Justiça portuguesa a ser mais lenha na fogueira da democracia

 

ANTÓNIO JUSTO
Corrupção institucional legalizada?


Mais um murro nos olhos dos portugueses! O juiz de instrução Ivo Rosa destruiu quase por completo 4 anos de investigação do Ministério Público (1) e pelo caminho, também o trabalho feito pelo seu colega de tribunal Carlos Alexandre, que foi o magistrado que ao longo desses anos foi validando e promovendo buscas, escutas e outras diligências. Dos 28 arguidos sobraram 5 para ir a julgamento, 188 crimes foram reduzidos a 17 (2)! Sócrates foi ilibado (a 9.04.2021) dos crimes de corrupção e de fraude fiscal (Operação Marquês). O Ministério Público pretende recorrer contra esta decisão no Tribunal de Relação de Lisboa. Segundo o funcionário Ivo Rosa, José Sócrates terá apenas de responder pela prática de crimes de branqueamento de capitais e falsificação de documentos.

A Justiça deixa, assim, antever a cumplicidade do aparelho Judicial com o poder político e económico; “ilibar, por deficiências processuais, Sócrates e Salgado dos crimes de corrupção, é passar uma carta branca ao roubo institucional” como constata o músico Pedro Abrunhosa.

O problema não é sequer do juiz Ivo, o problema de fundo é da Justiça Portuguesa e do comércio de influências. O Juiz Ivo Rosa com o processo Marquês, serão apenas o Iceberg da Justiça portuguesa. Os poderosos apoderaram-se do Estado e da democracia. A corrupção tornou-se legal.

Muitos ainda vivem na ilusão de esperarem justiça da Justiça. Eles gozam cinicamente com o povo. É a lei do safe-se e dos acomodados a algum grupo influente! Temos sistema, faltam-nos Homens! O problema é do sistema e de uma Justiça em grande parte de influências e a falta de Cidadãos em Portugal! Os corruptos sabem que ganham porque embora alguns milhares barafustem, aqueles estão seguros que milhões os elegem.

A vassalagem e o comércio de influências continuam, como na Idade Média, com a diferença que muitos responsáveis de hoje são descarados porque se sentem legitimados nos seus malefícios por actos do nosso sistema democrático. O problema não é Ivo, o problema é a Justiça portuguesa e a troca de influências entre grupos de interesses fortes. O juiz Ivo sai ileso; ele é um filho do sistema e ao serviço do sistema. O problema é a Justiça Portuguesa e o tipo de sistema democrático que a acompanha e legitima. A Política orienta-se pela ética de interesses! O resto é música de acompanhamento. Quem vai no cortejo não nota! Por sua vez o povo, bem-ensinado, segue o jogo político dos prevaricadores desculpando os erros de uns partidos com os dos outros.

Em Portugal, país pequeno, os grupos de interesses são solidários entre si, repartindo entre eles o saque. Só o povo não manifesta interesse e, como tal, não tem quem defenda os seus interesses; isto independentemente do regime político que se adopte!

Quem come da mesma gamela não se vê motivado a criticar no sentido de as coisas mudarem; quando muito vira a bola para canto! Um problema simplório é também tentar-se explicar males actuais com males antigos e o mal de um partido com o mal do outro, passando-se assim bem à margem do bem comum e dos interesses reais do país. Por estas e por outras o país «não passa da cepa torta»!

António da Cunha Duarte Justo

Notas em Pegadas do Tempo,  https://antonio-justo.eu/?p=6421