o homem apontou o copo vazio.

- Outro.

O garçom jogou o cigarro no chão e pegou o copo do homem.

- E a madama?

A mulher não respondeu e o homem voltou-se para ela.

- Mais um?

A mulher continuou imóvel e falou sem olhar o homem.

- Quero chope.

O garçom deu a volta à mesa e pegou o copo da mulher.

- Chope, tem, não, madama.

O homem olhou a mulher e abanou a cabeça.

- Aqui não tem chope, você já sabe.

A mulher não respondeu e o homem apontou os copos na mão do garçom.

- Um de cada.

O garçom afastou-se. O homem tirou um cigarro do maço e cortou o filtro, e acendeu-o. Um carro passou na estrada e os faróis varreram as árvores e as mesas e as paredes, e a mulher ajeitou-se no banco e cruzou as mãos em cima da mesa. O homem puxou uma tragada profunda e pegou a mão da mulher.

- Gostei daqui.

A mulher não respondeu e o homem olhou as mesas e o terreiro.

- É gozado. Quando a gente tá bem num lugar...

A mulher olhou-o e ele calou-se. Puxou outra tragada profunda e soltou o fumo devagar, pelo nariz e pela boca.

- Você não gostou, não?

A mulher continuou calada e o homem olhou a ponta fumegante do cigarro, e balançou a cabeça.

- Eu gostei.

A mulher tirou a mão e olhou por cima da cerca, atrás do homem.

- Tem uma luz ali que é horrível.

O homem voltou-se. No fim do capinzal erguia-se o esqueleto de um edifício em construção. Num mastro, em cima da última laje, um holofote brilhava na escuridão. A mulher passou as mãos nos olhos e esfregou-os.

- Faz doer até a vista.

- Senta aqui.

A mulher não respondeu e o homem debruçou-se sobre a mesa.

- Eu não me importo com a luz.

A mulher não respondeu, os olhos fixos no casal sentado junto da porta. Pouco depois, o garçom trouxe as bebidas.

- Vai tira-gosto?

O homem abanou a cabeça e fez um gesto com a mão. O garçom colocou os copos em cima da mesa e fez uma cruz ao lado do homem e um risco horizontal ao lado da mulher, com um pedaço de giz, e afastou-se. Quatro cruzes, quatro uísques. Dois riscos, dois gins-tônicas. O homem pegou o copo e bebeu, e a mulher deu uma palmada na perna.

- Tou toda mordida. Amanhã, não vou nem poder ir à praia.

- Eu falei pra você não trazer essa roupa.

A mulher olhou o homem, mas não respondeu. O homem puxou uma tragada e jogou o cigarro no chão. Era quase careca e usava óculos de aros muito grossos. A mulher deu outra palmada na perna.

- Que sexta-feira.

O homem bebeu um gole e olhou a mulher.

- Hem?

A mulher não respondeu e o homem bebeu o resto do uísque e colocou o copo em cima da mesa e cortou o filtro de outro cigarro, e acendeu-o. Puxou uma tragada profunda e chamou o garçom com um gesto.

- Outro.

Puxou outra tragada e voltou-se para a mulher.

- Quê que você falou?

A mulher continuou sem responder e o homem olhou-a durante alguns instantes.

- Eu não escutei.

- Eu disse que hoje era sexta-feira.

- Sim?

A mulher pegou o copo e bebeu um gole, e o homem debruçou-se sobre a mesa.

- Eu não entendi, Andréa.

A mulher bebeu outro gole e colocou o copo em cima da mesa, sem responder. O garçom trouxe o uísque e fez mais uma cruz ao lado do homem. O homem pegou o copo e bebeu um gole, e mexeu o gelo com um dedo. O outro casal chamou o garçom e pediu a conta. A mulher pegou o maço de cigarros e acendeu um.

- Aqueles já vão.

- Quem?

A mulher apontou a mesa junto da porta.

- Aqueles.

