• O ANTIGO TESTAMENTO
    E A SEXUALIDADE
    (VI)

    FRANCOLINO J. GONÇALVES, op
    École Biblique et Archéologique Française, Jerusalém



NOTAS
1 Entre as apresentações sintéticas do tema, assinalo Tikva FRYMER-KENSKY, «Law and Philosophy: The Case of Sex in the Bible», Semeia 45 (1989) 89-102; IDEM, «Sex and Sexuality», in Anchor Bible Dictionary 5, Nova Iorque, Doubleday, 1992, pp. 1144-1146; M. GILBERT, «Sexualité», in Supplément au Dictionnaire de la Bible XII, Paris, Letouzey & Ané, 1996, cc. 1016-1043.

2 Conhece-se o relato da concepção e do nascimento de vários filhos divinos de El: KTU 1.23; A. CAQUOT et al., Textes ougaritiques, I. Mythes et légendes. Introduction, traduction, commentaire (Littératures Anciennes du Proche-Orient 7), Paris, Les Éditions du Cerf, 1974, pp. 369-379.

3 Astarte em hebraico. Corresponde à Ichtar babilónica e à Inana suméria, à Afrodite grega e à Vénus latina.

4 Conhece-se um relato do casamento de duas divindades lunares: a deusa Nikkal, filha de Baal, e Yarikh (Lua). A. CAQUOT et al., Textes ougaritiques, I. Mythes et légendes, pp. 390-397.

5 M. S. SMITH, «The Divine Family at Ugarit and Israelite Monotheism», in S. L. COOK et al. (eds), The Whirlwind. Essays on Job, Hermeneutics and Theology in Memory of Jane Morse (Journal for the Study of the Old Testament. Supplement Series 336), Londres – Nova Iorque, Sheffield Academic Press, pp. 40-68.

6 KTU 1.23, 30-54 ; A. CAQUOT et al., Textes ougaritiques, I. Mythes et légendes, pp. 373-376.

7 “Membro viril” traduz o termo ugarítico yd. Tanto em ugarítico como em hebraico o sentido mais frequente de yd é “mão”. Em vários textos ugaríticos, yd designa o “pénis” de um deus (KTU 1.4 IV, 38 ; 1.10 III, 7 ; A. CAQUOT et al., Textes ougaritiques, I. Mythes et légendes, pp. 205 e 286). Noutros textos refere-se ao amor de um modo geral. O sentido fálico de yd talvez também esteja documentado na Bíblia (Is 57,8.10), em contexto metafórico, pois se refere aos amantes de Jerusalém. Os especialistas da filologia semítica discutem a questão de saber se os dois sentidos de yd derivam de um só ou de dois étimos homónimos. Na primeira hipótese, o sentido erótico-fálico de yd seria eufémico. P. ACKROYD, «y?d» Theologisches Wörterbuch zum Alten Testament III, Estugarda, Verlag W. Kohlhammer, 1982, cc. 425-427 (425-455).

8 O tamanho desmedido do pénis de El revela a grandeza da sua potência.

9 No contexto, o ceptro tem um sentido fálico óbvio.

10 KTU 1.5 V; A. CAQUOT et al., Textes ougaritiques, I. Mythes et légendes, pp. 247-249.

11 Pidray e Talay são duas filhas de Baal.

12 Sete e setenta, oito e oitenta, que equivalem a inúmeras vezes, insistem na extraordinária potência de Baal e na insaciedade da sua parceira, dignas de seres divinos.

13 KTU 1.11; A. CAQUOT et al., Textes ougaritiques, I. Mythes et légendes, p. 289.

14 W. R. SMITH, Lectures on the Religion of the Semites, First Series: The Fondamental Institutions, Edimburgo, A. & C. Black, 1889.

15 J. G. FRAZER, The Golden Bough: A Study in Magic and Religion.12 vols, Londres, Macmillan, 1890-1915. Houve uma primeira edição abreviada em 1922 e uma segunda, ainda mais abreviada, feita por Th. Gaster em 1959.

16 M. NISSINEN, «Akkadian Rituals and Poetry of Divine Love», in R.M. WHITING (ed.), Mythology and Mythologies. Methodological Approaches to intercultural Influences, Helsínquia, The Neo-Assyrian Text Corpus Project, 2001, pp. 93-136.

