Cadernos do ISTA . número 17
A verdade em processo

 

OS ESTUDOS BÍBLICOS HOJE:
Pluralidade dos métodos,
das abordagens e dos resultados

FRANCOLINO J. GONÇALVES

École Biblique et Archéologique Française . Jerusalém

 

3. O corpus profético de Mari

Conhece-se a existência do fenómeno profético fora de Israel e de Judá desde há mais de um século. Algumas das profecias neo-assírias do tempo de Assaradão (681- 669 a. C.) e Assurbanípal (669- 629 a. C.) foram publicadas em 1878.

O episódio profético de Biblos contado por Wen-Amon é conhecido desde 1899 (1); a estela de Zakkur, rei de Hamat e Lu‘axe (começo do séc. VIII a. C.), desde 1908 (2). Talvez por serem bastante fragmentárias, essas informações não influenciaram muito os estudos sobre os profetas bíblicos. A situação talvez mude com a descoberta do corpus profético de Mari. Lods parece ter sido o primeiro a reconhecer o fenómeno profético nos arquivos reais encontrados em Mari. Tornou pública a sua descoberta num artigo publicado em 1950, mas que escrevera quatro anos antes (3). Desde então, o corpus profético de Mari engrossou muito. Depois do corpus profético bíblico, é o mais abundante e o mais variado que se conhece (4). Constituído por peças de arquivo que se estendem por um período de 14 anos, de 1775- 1761 a. C., o corpus profético de Mari é sem dúvida a melhor colecção de documentos sobre a realidade do profetismo semítico ocidental de que se dispõe. A sua descoberta contribuiu para despertar o interesse pelos outros profetismos que se conheciam. Apesar da distância geográfica e cronológica, o corpus profético de Mari é, na minha opinião, de uma grande pertinência para a compreensão da realidade histórica do profetismo hebraico. O facto não foi ainda suficientemente reconhecido pelos biblistas.

 

(1) W. Golénischeff, Papyrus hiératique de la collection Golénischeff contenant la description du voyage de l’égyptien Ounou-Amon en Phénicie, Recueil de travaux relatifs à la philologie et à l’archéologie égyptiennes et assyriennes, Paris, Librairie Émile Bouillon, 1899, pp. 74-102.

(2) H. Pognon, Inscriptions sémitiques de Syrie, de la Mésopotamie et de la région de Mossoul, Paris, 1908, pp. 156-178.

(3) A . Lods, «Une tablette inédite, intéressante pour l’histoire ancienne du prophétisme sémitique», em H. H. R owley (ed.), Studies in Old Testament Prophecy Presented to Professor Theodore H. Robinson, Edinburgh, T & T Clark, 1950, pp. 103-110.

(3) J.-M. Durand,Archives épistolaires de Mari I/1 (ARM XXVI/1), Paris, Recherche sur les civilisations, 1988.

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