O homem não se voltou. Colocou o copo em cima da mesa e pegou a mão da mulher.

- Você não gostou de vir aqui, não?

A mulher tirou a mão, num gesto brusco.

- Eduardo, por favor. Já é a quinta vez que você me pergunta a mesma coisa.

O homem jogou o cigarro no chão e tirou os óculos, e passou as mãos no rosto.

- É. Eu já devo tar de porre mesmo.

A mulher não respondeu e o homem colocou os óculos e ficou olhando o tampo da mesa. O outro casal pagou a conta e entrou no carro. O garçom deixou o carro afastar-se e gritou para dentro do bar.

- Toinho.

Um rapaz moreno, com um sorriso enorme e dentes muito brancos, apareceu na porta.

- Diga, Timbó.

O garçom apontou o carro, já sumindo na curva.

- Toinho, ligue pra Feféu, já, já, viu?, e diga que Zilá já tá indo. Diga que o gringo já tá de fogo, viu, Toinho?

O rapaz moreno entrou no bar e o garçom acendeu um cigarro, e encostou-se na parede. A mulher puxou uma tragada profunda e deu uma palmada na coxa.

- Nem sei pra quê que a gente veio a Salvador.

O homem não respondeu e a mulher deu outra palmada na coxa.

- Ô idéia mais...

O homem riu e a mulher calou-se. Tinha um jeito especial de rir. O som explodia na garganta e rolava na boca, e saía aos borbotões. Como a água de uma represa que tivesse rebentado o dique e levasse tudo de roldão. Quando acabou de rir, o homem cortou o filtro de um cigarro e acendeu-o.

- É gozado.

- Quê que é gozado?

- Quê que você disse há pouco?

A mulher não respondeu e o homem sorriu.

- Você não disse que hoje era sexta-feira?

A mulher olhou o homem fixamente e ele calou-se. Puxou uma tragada profunda e balançou a cabeça, devagar.

- É. Hoje é sexta-feira mesmo.

- E daí?

O homem riu.

- Daí? Daí, que foi você foi que disse que hoje era sexta-feira.

A mulher não respondeu. Colocou o copo em cima da mesa e deu uma palmada forte na coxa, e coçou por cima da saia. O homem riu. A mulher esticou a saia sobre as pernas e coçou a coxa outra vez.

- É engraçado porque não tão mordendo em você.

O homem não respondeu. Bebeu um gole e olhou a mulher durante algum tempo.

- Você sabe o quê que eu acho mais gozado? É que você tem sempre uma hora certa pra fazer as coisas.

A mulher fez um gesto, como se fosse interromper, mas o homem continuou.

- É isso mesmo, Andréa. Só porque hoje é sexta-feira...

A mulher passou as mãos no rosto e o homem calou-se. Bebeu um gole e colocou o copo em cima da mesa.

- Mas não é isso mesmo?

A mulher abanou a cabeça e passou as mãos no rosto outra vez.

- Eduardo, quantas vezes nós já discutimos isso?

O homem não respondeu. Puxou uma tragada profunda e soltou o fumo, devagar.

- Sabe? O que eu nunca entendi em você é por quê que a gente nunca pode fazer as coisas que gosta, do jeito que mais gosta.

A mulher não respondeu e o homem fez uma pausa.

- Sabe o quê que a gente devia fazer?

A mulher respirou fundo e olhou o homem fixamente.

- Você já tá é bêbado.

O homem riu.

- É. Vai ver, já tou mesmo. Aliás, eu já disse a você que, agora, tou ficando bêbado à toa, à toa, não disse, não? Mas o caso, sabe?, é que a gente sempre faz as coisas só pros outros verem. Prá gente, mesmo, a gente nunca faz nada. Ou se faz, faz tão pouco, que não dá nem pra perceber.

