Não sei. Sinceramente, não sei, mas tenho certeza que Andréa já não gosta mais de mim. Agora, que já assinamos todos os papéis e o padre já confirmou o casamento e o vestido já está na costureira e o enxoval já foi encomendado e já compramos as passagens e a roupa da viagem e já reservamos o hotel em Lisboa, Andréa não sai mais de casa sem perfume e me deu até um Eau Sauvage e não usa mais sutiã, nem com o uniforme do hotel, e diz que sempre quis andar assim e faz questão de ir para a Praça do Papa e de jantar na Casa dos Contos, e todos os dias conta o tempo que ainda falta para chegarmos na minha casa e comprou mapas de Portugal e guias de turismo e pede que lhe ensine palavras com sotaque e diz que adora falar português de Portugal e lê tudo sobre vinhos portugueses e fala das terras como se já estivesse em Portugal e me leva em Mangabeiras e mostra o apartamento que quer comprar na nossa volta e quer ir a Cabo Frio ver que tipo de casa de praia escolherá, e abraça-me e beija-me e masturba-me e diz que a melhor coisa que aconteceu na vida dela foi ter passado na porta do hotel e ter entrado e jura que cada dia gosta mais de mim e promete nunca mais fazer nada que eu não goste, e convida o Sr. Ferraz e D. Beth e as colegas e vamos jantar na Casa dos Contos e mostra os mapas e os guias e pede vinho Dão e diz que é colhido nas nossas terras e fala da importância da safra e dos cuidados com que deve ser servido e ensina todo mundo a escolher a comida adequada e promete trazer uma caixa de garrafas para cada um quando voltarmos e todos batem palmas e me olham e dizem que ela é que é feliz e o Sr. Ferraz agradece e abraça-me e diz que nunca trabalhou com um gerente como eu, tão compreensivo e tão humano, e D. Beth comove-se e faz um brinde e diz que o amor é assim mesmo, às vezes faz sofrer e dá até vontade de morrer, mas é a única coisa que traz felicidade, e todos concordam e me olham e dizem que o mais importante na vida é encontrar alguém que nos queira de verdade, o resto nada vale e tudo passa, e Andréa diz que também acha e pede mais uma garrafa e olha-me e sorri e diz que nunca imaginou que felicidade fosse assim, e abraça-me e beija-me e diz no meu ouvido que quer ir ao Green Park. Mas não me deita mais no colo, nem pega mais na minha mão, e eu não sei se quero ir ao Green Park. Mas também nunca quis morar no meu quarto e ainda moro nele.
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