CUNHA DE LEIRADELLA

A SOLIDÃO DA VERDADE

ROMANCE

III PARTE - A SOLIDÃO DA VERDADE

Trinta e dois

Passei o Natal com Andréa. Ceamos na casa dela, mas antes tivéssemos ido ao Green Park. Pelo menos, teríamos ido ao Green Park. Saímos do hotel e fomos para casa e D. Mina disse que tinha uma surpresa e serviu o licor de araçá e disse que o marido tinha ligado da Itália e aprovava o casamento e ia até mandar mil dólares de presente e que ela estava muito feliz, pai é sempre pai, e um pai sempre faz falta, principalmente, na criação de uma filha, e abraçou-me e quis abraçar Andréa e ela não deixou e disse que se soubesse que o pai tinha ligado não teria vindo nem cear e que se ele mandasse os mil dólares D. Mina fizesse o favor de devolver e não bebeu o licor e D. Mina pediu desculpas e disse que devolveria, o importante era nós sermos felizes, e abriu uma garrafa de vinho e fez um brinde e abraçou-me outra vez e quis abraçar Andréa e o copo entornou e manchou a frente da blusa e Andréa xingou e jogou-o no tapete e saiu da sala correndo e eu senti-me mal e tive vontade de voltar para o hotel e D. Mina pediu desculpas e limpou as manchas e disse que Andréa era muito ligada com o pai e ainda sentia muito a falta dele e que ela muitas vezes se sentia até culpada por ter deixado a filha sem um pai aos quinze anos, mas que a vida era assim mesmo, não adiantava um querer, vida a dois só podia ser com dois, e, por ela, ainda estariam juntos até hoje, mas Andréa não aceitava e achava que a culpa era só dela e encheu o copo e bebeu mais e foi para a cozinha e eu fiquei sem saber o que fazer e não me senti bem e sentei-me no sofá e peguei o maço de cigarros e vi que era Marlboro e quis que fosse Benson e fiquei com raiva e não fumei e Andréa entrou na sala e levou-me para o quarto e trancou a porta e empurrou-me para a cama e eu não quis e ela disse, mas eu quero, e enfiou as mãos nas minhas coxas e eu tirei-as e ela encostou-me na parede e disse, faz, eu quero que você faça, e abriu a blusa e puxou a minha cara contra os seios e mordeu o meu pescoço e disse, faz, foi aqui que ele fez e eu quero que você faça, e apertou o corpo contra o meu e eu soltei-me e andei até à porta e ela correu e tirou a chave e a blusa e a calcinha e agarrou-me e disse faz, faz como ele, enfia, enfia em mim, me rasga toda, e virou de costas e levantou a saia e abaixou-se e as minhas mãos pularam em cima dela e quiseram sufocá-la e eu não deixei e Andréa riu e disse você não é nem igual a ele, vai, vai, você só parece igual a ele, e abriu a porta e empurrou-me e eu fiquei no corredor sem saber o que fazer e as minhas mãos riram e eu fiquei com raiva e bati-as na parede até perderem os sentidos e voltei à sala e chamei D. Mina e disse que ia voltar para o hotel e ela encheu os copos e pediu que ficasse e não ligasse, Andréa era assim mesmo, desde menina sempre muito agarrada com o pai e sempre chorando quando estava longe dele, mas era muito boa e carinhosa e tudo ia dar certo depois do casamento, e eu fiquei pior do que já estava e peguei o copo e bebi tudo e Andréa entrou na sala e abraçou-me e beijou-me e sentou-me no sofá e sentou-se no meu colo e pediu vinho e D. Mina abriu outra garrafa e Andréa bebeu e disse no meu ouvido você é um bobo, viu, não sabe nem fazer coisas diferentes, e riu e beijou-me outra vez e bebeu mais e D. Mina bebeu também e começou a falar no casamento e na viagem e eu fechei os olhos e lembrei dos Natais da minha casa e quis levantar e ir embora, mas fiquei, e quando cheguei no hotel, só porque o capitão-porteiro não me viu sair do carro e na portaria não tinha cigarros Benson, suspendi-o por três dias. Este Natal foi péssimo, mas não foi o meu pai que teve culpa. Foi o pai dela.

 
 

Cunha de Leiradella
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