A mulher não respondeu. Pegou o maço de cigarros e olhou-o durante alguns instantes, e, depois, acendeu um. O homem pegou o copo e bebeu um gole, e olhou as mesas à volta. Do outro lado da cerca começava o capinzal, e, no fim do capinzal, um renque de palmeiras delimitava o horizonte. O homem puxou uma tragada profunda e jogou o cigarro no chão.

- Sabe?

A mulher apontou o copo vazio.

- Peça uísque pra mim.

O homem chamou o garçom e pediu dois uísques, e cruzou as mãos debaixo do queixo e ficou olhando para a mulher. A mulher colocou o cigarro no cinzeiro e passou as mãos no rosto, e fechou os olhos. Ficaram assim até que o garçom trouxe as bebidas e fez mais duas cruzes no tampo da mesa. Uma ao lado do homem e outra ao lado da mulher. A mulher pegou o copo e rodou-o entre os dedos.

- O meu tem pouco gelo.

O homem chamou o garçom e pediu gelo. O garçom trouxe o gelo num prato plástico e colocou dois pedaços no copo da mulher, e afastou-se. A mulher mexeu o uísque com o dedo, durante algum tempo.

- Até parece que tamos em Belo Horizonte.

O homem riu.

- Só porque tamos sós ou porque tamos tomando uísque?

A mulher não respondeu e o homem bebeu um gole, e colocou o copo em cima da mesa.

- Hem?

- Porque é sempre a mesma merda.

O homem riu.

- Então, é porque tamos tomando uísque.

A mulher colocou o copo em cima da mesa e cobriu o rosto com as mãos. Ficou assim algum tempo e, de repente, deu uma palmada forte na coxa.

- Ô lugarzinho filho da puta.

O homem não respondeu. Voltou-se e olhou o holofote brilhando em cima da última laje do edifício em construção. A luz forte obrigou-o a piscar os olhos e ele fechou-os e voltou-se, e pegou o copo.

- Quer ir embora?

- Quero.

- Pra onde?

- Qualquer lugar.

O homem riu.

- Qualquer lugar? Mas você nunca foi de ir pra qualquer lugar.

- Mas, agora, eu quero ir.

O homem bebeu um gole e colocou o copo em cima da mesa.

- Ok.

A mulher pegou o cigarro e puxou uma tragada profunda.

- Eu conheço você, Eduardo. Você não muda nunca.

- Você também não muda, Andréa.

A mulher não respondeu, os olhos fixos na ponta fumegante do cigarro. O homem fincou os cotovelos na mesa e apoiou o queixo nos punhos cerrados.

- Mas escolha. Qual vai ser esse qualquer lugar?

A mulher jogou o cigarro no chão, num gesto brusco.

- Eu já disse.

- Pra mim, não.

A mulher olhou o homem durante alguns instantes e alisou a blusa sobre os seios.

- Você pensa que eu botei esta roupa pra quê?

- Eu disse pra você não botar.

- Mas eu botei. Aliás, antes de botar, eu avisei você que ia botar.

O homem pegou o copo e olhou-o durante alguns instantes, e, depois, olhou a mulher.

- Sabe? Mesmo admitindo que você tivesse dito, e, se você disse, eu não escutei...

- Você nunca escuta, Eduardo.

- Desta vez não escutei mesmo.

Fez uma pausa e bebeu um gole, devagar.

- Mas, de qualquer forma, sabe?, hoje eu não tou a fim de nada. Se você quer saber, mesmo, hoje eu tou é a fim de tomar um porre. Um puta porre.

- Como sempre, aliás.

- Exatamente. Como sempre.

Calaram-se. O homem olhando o copo e a mulher olhando o maço de cigarros. Um carro passou na estrada, devagar, só com os faroletes ligados. A mulher levantou a cabeça e seguiu-o até sumir na curva e, depois, olhou o homem.

- Sabe? Quando você disse que a gente vinha pra Salvador, pra esse tal congresso, eu ainda pensei que as coisas fossem mudar.

