Lamento por Gaza

 

 

 

 

 

 

 

 

GLEDSON SOUSA


Lamento Por Gaza

 

Gaza sob as bombas

Gaza às escuras

Gaza sob escombros

O sol de Gaza é de fósforo branco

O deus de Israel, um assassino

Gaza, Gaza, quem chorará por ti?

Quem, gritando teu nome, não será apedrejado?

Sinistrogira a suástica dança

Dentro da estrela de David

Ó Gaza, teu sangue evapora

Sob o furor do fogo e do silêncio

De longe escuto teus gritos

Teus filhos chorando na escuridão

De longe o vapor da morte

De tuas ruas incendiadas

De teus prédios demolidos

Da face emaciada

De tuas crianças com fome

Arrancaram os olhos da justiça

Papagaios cegos ignoram tua dor

Gaza morre, Gaza vive

O coração de Gaza é uma fênix

Mil vezes maldito seja

O nome de quem te desonra

Ó Gaza, queria por ti cantar gazais

Não elegias

Escuto tua voz clamando por justiça, mas não há

Só força bruta, ganância, estupidez

O cansaço de velhas mentiras

A língua do inimigo

Cheia de óleo e carvão

Gaza, virá o dia em que teus filhos

Espalhados pelo mundo

Retornarão a ti

Trazendo flores, ramos de palmeira e oliveira

Ó Gaza, queria poder segurar tuas mãos, te dar respostas

Mas o futuro é página incerta

Por isso grito contigo

Olhem para Gaza

Lamentem por Gaza

Socorram Gaza

Gaza vive,

A Palestina vive

E estou contigo

São Paulo, 13/10/2023, 04:42hs


O Assassino

 

Sangue goteja dos gatilhos

Também de tuas mãos de cidadão respeitável

Embaixo das tendas,

Nos galpões, nos escombros

Há sopro de deserto e carne apodrecida

Nos rolos com letras sagradas,

Sob o céu cheio de mísseis

Vermelho escorre em forma de oração

 

Veja as oliveiras queimadas, as raízes se agarram

Ao que resta

Uma sombra de água e as gavinhas

Que se estreitam entre as

Pedras

Segurarão o tronco, as folhas queimadas, o fruto em gestação

 

Olho por um milhão de olhos

Dente por um comboio cheio de dentes

Você goza sobre os mísseis

Bombas que se fragmentam

Em choro de crianças

Você que é tão veloz na fúria

Sangue espirra de sua birra

Um dia o deus que destrói crepúsculos

Gritou em falsete:

Quero

Três mil mortos, dez mil corpos

Meu plexo solar sorri contente

Com a carnificina

Que a terra se torne uma latrina é meu prazer

Você incendeia o céu de branco

Deseja a Sheol para o inimigo

O Éden para si

Estupra a serpente

Apodrece os frutos

Você que tem a língua

De Chumbo


Stop

 

É preciso parar

O sangue que escorre pelas valas

 

Cruzar o mar, chegar em Gaza

Um milhão de braços a somar

Com mortos e vivos

 

Deter os animais de sangue frio

Que cruzam a fronteira

Em seus tanques cheio de lagartas

 

Não olhem para o mar, olhem para Gaza

 

Olhem para Gaza

E as feridas de seu concreto exposto

 

Olhem para Gaza

E suas vísceras de metal e linfa

 

Olhem para Gaza

E suas mulheres de olhos amendoados

Chorando sangue

 

Olhem para Gaza

E suas armas de papel

 

Olhem para Gaza

E seus mortos de muitas eras

 

Olhem para Gaza

De palmeiras derrubadas e crianças mortas

 

Olhem para Gaza

E suas viúvas

 

Olhem para Gaza

E seus pais em luto

 

Olhem para Gaza

E seus órfãos

 

Olhem para Gaza

E seus anjos vermelhos

 

Gaza e sua fadiga

Gaza e sua fúria

Gaza e sua glória

Gaza e sua memória

Gaza e suas pedras

Gaza e seus estilingues

Gaza e seus poetas

Gaza e seus profetas

Gaza e sua honra

Gaza sob as velas

Gaza sob as balas

Gaza e suas valas

Gaza e seus tropeços

Gaza e seus becos

Gaza e seus ecos

Gaza que não se cansa

Gaza que não se entrega

Gaza que não cessa

Gaza e suas danças

Gaza e seus perfumes

Gaza, que resiste

Gaza que se parte

Gaza que morre

Gaza que escorre

Gaza que floresce

 

É preciso parar