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No segundo volume da sua Teologia, consagrado às tradições proféticas, von Rad reconhece que existe uma ruptura entre a mensagem dos profetas e as ideias correntes no iaveísmo anterior (1). Procurando remediar uma das deficiências da obra mais frequentemente assinaladas, von Rad publicou, dez anos após o segundo volume da Teologia do Antigo Testamento, um estudo especial sobre a Sabedoria em Israel (2). Pode perguntar-se: afinal, von Rad escreveu uma ou três teologias do AT? uma teologia das tradições históricas, outra das tradições proféticas e, finalmente, outra das tradições sapienciais? Mais fundamentalmente: o que escreveu von Rad será teologia ou a história das tradições do AT? (3). A existência de uma pluralidade de teologias no AT tem sido reconhecida, pelo menos de maneira implícita. É prova disso a proliferação dos estudos consagrados à teologia das diferentes partes do AT: J, escritos dtn-dtr, Escola Sacerdotal, profetas ou um livro profético em particular, Salmos, ou grupo de Salmos ou um Salmo determinado, os escritos sapienciais ou um deles em particular, etc. Apesar disso, os exegetas continuaram a usar o singular (teologia) nos títulos dos seus estudos de carácter teológico extensivos ao conjunto do AT. Que eu saiba, Gerstenberger foi o primeiro a romper com essa prática, intitulando a sua síntese na matéria Teologias no Antigo Testamento (4). Neste título devem notar-se não só o plural “Teologias”, em vez do habitual singular, mas também a preposição. Empregando “no”, em vez do habitual “do”, Gerstenberger avisa-nos de que o seu estudo não pretende ser exaustivo. De facto, propõe-se apresentar cinco teologias documentadas no AT, sem excluir que lá existam outras. O autor parte do pressuposto segundo o qual a defesa dos seus interesses levou cada grupo social a criar a sua própria teologia. Daí que ele estude essas teologias numa perspectiva sociológica e histórica. Distingue cinco tipos de sociedade ou grupos sociais aos quais correspondem outras tantas teologias. - “A divindade no círculo da família e do clã” incarna os valores de uma relação pessoal íntima, de um amor incondicional, de igualdade social, de modéstia e de tolerância em relação a outros deuses. - Divindades de uma aldeia ou pequena cidade. Cada aldeia ou pequena cidade tende a afirmar a superioridade do seu deus em relação aos deuses das aldeias ou cidades vizinhas. É o começo das reivindicações de exclusividade e da intolerância. - “Deus e deusa na aliança tribal”. Foi provavelmente neste contexto que apareceu Iavé, assim como a imagem de um deus guerreiro. - Teologias reais em Israel. Os Estados-nação (Israel e Judá) caracterizaram-se pela sucessão dinástica de reis que reivindicavam a legitimação divina, apoiada no culto oficial. Algumas das teologias anteriores devem ter continuado a existir, sendo a sua coexistência ora pacífica ora conflitual. - A Comunidade de fé de ‘Israel’ após as deportações. A sua teologia caracterizou-se pela “intolerância”, meio de auto-afirmação de um grupo minoritário. |
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(1) G. von Rad, Theologie des Alten Testaments. Band II (supra n. 76), p. 17. (2) G. von Rad, Weisheit in Israel, Neukirchen-Vluyn, Neukirchener Verlag 1970. (3) Para o P. de Vaux, « Peut-on écrire une “Théologie de l’Ancien Testament” ? » (supra, n. 79.), p. 65, trata-se de uma “história da religião do Antigo Testamento”. (4) E. S. Gerstenberger,Theologien im AT. Pluralität und Synkretismus alttestamentlichen Gottesglaubens, Stuttgart/Berlin/Köln, W. Kohlhammer, 2001 = Theologies in the Old Testament (Translated by John Bowden), London-New York, T & T Clark, 2002. |
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