Calou-se e cobriu o rosto com as mãos. O homem olhou-a, mas não disse nada. A mulher tirou as mãos do rosto e olhou o homem fixamente.

- Pensei mesmo. Mas, depois...

Calou-se outra vez e baixou a cabeça, e cruzou as mãos em cima da mesa. O homem olhou o copo durante algum tempo e, depois, bebeu o resto do uísque.

- Continue.

A mulher não respondeu e o homem balançou a cabeça, e colocou o copo em cima da mesa.

- Andréa, se as coisas mudassem só porque a gente muda de lugar...

- As coisas mudam quando a gente quer que elas mudem.

O homem riu.

- Será que as coisas não mudaram só porque a gente não foi no Regine’s?

A mulher não respondeu e o homem debruçou-se sobre a mesa.

- Hem?

- Eu não falei no Regine’s.

O homem riu.

- Não falou, mas pensou. Eu conheço você, Andréa.

- É muito melhor pensar no Regine’s do que pensar na Casa dos Contos ou na Cantina do Lucas.

- Por quê que você não foi no Regine’s, se tava a fim?

- Sozinha? Sem conhecer ninguém?

- Eu também não conheço ninguém.

A mulher riu.

- Ah, Eduardo, qual é? A você todo mundo conhece.

O homem não respondeu. Colocou o copo vazio em cima da mesa e chamou o garçom, e pediu outro uísque. A mulher pegou o copo e bebeu um gole, e o homem cortou o filtro de um cigarro e acendeu-o. A mulher colocou o copo em cima da mesa e olhou a espuma das ondas, e o homem puxou uma tragada profunda. Ficaram assim até que o garçom trouxe o uísque e fez mais uma cruz ao lado do homem.

- Vai o tira-gosto?

O homem abanou a cabeça, mas a mulher interrompeu-o com um gesto.

- Quê que vocês têm?

O garçom sorriu e fez um gesto largo com as mãos.

- Tudo, madama. Moqueca de peixe, moqueca de camarão, peixe frito, siri mo...

- Moqueca de peixe.

O homem olhou a mulher e abanou a cabeça.

- Moqueca de peixe não é tira-gosto.

A mulher não respondeu e voltou-se para o garçom.

- Traz moqueca de peixe.

O garçom afastou-se e gritou para dentro do bar.

- Toinho, moqueca de peixe. Pra um, viu, Toinho?

O homem colocou o cigarro no cinzeiro e cruzou as mãos em cima da mesa.

- Não sei pra quê que você foi pedir moqueca de peixe.

- Porque me deu vontade.

- Não vai gostar.

A mulher riu.

- E isso importa?

O homem não respondeu. Um carro parou na estrada, a luz dos faróis varrendo as árvores e as mesas e as paredes. De repente, os faróis piscaram duas vezes e o carro deu marcha à ré, e entrou na estrada, os pneus rascando no chão de terra. O homem apontou a poeira, revolteando no ar.

- Você viu?

A mulher não respondeu e o homem continuou apontando a poeira.

- Aquele carro. Por que será que piscou os faróis e arrancou daquele jeito, hem?

A mulher deu uma palmada na perna e coçou por baixo da saia.

- Quando termina o congresso?

O homem não respondeu, ainda olhando a estrada. A mulher pegou o copo e bebeu um gole.

- Quando termina o congresso?

O homem voltou-se.

- Hem?

- Perguntei quando termina o congresso.

- Parece que domingo, não sei.

- A gente vai no coquetel?

- Você quer ir?

A mulher riu.

- Nós viemos a Salvador pra quê, hem?

O homem pegou o cigarro e puxou uma tragada profunda, e soprou o fumo com força.

- Nós já fomos ao congresso.

- Você foi.

- E você não foi porque não quis.

- Pra quê? Pra sair de lá correndo pro primeiro cu-sujo que pintasse?

O homem pegou o copo e bebeu um gole, e acenou com a cabeça.

