LUÍS DE BARREIROS TAVARES (Org.)
V poemas inéditos do caderno Apontamentos Poéticos (1982) de Manoel Tavares Rodrigues-Leal. Com ligação às revistas Mirada e Caliban.
a Estela Guedes
Extremamente nua. E através dela a sombra
luminosa, a mais íntima coisa e a mais externa
António Ramos Rosa
I
Oh praia deserta da minha juventude,
rara inscrição do que se perdeu para sempre…
agora repousa no sul exacto do teu ventre.
Oscila a água do mar, e tudo se recolhe amiúde,
à janela do meu ser, que sabor amargo
de memória e lume… do amor passado, ainda flutua um barco.
Lx. 19/7/82
II
A tatuagem, a hera, o que resta
da guerra.
Não te comi como era urgente
comer-te. Como um fruto.
E, enquanto escuto,
cai a tarde misteriosamente.
Lx. 20/7/82
III
São os teus lábios,
feitos farrapos.
São dons de parágrafos.
Leio o teu rosto, releio-o,
como a simetria dum seio.
Lx. 1/8/82
IV
Sob os sons das águas do verão,
renasço.
Sob o abraço do sol.
que declínio…
e assim vigília e noite.
Que deus me acoite.
Lx. 3/8/82
V
Não sei que rio de melancolia
possuía raízes…
são só países de nudez.
Oscilas, e quebras a geometria
de um dia azul.
Lx. 7/8/82
Duas publicações recentes com poemas do caderno Apontamentos Poéticos
https://www.miradajanela.com/2025/03/e-o-azul-branco-do-teu-olhar-cinco.html
https://revistacaliban.net/a-curva-do-teu-seio-engendra-a-p%C3%A9rola-do-dia-b575d786b66b
António Ramos Rosa, Volante Verde, Lisboa, Moraes Editores, 1986.