CUNHA DE LEIRADELLA

A SOLIDÃO DA VERDADE

ROMANCE

II PARTE - A SOLIDÃO

Onze

São dez e quarenta e cinco e ainda não passei na Recepção. Depois do que aconteceu ontem à noite não sei nem o que fazer. Se nada tivesse acontecido, esta manhã seria uma manhã igual às outras. Já teria passado na Recepção e já teria visto Andréa, e, agora, só estaria esperando que ela me ligasse. Como ligou ontem e anteontem. A esta hora já teríamos marcado o nosso encontro de logo mais e eu já estaria despachando com D. Beth. Mas esta não é uma manhã igual às outras. Ontem à noite fiz uma coisa que não devia ter feito e não sei como desculpar-me com Andréa.

Quero falar com ela, mas tenho medo. Depois do que aconteceu talvez ela nem queira mais falar comigo. Aliás, nem sei, sequer, se veio trabalhar. Já quis ligar para a Recepção, mas não liguei. Alguém poderia dizer Andréa não veio trabalhar hoje, não, Sr. Eduardo. Sei que não provoquei o gesto dela. Aconteceu. Mas isso não importa. O importante é como Andréa se sentiu com o meu gesto. Fiz uma coisa que não devia ter feito e, agora, se Andréa achar que não deve desculpar-me, tenho que aceitar. O fato de ela ter aberto a blusa não significava que eu pudesse puxar o sutiã. Não é por encontrar a minha carteira no quarto que a camareira pode pegar o meu dinheiro.

Tenho certeza que Andréa não gostou. Se tivesse gostado ou, pelo menos, tivesse consentido, não teria saído do carro do jeito que saiu. Sem esperar que eu pudesse despedir-me. Mas saiu, e isso só prova que se sentiu ofendida. E eu tenho que aceitar. Se a situação fosse ao contrário, se eu a tivesse deixado só no carro, que significado poderia ter a minha fuga? Por mais que me custe e por mais que gostasse de justificar o que fiz ontem, não tenho como pensar de outra forma. A minha fuga significaria apenas isto: acabou tudo.

 
 
 

Cunha de Leiradella
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