17 Joan G. WESTENHOLZ, «Heilige Hochzeit und kultische Prostitution im Alten Mesopotamien», Wort und Dienst (Jahrbuch der Kirchlichen Hochschule Bethel ) 23 (1995) 43-52 (43-62).

18 Julia ASSANTE, «The kar.kid/harimtu, Prostitute or Single Woman? A Reconsideration of the Evidence», Ugarit-Forschungen 30 (1998) 5-96.

19 A correspondente grega de Ianana/Ichtar/Astarté.

20 HERÓDOTO, Histórias I, 199. Tradução em J. R. FERREIRA e M.F. SILVA, Heródoto. Histórias, Livro 1º, Lisboa, 1994.

21 D. ARNAUD, «La prostitution sacrée en Mésopotamie, un mythe historiographique ?», Revue de l’Histoire des Religions 183 (1973) 111-115; R. A. HENSHAW, Female and Male : The Cultic Personnel, the Bible and the Rest of the Ancient Near East (Princeton Theological Monograph Series 31), Allison Park, GA, Pickwick Publications, 1994, pp. 225-228.

22 Marjo C. A. KORPEL, A Rift in the Clouds. Ugaritic and Hebrew Descriptions of the Divine, Münster, UGARIT-Verlag, 1990.

23 Com muita frequência, sobretudo na expressão lpny yhwh (“diante de Iavé”); Ex 33,11.20.23.

24 Mencionados cerca de duzentas vezes.

25 Nm 11,1; 2 S 22, 7; 2 R 19,28.

26 Gn 8,21; Dt 33,10.

27 Nm 12,8; Is 34,16; Jr 15,9.

28 Is 30,27; Job 11,5.

29 Ex 12,16; Nm 11,23; Is 30,30.

30 Ex 15,5.12; 24,11; 33,23

31 Ex 31,8; Sl 8,4.

32 Muito frequente.

33 Ez 1,27; 8,2; Dan 10,5ss.

34 Ex 24,10; Dt 33,2-3; 2 S 22,10; Is 60,13; 66,1; Ez 43,7; Na 1,3; Hab 3,5; Za 14,4; Sl 99,5; 132,7; Lm 2,1.

35 Os vv. 3-4 evocam o comportamento de Iavé para com Israel. O v. 3 prossegue a imagem do pai e do filho. O Texto Massorético da segunda parte do v. 4 diz: «Eu fui para eles como quem lhes levanta o jugo das queixadas, eu inclinei-me para ele e fi(-lo) comer». Segundo esta compreensão do texto, o registo das imagens muda bruscamente, passando da imagem do pai que se inclina para alimentar o filho para a imagem do lavrador que solta os animais do jugo e lhes dá de comer. Daí que muitos exegetas vocalizem o texto hebraico de maneira diferente, lendo não ‘ol (jugo), mas ‘ûl (criança de peito) e, por conseguinte traduzindo: «Eu fui para eles como quem levanta uma criança de peito contra o seu rosto, eu inclinei-me para ele e fi(-lo) comer». Nesse caso teríamos a imagem de uma mãe que amamenta o seu filho. Por isso há quem pense que Os 11,1-4 apresenta Iavé não sob a imagem do pai, mas sob a imagem da mãe; sob a imagem ao mesmo tempo do pai e da mãe ou, pelo menos, sob a imagem de um pai com traços maternos. Cf. Jopie SIBERT-HOMMES, «‘With Bonds of Love’: Hosea 11 as ‘Recapitulation’ of the Basic Themes in the Book of Hosea», in Unless some one guide me… Festschrift for Karel A. Deurloo (Amsterdamse Cahiers voor Exegese van de Bijbel en zijn Tradities. Suppl. Ser. 2), Maastricht, Shaker Publishing, 2001, pp. 167-173.

36 É difícil saber se Israel e Efraim são inteiramente sinónimos ou se Efraim é só uma parte de Israel.

37 Cf. Jr 3,19. A explicitação “primogénito” em Ex 4,22 poderia dever-se ao paralelismo entre Israel, o primogénito de Iavé, e o primogénito do Faraó, que Iavé vai matar (v. 23).

