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Com efeito, a exegese histórico-crítica propõe-se como objectivo descobrir o sentido original dos textos bíblicos, isto é, o sentido que eles tinham quando foram ditos ou escritos. Além disso, estuda os textos bíblicos como estudaria qualquer outro texto antigo, independentemente do estatuto religioso que lhes reconhecem o cristianismo, o judaísmo e até o islão. Teoricamente, a exegese histórico-crítica não pretende mais nada nem se arroga competência para mais nada. Em concreto, estando inteiramente voltada para a produção dos textos bíblicos, ela não tem nada a dizer sobre o sentido, em particular, sobre o sentido religioso que esses textos possam ter hoje. Ora, para os cristãos – inclusivamente para os cristãos exegetas – a Bíblia é antes de mais a expressão da palavra de Deus que também lhes é dirigida a eles, hoje (1). Sem essa crença, poucos exegetas gastariam tanta energia a estudar a Bíblia de um ponto de vista histórico ou outro. Do ponto de vista cristão, o importante é apropriar-se dos textos bíblicos e do seu sentido. Ora, existe um fosso, sobretudo de ordem cultural, entre os primeiros destinatários desses textos e nós hoje. Por isso, é raro que se possa transpor à letra o sentido de um texto do seu contexto primitivo para o nosso contexto hoje. Em regime cristão, os textos bíblicos terão que ser constantemente actualizados, isto é, adaptados às novas situações. Essa é a tarefa do hermeneuta. A tarefa do exegeta histórico-crítico deverá ser seguida e completada pela tarefa do hermeneuta. Teoricamente, a mesma pessoa pode acumular os papéis de exegeta e hermeneuta. A experiência mostra que, raramente, a mesma pessoa reune as competências requeridas para executar as duas tarefas. Em geral, elas são exercidas por pessoas diferentes, entre as quais a colaboração nem sempre é fácil. Os exegetas histórico-críticos queixam-se de que os teólogos e os pastores não têm em conta os resultados dos estudos exegéticos, em particular, de que simplificam, abusivamente, a complexidade dos ditos resultados. Os teólogos e os pastores dão-lhes o troco denunciando a inutilidade teológica e pastoral de boa parte dos estudos exegéticos. Entretanto, vão-se servindo ao povo vulgarizações, amiúde ultrapassadas e bastante simplistas, dos resultados da exegese histórico-crítica. |
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(1) Que eu saiba, no mundo católico um dos primeiros que reflectiu sobre essas questões foi F. Dreyfus numa série de artigos publicados entre 1975 e 1979: «Exégèse en Sorbonne, exégèse en Église», RB 82 (1975) 321-359; «L’actualisation à l’intérieur de la Bible»«, RB 83 (1976) 161-202; «L'actualisation de l’Écriture. 1. – Du texte à la vie», RB 86 (1979) 5-58. «2. - L’action de l’Esprit», RB 86 (1979) 161-193. «3. – La place de la tradition», RB 86 (1979) 321-384. | ||||||||||
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