- Ok. Nós vamos no coquetel.

Fez uma pausa e colocou o copo em cima da mesa.

- Satisfeita?

- Pelo menos, é melhor do que vir práqui ou ir lá pro cais, comer aquelas codornas horríveis.

- Se fossem do Regine’s não seriam horríveis.

- Pelo menos, sempre teriam outro aspecto, se é isso que você tá querendo dizer.

- Se é o aspecto, por quê que você pediu moqueca de peixe?

- Porque me deu vontade.

O homem deu uma gargalhada. A mulher pegou o maço de cigarros e acendeu um.

- Parece que você tá contente.

O homem puxou uma tragada e jogou o cigarro no chão.

- Algum motivo pra não tar?

A mulher não respondeu. Pegou o copo e bebeu um gole, e puxou uma tragada profunda e soprou o fumo com força.

- Eu não entendo você. Sinceramente. Não entendo mesmo. Você é um escritor famoso, todo mundo conhece você, e você não sabe nem aproveitar.

Fez uma pausa e puxou outra tragada.

- Sabe? Às vezes, eu fico até pensando se vale a pena ser o que você é. Sinceramente.

O homem não respondeu e a mulher fez outra pausa, e colocou o copo em cima da mesa.

- Que proveito você tira? Em Belo Horizonte, porres, no Rio, porres, em São Paulo, porres, aqui, porres. Isto é vida?

O homem olhava a mulher, os lábios cerrados e vincados, e os olhos fixos no rosto dela. A mulher jogou o cigarro no chão, num gesto brusco.

- Sinceramente, Eduardo. Faz cinco anos que a gente se conhece, mas é como se nem se conhecesse. Parece que você faz questão que ninguém te conheça, puta merda.

Calou-se e passou as mãos no rosto, e olhou o homem fixamente.

- Quer ver uma coisa? Apesar de você ser o que é, onde é que você tá agora? Enchendo a cara num cu-sujo que nem Deus sabe onde fica.

Fez uma pausa e respirou fundo, e abanou a cabeça com força.

- Me diga uma coisa. Mas fale com franqueza. Você tá se divertindo?

O homem riu.

- Sabe o quê que tá me preocupando, na verdade? Aquele carro que...

- Eduardo, por favor. Eu não tou brincando, não.

O homem riu.

- Tá certo. Mas, antes, eu queria te fazer uma pergunta. É obrigatório a gente se divertir, sempre que sai de casa?

A mulher não respondeu e o homem tirou um cigarro do maço e cortou o filtro, e acendeu-o.

- Como você disse, Andréa, eu sou um escritor famoso.

Fez uma pausa e debruçou-se sobre a mesa.

- Mas o importante não é isso. O importante...

- É o quê? É andar como você anda, sem aproveitar merda nenhuma?

Fez uma pausa e passou as mãos no rosto.

- O quê que é importante pra você, hem, Eduardo? Me diga. É a gente tar aqui olhando um pro outro, feito que nem dois idiotas? É isso?

O homem não respondeu. Puxou uma tragada profunda e olhou a mulher fixamente.

- Já que você quer saber, mesmo, o importante talvez fosse, justamente, isso.

- Você é um idiota.

Fez uma pausa e cobriu o rosto com as mãos.

- Você é muito mais idiota do que eu pensava.

O homem continuou imóvel, olhando para a mulher. Depois, balançou a cabeça e sorriu.

- É. Você tá certa. Eu sou um idiota.

A mulher tirou as mãos do rosto e abanou a cabeça com força.

- Como nós somos diferentes, meu Deus do céu.

O homem continuou balançando a cabeça e sorrindo.

- Você tá certa. Realmente, nós somos muito diferentes. Eu sou um idiota e você não é famosa.

Quando o garçom trouxe a comida, o homem pediu a conta e pagou, e saíram do bar. Como entraram. Calados, mas caminhando lado a lado.