38 Is 63,16; 64,7; Jr 3,4; Ml 1,6. Em Jr 2, 27 a paternidade é atribuída indevidamente aos ídolos. Notar o emprego do verbo yâlad (“dar à luz”).

39 Is 1,2.4; 30,1.9.

40 Dt 14,1; 32,5; Jr 3,14 e Os 2,1. Em Dt 32,8, os filhos de Deus são divindades menores.

41 Sl 2,7; 89,28; 110,3 (grego); 2 S 7,14 e 1 Cr 17,13.

42 Dt 32,18. Embora estejam no masculino, os verbos yâlad e hw/yl (meholél, “contorcer-se com dores de parto”), não deixam qualquer dúvida sobre o carácter feminino da imagem. Cf. Nm 11,12.

43 Is 49,15. A comparação é posta na boca do próprio Iavé: “Esquecerá uma mulher a sua criança de peito, não mais se compadecerá do filho do seu ventre? Ainda que ela se esquecesse, eu não me esquecerei de ti”. No contexto, a palavra “ventre” designa por sinédoque o útero.

44 Baseando-se na incongruência que constitui o facto de atribuir um papel feminino a Israel, nome masculino, Schmitt tem defendido a tese segundo a qual a esposa de Iavé foi primeiro a cidade de Samaria e, posteriormente, a cidade de Jerusalém. Com efeito, ‘îr, o correspondente hebraico de cidade, é feminino como em português. Da mais de meia dúzia de estudos sobre a questão publicados pelo autor, refiro o primeiro e o último: J.J. SCHMITT, «The Gender of Ancient Israel», Journal for the Study of the Old Testament 26 (1983) 115-125; IDEM, «Gender Correctness and Biblical Metaphors: The Case of God’s Relation to Israel», Biblical Theology Bulletin 26 (1996) 96-106. A hipótese de Schmitt não tem encontrado adeptos. Pode ver-se a discussão de A. DEARMAN, «Yhwh’s House: Gender Roles and Metaphors for Israel in Hosea», Journal of Northwest Semitic Languages 25 (1999) 97-108. É possível que na origem se pensasse em primeiro lugar no país ou na terra – o termo hebraico correspondente ’èrètz é feminino – com os seus habitantes.

45 Pode ver-se J. A. M. RAMOS, «A metáfora esposo-esposa, símbolo da história da salvação» (Bíblica, série científica I/1), Lisboa, Difusora Bíblica, 1993, pp. 33-50.

46 Dt 31,16; 32,16; Jz 2,17; 8, 27.33; 2 R 9,22; cf. Ex 34,15-16.

47 Lv 17,7; 20,5; Nm 15,39; Mq 1,7; Na 3,4.

48 Sobretudo cap. 2-3.

49 Os 9,10; 12,10; 13,4-6.

50 O particípio plural piel do verbo ’âhab (amar), construído sempre com um pronome pessoal tendo o povo como antecedente: «os meus» (Os 2,7.14; Lm 1,19; Zc 13,6), «os teus» (Jr 22,20.22; 30,14; Ez 16,33.36.37; 23,22-23) ou «os seus amantes» (Os 2,9.12.15; Ez 23,5.9), segundo o povo tem a palavra, é o destinatário do discurso ou o seu objecto.

51 Ez 23,3.8.19.21.27.

52 Ez 20,5-28 faz uma retrospectiva histórica semelhante à de Ez 23, mas sem usar o vocabulário e as imagens matrimoniais e sexuais.

53 Baal era concebido como uma divindade multiforme, tendo tantas manifestações quantos os templos onde era adorado. Por isso os textos usam o nome de Baal ora no singular ora no plural.

54 Em certos casos não é fácil saber se os rivais de Iavé são os outros deuses, as potências estrangeiras (Ez 16,33.37) ou os próprios chefes de Judá (Jr 22,20.22).

55 Os 2,7-15; Jr 2,1-3,25; Ez 16,36; 23,22-23.

56 Os 8,9; Jr 30,14; Ez 23,5.9; Lm 1,2.19; Cf. Jr 4,30.

57 Na maioria dos casos, este vocabulário está associado a termos do grupo lexical zânâh (Os 2,4; 4,13.14; Jr 3,8.9; 5,7; 13,27; Ez 23,43; Is 57,3).

