Cadernos do ISTA . número 17
A verdade em processo

 

Editorial
José Augusto Mourão

 
O ISTA – Instituto S. Tomás de Aquino – é uma instituição dos Frades Pregadores (Dominicanos) que se dedica ao serviço da reflexão teológica em Portugal. A principal iniciativa promovida pelo ISTA foi o Curso de Verão de Teologia destinado à formação teológica dos cristãos portugueses e realizado ininterruptamente desde a sua criação, em 1954. Nesse ano, obedecendo a necessidades de vária ordem e graças ao cariz profético de alguns dos seus inspiradores – Louis M. Sylvan e Paul Denis – abriu o Curso de Verão de Teologia.

Esta iniciativa foi pioneira no campo sectorial da formação permanente, não só pelo facto de proporcionar a religiosas/os leigos, cursos estruturados para o aprofundamento da fé, mas também pelo que se antecipou na renovação teológica impulsionada pelo Vaticano II. O ISTA não parou no tempo. A teologia continua a ser a sua principal preocupação, mas as suas iniciativas visam o diálogo com a filosofia, a história, as ciências humanas. Acentuando o valor dos encontros interdisciplinares, a sua atenção centra-se nas ideias, pensamentos e investigação que concernem a cultura e a vida humana. Eis um espaço que não quer ser um mero arquivo. A teologia é um labor imparável. Esta semana de estudos visa refazer a crítica do trabalho teológico que se fez, no decurso do Vaticano II, à escala internacional, mas também à escala do país que somos. Isto porque o ISTA, desde a sua fundação há cinquenta anos, para além das tendências por onde a teologia derivava, sempre reflectiu sobre a recepção dessas tendências no espaço da sua prática local. È o conjunto dos textos produzidos no contexto desta celebração que são aqui apresentados.

Um segundo conjunto de textos reporta-nos ao ciclo de conferências que decorreram ao longo de 2004 e que tinha por preocupação a questão da verdade. A verdade é indispensável a qualquer sociedade humana. Mas o tempo não é de feição para se falar da verdade. No “operativismo” nada há a “desocultar” – o esplendor do falso tornou o “autêntico” suspeito de metafísica. O mundo está cheio de Baudolinos à solta, fiados muito mais no espectáculo da sua aparição do que na proferição da verdade. É preciso defender o valor da verdade contra os cépticos pós-modernos, que negam a sua existência, e contra os defensores do bom senso, que a dão por adquirida. Negar alegremente a existência da realidade objectiva e celebrar esta negação é politicamente perigoso e intelectualmente preguiçoso. A verdade não é uma deusa qualquer diante da qual os cientistas se devam ajoelhar. É uma norma que regula a investigação científica, a regra do jogo, diante da qual não temos nem deveres nem obrigações. Porque falam os economistas do “preço da verdade”? A maior parte dos argumentos dos “verifóbicos” são grosseiros “non sequitur” que Platão e Aristóteles estigmatizaram na sua crítica dos sofistas. Onde estão os novos sofistas? Como se maquilha a verdade? Os textos aqui apresentados tentam, cada um à sua maneira, responder a essa questão.

À verdade vai-se intersubjectivamente. Também nos aproximamos dela através da leitura e da reflexão. Que estes textos sejam o bordão que nos leve, pelo menos às cercanias dela.

 

Fr. José Augusto Mourão, op

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