ANÁS
Já tinhas visto esse homem?
SACERDOTE
Não, senhor. Só o vi hoje.
ANÁS
Como é ele?
SACERDOTE
Pela forma como falou, pareceu-me ser homem de instrução. Pelo menos, é diferente dos peregrinos que costumam vir a Jerusalém na época das festas. Vais recebê-lo?
ANÁS
Vou. Não sei quem é, nem o que deseja, mas pode ser um aliado. Ou, então, um instrumento. Nem sempre são claros os desígnios do Senhor.
SACERDOTE
Fazes bem. Com Pilatos governando a Judeia e Caifás dirigindo a religião, é sempre bom estar atento. O demônio conhecido é sempre menos perigoso que o demônio que não se conhece. Além do mais, senhor, Roma pode ser eterna, como pretendem os romanos, mas os homens que a governam não são eternos. Até os imperadores, que se dizem deuses, acabam por morrer. Não viste Augusto? E Copônio, que nos governou, não foi substituído? O importante, senhor, é saber esperar.
ANÁS
Logo que chegue, manda entrar esse homem. Mas fica atento. Há muitos loucos entre os seguidores desse Nazareno.
SACERDOTE
Caifás já quis prendê-lo. Na última Festa dos Tabernáculos mandou guardas. Mas não o prenderam. Um desconhecido disse ao Capitão do Templo: Examina, e verás que da Galileia nunca veio nenhum profeta. E o capitão não o prendeu.
ANÁS
A que horas vem esse homem?
SACERDOTE
Não disse, senhor. Apenas disse que era importante e que era urgente.
ANÁS
Então, procura saber sobre ele. Em Jerusalém deve morar alguém que seja de Keriot.
A luz baixa na Casa de Anás e sobe no Palácio de Herodes Antipas, em Tiberíades. Herodes e dois Guardas. Entra o Intendente.
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