58 Tributo.

59 Ez 16, 28; 23,5-10.12. 23.

60 Ez 16,29; 23,14-17. Ez 23,23 acrescenta ainda os nomes de outros povos, pouco conhecidos ou desconhecidos.

61 O campo lexical zânâh serve também para expressar as relações económicas entre Tiro e as demais nações (Is 23,15-18).

62 De facto, é uma região.

63 A denúncia das infidelidades da esposa, em Is 57,3-13, é uma excepção.

64 Is 50,1; 54,1-10; 62,4-5.

65 Ez 23,4.37. Ez 16,20-21 afirma o mesmo a respeito só de de Jerusalém.

66 Piel do verbo pâsaq, que significa “abrir de par em par”.

67 Ragelayik, literalmente “os teus pés” (Ez 16,36; 23,18)

68 Ez 23,14-16.

69 Jz 3,7; 2 Cr 19,3 e 2 Cr 33,3.

70 Ex 34,13; Dt 7,5; 12,3; 1 R 14,15.23; 2 R 17,10; 23,14; Is 27,8.9; Jr 17,2; Mq 5,13; 2 Cr 14,2; 17,6; 24,18; 31,1; 33,19; 34,3.4.7.

71 Escrevo com maiúsculas ou com minúsculas, segundo se trata da própria deusa ou da sua representação.

72 1 R 18,19. Um bom número de exegetas, seguindo as pegadas de J. Wellhausen, vê uma glosa no elemento de frase “e os quatrocentos profetas de Acherá”. Foi essa a hipótese adoptada, por exemplo, por R. de Vaux ao traduzir os livros dos Reis para a Bíblia de Jerusalém. Em nome dessa hipótese, de Vaux excluiu o membro de frase do texto, relegando-o para uma nota de rodapé. Foi assim desde a primeira edição dos livros dos Reis publicada num fascículo em 1950 até à 2ª edição da Bíblia de Jerusalém num volume publicada em 1973, a qual serviu de base para a tradução portuguesa. A questão não é tão simples como dá a entender a nota de rodapé ao afirmar: “Uma glosa acrescenta: ‘e os quatrocentos profetas de Aserá’ ” dos quais não mais se falará. É certo que não se fala mais deles no texto hebraico, mas fala-se no texto grego (v. 22). Faltam, no entanto, no v. 40, onde deveriam encontrar-se também. É provável que a menção dos profetas de Acherá em 1 R 18,19 e 1 R 18,22 (LXX) seja uma glosa bastante recente (certamente anterior à tradução grega no séc. II ou III a. C.). No entanto, isso não autoriza de modo algum a suprimi-la. Independemente de quem tenha sido o seu autor, a menção faz parte do texto e é arbitrário retirar-lha. A última edição francesa da Bíblia de Jerusalém, publicada em 1998, reintroduziu-a no texto e, por conseguinte, modificou a nota de rodapé.

73 2 R 17,16; 21,3; 23,4.

74 Jz 6,25-30; 1 R 16,31-33; 18,19. Em Jz 3,7, o par está no plural: bealim e acherot. O facto parece indicar que, como no caso de Baal, se admitia a pluralidade das manifestações de Acherá, tão numerosas como os lugares onde se lhe prestava culto.

75 A natureza do edifício é discutida. Aventaram-se as hipóteses de se tratar de um santuário ou de um caravansarai ou ainda das duas coisas ao mesmo tempo.

76 Entre as numerosas publicações do autor sobre a questão, menciono só Z. MESHEL, «Kuntillet ‘Ajrud», in Anchor Bible Dictionary 4, 1992, pp. 103-109 e IDEM, «Teman, Horvat», in New Encyclopedia of Archaeological Excavations in the Holy Land 4, 1993, pp. 1458-1464.

77 Alguns epigrafistas reconstituem mais duas mençãos de Iavé de Teman e Achéra noutra inscrição de Kuntillat Ajrud. Cf. Judith M. HADLEY, The Cult of Asherah in Ancient Israel and Judah. Evidence for a Hebrew Goddess (University of Cambridge Oriental Publications 57), Cambridge University Press, 2000, pp.130-136.

