Ativo
Faz participar o espectador numa ação cênica
Consome-lhe a atividade
Proporciona-lhe sentimentos
Vivência
O espectador é imiscuído em qualquer coisa
Sugestão
As sensações são conservadas como tal
O espectador está no centro, comparticipa dos acontecimentos
Parte-se do princípio que o homem é algo já conhecido
O homem imutável
Tensão em virtude do desenlace
Uma cena em função da outra
Progressão
Acontecer retilíneo
Obrigatoriedade de uma evolução
O homem como algo fixo
O pensamento determina o ser
Sentimento |
Narrativo
Torna o espectador uma testemunha, mas
Desperta-lhe a atividade
Exige-lhe decisões
Mundivalência
O espectador é posto perante qualquer coisa
Argumento
As sensações são elevadas ao nível de conhecimento
O espectador está defronte, analisa
O homem é objeto de uma análise
O homem suscetível de ser modificado e de modificar
Tensão em virtude do decurso da ação
Cada cena em si e por si
Construção articulada
Acontecer curvilíneo
Saltos
O homem como realidade em processo
O ser social determina o pensamento
Razão |
Interpretativo
Estimula o espectador
Orienta-lhe a atividade
Impõe-lhe participação
Dá-lhe condições de interpretar
O espectador é provocado
Age por meio de demonstrações
As sensações são questionadas
O espectador faz parte de, questiona
O homem é determinante
O homem é a medida da sua própria ação
Tensão visando à comunicabilidade
Cenas concêntricas
Construção mutante
Acontecer circular
Voltas
O homem como causa
O homem determina o pensamento
Conhecimento(5) |
5
O Teatro de questionamento não envolve o espectador, fazendo-o comparticipar dos acontecimentos, como propõe o Teatro de forma dramática , nem o torna uma testemunha, colocando-o defronte, como propõe o Teatro de forma épica , ou o aliena, afastando-o, como propõe o Teatro de absurdo . O Teatro de questionamento estimula o espectador, pois ele faz parte de, questionando e sendo questionado. E desta interação de questionamentos, o Teatro questionando (a realidade e) o espectador, e o espectador questionando (a realidade e) a si mesmo, o ato de fazer Arte será, obrigatoriamente, um ato de conhecimento . Como já foi dito, para questionar é necessário, antes de tudo, conhecer.
6
Quando eu sei por que, tenho Ação, tenho Narração, tenho Exposição e tenho Interpretação .
7
O Teatro de absurdo , contraposto ao Teatro de forma épica , foi um avanço estético tão grande quanto o Teatro de forma épica contraposto ao Teatro de forma dramática . A desmitificação do ser apenas social foi sedimentada. Mas preocupado somente com a apresentação de situações básicas do ser humano, o Teatro de absurdo enveredou pelo caminho reto da negação. Não aceitou, mas também não questionou. E deixou o homem ainda mais só e mais angustiado.
Divorciado de suas raízes religiosas, metafísicas e transcendentais, o homem está perdido; todas as suas ações se tornam sem sentido, absurdas, inúteis (6).
8
O Teatro de questionamento não propõe nenhuma ruptura irreversível, nenhuma oclusão. Propõe, apenas, abrir um caminho e caminhar. Mas sabendo que, se amanhã algum componente da realidade de hoje sofrer alteração, também esse caminho sofrerá alteração.
9
Ser ou não ser não é mais a questão. A questão, agora, é poder ser. Se já não é mais a medida de todas as coisas, o ser humano ainda é a medida (e a medida exata) das suas limitações.
|
(1) Bertolt BRECHT, Um teatro moderno: o teatro épico, em Estudos sobre teatro, 1964, pp. 23-24.
(2) Ibid.
(3)Diferenças mais importantes ao passar-se do Teatro de forma épica para o Teatro de absurdo.
(4)Diferenças mais importantes ao passar-se do Teatro de absurdo para o Teatro de questionamento.
(5) Os itens 1, 12, 13, 14, 15 e 16 são estruturais. Os restantes são conceituais.
(6)Eugène IONESCO, Dans les armes de la ville , transcrito por Martin ESSLIN, O teatro de absurdo , 1968, p. 20. |