78 Sigo o deciframento e a interpretação de J. M. HADLEY, The Cult of Asherah, pp. 106-155.

79 J. M. HADLEY, The Cult of Asherah, p. 121.

80 J.M. HADLEY, The Cult of Asherah, p. 125.

81 A. LEMAIRE, «Les inscriptions de Khirbet el-Qôm et l’Ashérah de Yhwh», Revue Biblique 84 (1977) 597-603 (595-608).

82 J. M. HADLEY, The Cult of Asherah, p. 86.

83 Entre os estudos mais recentes, assinalo Chr. UEHLINGER, «Anthropomorphic Cult Statuary in Iron Age Palestine and the Search for Yahweh’s Cult Images», in K. VAN DER TOORN (ed.), The Image and the Book. Iconic Cults, Aniconism, and the Rise of Book Religion in Israel and the Ancient Near East (Contributions to Biblical Exegesis and Theology 21), Lovaina, Peeters, 1997, pp. 140-146 (97-155); P. MERLO, La dea Ašratum – Atiratu – Ašera. Un contributo alla storia della religione semitica del Nord, Mursia, Pontificia Università Lateranense, 1998, pp. 195-209; P. XELLA, «Yhwh e la sua ’šrh: la dea o il suo símbolo? (Una risposta a J.A. Emerton)», Studi epigrafici e linguistici sul Vicino Oriente antico 18 (2001) 71-81.

84 Expressa-se em hebraico mediante a sufixação do pronome pessoal da terceira pessoa do singular masculino ao substantivo.

85 Entre os estudos mais recentes, refiro J.A. EMERTON, «“Yahweh and His Asherah”. The Goddess or Her Symbol?», Vetus Testamentum 49 (1999) 315-337; J. DAY, Yahweh and the Gods and Goddesses of Canaan (Journal for the Study of the Old Testament. Supplement Series 265), Sheffield, Sheffield Academic Press, 2000, pp. 49-52; J. M. HADLEY, The Cult of Asherah in Ancient Israel and Judah, pp. 8-155 e 207-208.

86 1 R 11,5.33; 2 R 23,13.

87 Jz 2,13; 10,6; 1 S 7,3-4; 12,10.

88 Chamgar filho de Anat (Jz 3,31).

89 Beyt Anat (Jos 19,38; Jz 1,33)

90 Seguindo na peugada de J. WELLHAUSEN, Die Kleinen Propheten übersetzt und erklärt, Berlim, Walter de Gruyter, 41963, p. 134, vários exegetas lêem o nome de Anat e de Acherá em Os 14,9. Cf. F. GANGLOFF, «“Je suis son ‘Anat et son ’Ašerâh” Os 14,9)», Ephemerides Theologicae Lovanienses 74 (1998) 373-385. De facto, essa interpretação baseia-se numa correcção conjectural do texto hebraico. Cf. J. A. WAGENAAR, «“I Will Testify Against Them and Challenge Them”: Text and Interpretation of Hosea 14:9», Journal of Northwest Semitic Languages 26/2 (2000) 127-134.

91 Uma ilha no Nilo junto à cidade actual de Assuão.

92 P.-E. DION, «La religion des papyrus d’Éléphantine : un reflet du Juda d’avant l’exil», in U. HÜBNER e E. A. KNAUF (eds), Kein Land für sich allein. Studien zum Kulturkontakt in Kanaan, Israel/Palästina und Ebirnâri für Manfred Weippert (Orbis Biblicus et Orientalis 186), Friburgo (Suíça), Universitätsverlag – Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 2002, pp. 243-254.

93 É possível que Dt 32,8-9 e o Sl 82 contenham resquícios respectivamente do tempo em que Iavé ainda não era o deus supremo de Israel e do momento em que começou a sê-lo.

94 Em rigor de termos, nenhuma deusa era concorrente de Iavé. Só um deus o podia ser.

95 A correcção do texto de Os 14,9 não passa de uma conjectura. Cf. supra n. 89. Pode dizer-se outro tanto da correcção do texto de Am 8,14 e da opinião que vê uma referência a Acherá em Os 4,12. O pl. ’acherïm lê-se em Jr 17,2, passagem própria ao hebraico, sem correspondência no texto grego. Cf. Judith M. HADLEY, The Cult of Asherah in Ancient Israel and Judah (supra n. 77), pp. 75-77.

96 Os 2,10.15.19; 11,2; 13,1.

97 Jr 2,8.23; 7,9; 9,13; 11,13.17; 12, 16; 19,5; 23,13.27; 32,29.35. Nem todos esses textos são da autoria de Jeremias, mas alguns são certamente.

98 S. M. OLYAN, Asherah and the Cult of Yahweh in Israel (Society of Biblical Literature. Monograph Series 34), Atlanta, GA, Scholars Press, 1988, pp. 13-14; Judith M. HADLEY, The Cult of Asherah in Ancient Israel and Judah (supra n. 77), pp. 23 e 207.

99 Judith M. HADLEY, The Cult of Asherah in Ancient Israel and Judah (supra n. 77), pp. 206-207; Th. RÖMER, «L’éviction du féminin dans la construction du monothéisme», Études Théologiques et Religieuses 78 (2003) 175-180 (167-180).

100 Gn 1,20-25. 27-28.

101 Título sugerido por M. VERVENNE, «Genesis 1,1-2,4. The Compositional Texture of the Priestly Overture to the Pentateuch», in A. WÉNIN (ed.), Studies in the Book of Genesis. Literature, Redaction and History (Bibliotheca Ephemeridum Theologicarum Lovaniensium 155), Lovaina, University Press, 2001, pp. 35-79, sobretudo pp. 43 e 52-53.

102 Jogo de palavras entre ich (homem) e ichcha (mulher).

103 Deve entender-se por sinédoque a mão. Ct 5,14 usa a sinédoque no sentido oposto: escreve mãos para se referir aos braços. O selo, documento de identidade e assinatura, trazia-se pendurado ao pescoço – sobre o coração (Gn 38,18.25) – ou encastrado num anel, posto num dos dedos das mãos (Gn 41,42; Jr 22,24; Ag 2,23).

104 O termo qine’a pode ter também os matizes de zelo, ardor, paixão.

105 Tradução do plural de rèchèf. Esse termo ou um homónimo é o nome de uma divindade semítica do Oeste, o deus da peste (Dt 32,24; Hab 3,5).

106 Forma abreviada do nome de Iavé. “Uma flama de Iá” é uma compreensão do texto possível, mas não certa.

107 Jz 4,11 e o grego de Jz 1,16.

108 Também se pode traduzir o pronome na feminino, supondo que tem por antecedente as nascentes.

109 Judith R. WEGNER, «“Coming Before the Lord”. The Exclusion of Women from the Public Domain of the Israelite Priestly Cult», in R. RENDTORFF e R. A. KUGLER (eds), The Book of Leviticus. Composition and Reception (Supplements to Vetus Testamentum 93 - Formation and Interpretation of Old Testament Literature 3), Leiden - Boston, Brill, 2003, pp. 451-465.

110 Segundo Lv 27,2-8, um homem valia muito mais do que uma mulher.

111 W. VOGELS, «The Power Struggle between Man and Woman (Gen 3,16b)», Biblica 77 (1996) 197-209.

112 Uma das primeiras a assumir essa posição foi Phyllis TRIBLE, «Depatriarchalizing in Biblical Interpretation», Journal of the American Academy of Religion 41 (1973) 30-48. Entre as refutações, assinalo D. J. A. CLINES, What Does Eve Do to Help? And Other Readerly Questions to the Old Testament (Journal for the Study of the Old Testament. Supplement Series 94), Sheffield, Sheffield Academic Press, 1994, pp. 25-48.

113 Literalmente, “constrói, edifica”.

114 Pr 22,14; 23,27-28; 29,3; 30,20; 31,3.

115 Pr 2,16; 5,2-3; 9,1-6.13-18.

116 Pr 29,3; 9,1-6.13-18.

117 Tikva FRYMER-KENSKY, «Pollution, Purification, and Purgation in Biblical Israel», in Carol L. MEYERS e M. O’CONNOR (eds), The Word of the Lord Shall Go Forth. Essays in Honor of David Noel Freedman , Winona Lake, Indiana, Eisenbrauns, 1983, pp. 399-414; J. KLAWANS, «Idolatry, Incest, and Impurity: Moral Defilement in Ancient Judaism», Journal for the Study of Judaism 29 (1998) 391-415.

118 Lv 19,31; 20,1; 1 R 14,24; Jr 2,7.23; 31,1; Ez 20,30-31; Os 5,3; 6,10.

119 Nm 35,33-34; Ez 33,25-26; Sl 106,35-40.

120 A informação “e que eles se deitavam com as mulheres que serviam na entrada da ‘Tenda da Reunião’” no final do v. 22 é própria ao Texto Massorético, não figurando nem em 4QSama nem na maioria dos manuscritos da LXX. É possível que se trate de um acrescento relativamente tardio, posterior à tradução do texto em grego, que se inspira em Ex 38, 8. Por isso a Bíblia de Jerusalém suprimiu-o do texto, relegando-o para uma nota de rodapé, em todas as edições anteriores a 1998. Por fim, a edição francesa de 1998, que é a mais recente, optando pelo Texto Massorético, deixou essa informação no texto.

121 Gn 10,10-12; 20,1-20; 26,6-11.

122 O Decálogo contém outra referência à esposa. “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu burro, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo” (Ex 20,17; cf Dt 5,21). A esposa é um dos haveres do marido, uma força de trabalho, ao mesmo título que o servo e a serva, o boi e o burro. Neste contexto, cobiçá-la não tem nada a ver com o desejo sexual, mas com a ganância. Cobiçá-la, ou melhor dito apoderar-se dela sem razão, é um atentado não contra o direito conjugal do marido em particular, mas contra o seu direito de propriedade em geral.

123 R. WESTBROOK, «Adultery in Ancient Near Eastern Law», Revue Biblique 97 (1990) 542-580.

124 A interdição das relações sexuais e do casamento com uma irmã ou meia irmã, nascida do mesmo pai e da mesma mãe, figura nas três listas (Lv 18,9.11; 20,17; Dt 27,22) e é confirmada por Ez 22,11.

125 A. SCHENKER, «What Connects The Incest Prohibitions with the Other Prohibitions Listed in Leviticus 18 and 20?», in R. RENDTORFF e R. A. KUGLER (eds), The Book of Leviticus (supra n. 97), pp. 164-165 (162-185).

126 2 S 13,13 supõe que Amnon podia casar com a sua meia-irmã Tamar.

127 É neste contexto que se situa o episódio de Onã, de que deriva o termo onanismo (Gn 38,6-10). Sabendo que o filho que viesse a nascer não seria dele, mas do seu irmão defunto, Onã evita engravidar a sua cunhada Tamar. O que o texto condena é a recusa de Onã de dar um descendente ao irmão.

128 2 S 3,7; 12,8; 1 R 2,13-25; cf. Jr 41,10; 43,6.

129 Ex 22,18; Lv 18,23; 20,15-16 e Dt 27,21.

130 A condenação da bestialidade está documentada no mundo hitita. Cf. H. A. HOFFNER, Jr., «Incest, sodomy and bestiality in the Ancient Near East», in H. A. HOFFNER, Jr., (ed.), Orient and Occident. Essays presented to Cyrus H. Gordon (Alter Orient und Altes Testament 22), Kevelaer, Verlag Butzon & Bercker – Neukirchen-Vluyn, Neukirchener Verlag, 1973, pp. 81-90.

131 Lv 19,19; Dt 22, 9-11.

132 O alcance homossexual do episódio é contestado por Scott MORSCHAUSER, «‘Hospitality’, Hostile and Hostages: On the Legal Background to Genesis 19.1-9», Journal for the Study of the Old Testament 27/4 (2003) 461-485.

133 Conhecem-se duas leis assírias (séc. XII a. C.) que se referem à homossexualidade. Uma delas parece condenar só o parceiro activo a ser ele próprio submetido a um acto de sodomia e castrado; G. CARDASCIA, Les lois assyriennes, Paris, Les Éditions du Cerf, 1969, pp. 133-135.

134 P. J. HARLAND, «Menswear and Womenswear. A Study of Deuteronomy 22:5», The Expository Times 110 (1998-1999) 73-76.